HQs: Batman, O Sombra, Violent Cases

por Adriano Mello Costa

“Batman: Arquivo de Casos Inexplicáveis”, Grant Morrison (Panini)
O que a contínua exposição a produtos químicos pode causar a mente e ao corpo? Foi essa a pergunta que o escocês Grant Morrison articulou antes de começar a escrever o compêndio de histórias que resultaria em “Batman: Descanse em Paz” (“Batman: R.I.P”, 2008), onde o morcego, depois de uma desgastante luta psicológica e física, acaba por sucumbir. Na detalhada e extensa pesquisa que fez para chegar ao último trabalho à frente do personagem que cuidou por um bom tempo, o escritor se aprofundou no período renegado dos anos 50 e 60. “Batman: Arquivo de Casos Inexplicáveis” reúne 12 dessas histórias em edição encadernada com 148 páginas lançada pela Panini Comics em 2013. As tramas datam de 1951 a 1964 e contam com nomes clássicos da época como Bill Finger, Dick Sprang e Charles Paris. Essa fase, parcialmente exposta no álbum, apresenta o morcego participando das histórias mais absurdas possíveis: enfrentando alienígenas, substâncias perversas, terror psicológico e criaturas delirantes, além de adendos ridículos (mas que fizeram sucesso lá atrás) como o Bat-Cão (!) e o Bat-Mirim (!!). Mesmo que ao ler isso atualmente não dê para se apontar muitos méritos é no mínimo interessante ver onde Grant Morrison foi buscar argumentos para a criação, resumindo tudo como se fosse uma espécie de “Arquivo X” próprio do Bruce Wayne.

Nota: 6

“O Sombra – O Fogo da Criação”, Garth Ennis e Aaron Campbell (Mythos Books)
O Sombra é um personagem de quadrinhos criado por Maxwell Grant (pseudônimo do escritor Walter Brown Gibson) que obteve sucesso nos anos 30 e início dos 40, chegando a invadir mídias como o rádio. Mesmo esquecido após esse período, sempre aparecia alguém disposto a revisitar a obra, quer seja nos anos 50 ou nos anos 80, mas logo depois o personagem voltava para um leve ostracismo. Em 2012 foi a vez da editora Dynamite em projeto que ambiciona olhar para trabalhos antigos. Os escolhidos para comandar essa caminhada foram Garth Ennis (“Preacher”, “The Boys”) e Aaron Campbell (“Besouro Verde”), responsáveis pelas primeiras seis edições. “O Sombra – O Fogo da Criação” foi lançado pela Mythos Books no Brasil no final de 2013, mas teve o acesso prejudicado devido a distribuição periclitante. Com 208 páginas, a edição encadernada é elegante e repleta de extras como o roteiro original e artes de capa feita por nomes como Alex Ross, John Cassaday e Howard Chaykin. Na trama, voltamos a 1938, no cenário anterior a Segunda Guerra Mundial, onde Lamont Craston, o abastado cidadão que encarna o Sombra para combater o mal que espreita no coração dos homens, aceita uma missão contra os japoneses atrás de material secreto para ser utilizado na construção da arma invencível. Com arte soturna e repleta de tons escuros, Garth Ennis cria uma aventura de espionagem bem ao seu estilo, com violência e inteligência andando juntas, adicionadas a eventos históricos e um ar de homenagem à época que retrata, dando assim a chance para mais leitores conhecerem esse antigo e conflituoso justiceiro.

Nota: 6,5

“Violent Cases”, de Neil Gaiman e Dave McKean (Editora Aleph)
Falar hoje das qualidades do trabalho de Neil Gaiman e Dave McKean é uma tarefa relativamente tranquila, tendo em vista o que os dois produziram nos últimos 25 anos dentro e fora do mundo dos quadrinhos. No entanto, em 1987, os dois eram jovens e praticamente desconhecidos quando a pequena editora inglesa Escape decidiu apostar em um projeto deles. “Violent Cases” foi publicada originalmente naquele ano e no final de 2014 ganhou uma nova reedição nacional através da Editora Aleph com 64 páginas, formato grande (21,5 x 29 cm) e muitos extras como textos de Neil Gaiman e Alan Moore, por exemplo. A graphic novel tem amplo aspecto biográfico e trata de lembranças de infância, especificamente um atendimento médico efetuado junto a um osteopata que havia durante muito tempo trabalhado para o mafioso Al Capone em Chicago. O roteiro equilibra essas lembranças entre o real e a fantasia e aproveita para sobrepor questões familiares e psicológicas no desenvolvimento, ainda que de modo sucinto. A arte e as cores de Dave Mckean são remasterizadas para esta edição e amplificam assim sua habilidade, mostrando diversas experimentações de estilo e estética, além de atender a função primordial da história. Essa nova publicação de “Violent Cases” tem bastante valor e se torna obrigatória para os fãs de Neil Gaiman, tanto pelo conceito e época, quanto pelo caprichado trabalho editorial.

Nota: 8,5

– Adriano Mello Costa (siga @coisapop no Twitter) e assina o blog de cultura Coisa Pop

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