Entrevista por Bruno Capelas
Fotos por Liliane Callegari
O cantor Wado vive uma situação curiosa. Ao mesmo tempo em que já se diz um veterano, com mais de uma década de bons serviços prestados à música brasileira, o artista lança seu sétimo disco, “Vazio Tropical”, com a ajuda de novos parceiros como Marcelo Camelo e Cícero, e vê seu público se renovar. “Não sou um novo artista, estou no sétimo disco, já sou grisalho, sabe? (risos). Mesmo assim, há lugares aonde vou nos quais sou tratado como promessa. Isso é legal, parece que estou ganhando longevidade, uma prorrogação de carreira”, filosofa o compositor em entrevista ao Scream & Yell.
Disponibilizado a partir do mês de junho na plataforma Rdio (ouça aqui), a partir de uma parceria com o selo Oi Música, que patrocinou o trabalho, “Vazio Tropical” traz uma novidade ao som de Wado. No lugar do balanço e do groove habituais, o alagoano-catarinense aposta em canções delicadas e melancólicas, calcadas em arranjos sutis.
“Há tempos eu acalentava a ideia de fazer um disco só com voz e violão, porque não conseguia encontrar muitas brechas para desenvolver uma proposta melódica e introspectiva nos últimos discos”, explica. Inicialmente idealizado com a produção de Kassin, o novo álbum de Wado começou a tomar sua forma final quando, através de uma sugestão de Cícero, o projeto caiu na mão de Marcelo Camelo.
Amigo de longa data de Wado, o hermano gravou as bases do disco no Rio de Janeiro, e depois se mandou para Portugal, onde costurou “Vazio Tropical” junto de Fred Ferreira, baterista do grupo lusitano Orelha Negra. “É um orgulho ter o melhor compositor da minha geração por perto, e, para mim, é especial ver dois caras que estão na ativa há mais de 10 anos juntos”, comenta o cantor, que, no novo trabalho, faz parcerias com Cícero e regrava canções de MoMo, criando e reativando amizades musicais.
“No meu último disco, o ‘Samba 808’, o clima era de “Wado Convida”, mas agora as colaborações são muito mais próximas, quase como agregados. Sinto uma grande afinidade com todos eles, temos muitos pontos em comum”, explica.
Na entrevista a seguir, realizada na manhã posterior ao show de lançamento de “Vazio Tropical” em São Paulo, no SESC Pompeia, Wado comenta a vitória de melhor canção do VMB 2012, com “Com a Ponta dos Dedos” e fala sobre a decisão de gravar discos com o apoio de editais. “Se fosse para fazer meus discos de outra forma, eu não conseguiria fazer, ou forçaria uma barra fudida. [Não trabalhar dessa maneira] é uma opção que você pode tomar quando tem condições, e eu não tenho”.
Na parte final do papo, Wado desabafa sobre a situação do país, faz um paralelo entre a indústria da canção e do chapéu e reflete sobre a sua condição e a de seus contemporâneos em relação à exposição midiática. “Faço parte de uma geração que está muda. Eu me posiciono, faço músicas políticas, mas não tenho reverberação. Seria justo se as pessoas conhecessem a gente: o Rômulo [Fróes], o Curumin, o Camelo, o Cícero, o SILVA, a Tulipa. Éramos para ser os Lulu Santos de agora – nós não vamos conseguir, porque as coisas são muito mais segmentadas hoje em dia. Mas continuamos buscando isso”, diz.
“Vazio Tropical” é mais um título de disco teu que aponta para um conceito. O que ele representa nesse momento da tua carreira?
Na minha opinião, o nome é mais uma descrição do que propriamente um conceito. É um trabalho que tinha a intenção de ser apenas violão e voz, algo que eu tento fazer há uns três discos. É o meu álbum mais vazio de ritmo, agora é a melodia quem fica à frente. Acho que o nome tem essa descrição porque realmente parece um vazio, mas tem algo ali de samba, de marcha, bem nas entrelinhas.
Ao contrário dos teus trabalhos anteriores, que tem uma pegada forte de instrumentação, parece que o “Vazio Tropical” é um disco que valoriza a canção. É isso mesmo?
É. Quem manda é a melodia, o ritmo saiu do protagonismo do disco. Os arranjos são bem periféricos, imperceptíveis nas primeiras audições, mas depois eles vão sendo mais bem percebidos, como se estivessem ali para alicerçar a canção. É tudo muito delicado.
Sua primeira intenção com esse disco era ter a produção do Kassin, mas a tarefa acabou ficando na mão do Marcelo Camelo. Como é que a história foi de um para o outro?
A ideia era fazer o disco apenas em violão e voz na casa do Kassin. Ele tem uns pré-amplificadores (Rupert) Neve, são máquinas que deixam o som quente, bem bonito. Quando entrou o dinheiro da Oi para fazer o disco, ele sugeriu que a gente fosse fazer um disco de tango na Argentina. Adorei a ideia, mas as agendas não batiam. Na mesma época, o Kassin me apresentou ao Cícero, e um dia o Cícero sugeriu o Camelo como produtor do meu disco. O repertório que eu escolhi para o álbum acabou sendo bastante confortável para o universo do Marcelo, embora a nossa forma de compor seja diferente. Nossa admiração mútua tem muito a ver com isso. O Camelo compõe de forma mais colorida, passeando pelos acordes; eu já sou mais monotônico, mais contido. No “Vazio Tropical”, vejo uma colisão desses universos, que acabam conversando entre si. Para mim isso é muito importante, é um orgulho ter o melhor compositor da minha geração por perto. Acho que o nosso encontro foi bom: não é um acontecimento para a música brasileira, mas é especial para mim, ver dois caras que estão na ativa há mais de 10 anos juntos.
A impressão que eu tive sobre o disco é que ele poderia ser facilmente assinado por Wado & Marcelo Camelo, especialmente pela maneira como a produção é parecida com o “Toque Dela”, do próprio Camelo, e com o “Pitanga”, da Mallu, que ele produziu.
O universo do Marcelo é muito claro, né? Eu nunca faço um disco parecido com o outro, e acho que faz bastante sentido o que você disse. Há dois perfis no disco, então o “Vazio Tropical” poderia ser assinado também por ele.
É possível delimitar onde termina o trabalho do Wado e onde começa o trabalho do Camelo no disco, se é que há essa divisão?
Não. São as minhas canções, com a roupa do Camelo, um traje que veste muito bem essas músicas, por sinal. Mas, assim: o “Vazio Tropical” junta músicas de sete, dez anos atrás e músicas que eu compus há alguns dias. Esse conjunto se formou porque eu não encontrava muitas brechas nos outros discos para desenvolver um trabalho inteiramente melódico, introspectivo. Até mesmo “Cinema Auditivo” (álbum de Wado lançado em 2002), que é um disco singelo, tem muito balanço. Desistir do balanço foi a grande novidade de agora – ele foi para segundo, terceiro ou nenhum plano.
A gravação do disco foi dividida entre o Rio de Janeiro e Portugal, sendo que você não foi à Europa para gravar. Você deu carta branca ao Camelo?
Quando se trabalha com gente que você confia, você tem de fazer esses acordos. Para mim, o “Toque Dela” é um trabalho melhor que o dos Los Hermanos, e eu queria um pouco disso no meu disco. Os Los Hermanos tinham uma coisa dura, racional, da letra inteligente, que o Camelo conseguiu abandonar: ficou mais mole, mais gostoso, mais inteligente, até. Acho que a nossa aproximação vem disso: ambos estamos buscando coisas para trabalhar com o inconsciente na composição. Percebo muito no trabalho dele hoje a ideia de repetir quatro acordes, até que aquilo remeta a uma melodia na cabeça, e as sílabas vão sugerindo as palavras. É uma coisa lenta, mas é bem feita. Acredito que “Toque Dela” é o que os Los Hermanos gostariam de fazer agora, sem a aspereza do começo de carreira deles. Comigo, é a mesma coisa. Meus primeiros discos foram muito verborrágicos, agora meus textos são menores.
“Vazio Tropical” é o teu segundo disco com grande presença de convidados, mas eles aparecem de maneira diferente agora. No “Samba 808” as colaborações eram bastante pontuais, enquanto no “Vazio” essas pessoas participam de fato do disco: há duas músicas antigas do MoMo, há parcerias com ele e o Cícero, além do Camelo, claro. Dá para dizer que você encontrou amigos musicais?
Acho que sim. O MoMo e o Cícero estiveram muito presentes na gravação. O “Samba 808” tem essa coisa quase de ser um “Wado Convida”, que nem aqueles discos da Ivete Sangalo ou do Zeca Pagodinho (risos). O “Vazio” não, pois são pessoas que estavam compondo comigo que também estavam no estúdio, me emprestando instrumentos, me ajudando a fazer as coisas mesmo. Senti uma coisa meio de turma, sabe? Sinto uma afinidade com eles, há muitos pontos comuns nessa turma. São convidados que funcionam quase como agregados – nós até poderíamos ter mais gente no disco, mas o Camelo queria que eu cantasse sozinho também.
Como foi o processo do edital da Oi, que patrocinou o disco?
O processo foi bem pouco burocrático. O projeto já estava aprovado quando a gente entrou, existia apenas a eleição dos artistas que iriam receber a verba. Achei bacana, mesmo com as limitações para artistas independentes. Não poder colocar o disco inteiro para download no site, por exemplo, embaça um pouquinho a minha venda de shows. Em Salvador e no Rio de Janeiro, os dos primeiros shows desse novo disco, as pessoas não estavam cantando tanto as músicas recentes, em comparação com os lançamentos dos trabalhos anteriores. Mas isso é a indústria: a opção de ter o dinheiro para fazer o disco com uma infraestrutura melhor faz com que você tenha uma contrapartida no segundo momento.
“Vazio Tropical” não é o teu primeiro disco gravado com o financiamento de um edital. Como você se sente em relação a isso?
Não tenho problema nenhum. Eu vivo mal pra caralho, cara. Se fosse para fazer meus discos de outra forma, eu não conseguiria fazer. Iniciativa privada? Vish. O Camelo, por exemplo, não gosta de fazer coisas por edital. É uma opção que você pode tomar quando você tem condições, e eu não tenho. Preciso dos editais para viabilizar meus discos. Posso fazer por minha conta, mas aí eu forçaria uma barra fudida, sem pagar meus músicos, fazendo coisas que eu não quero nunca fazer.
A intenção de fazer um disco de violão e voz, que você acalentava há tempos, está relacionada a isso?
Foi cansaço mesmo. Não estou a fim de ficar forçando a barra com músico meu, acho que ninguém merece trabalhar de graça. Violão e voz eu consigo fazer sozinho.
Ter ganho o troféu de Melhor Música no VMB no ano passado com “Com a Ponta dos Dedos” foi importante? Qual foi a repercussão desse prêmio?
Foi bom. É o tipo de coisa que agrega valor na venda do show, e, em longo prazo, te dá respaldo até você conseguir ir adiante. Não foi algo que mudou minha vida completamente, mas ajuda, sabe? Abre uma porta aqui, outra porta ali. É uma pena saber que a MTV está para fechar, especialmente porque agora eles estão com uma programação ótima (nota do editor: após negociações, a MTV passa a ser assumida pela Viacom, virando canal pago, com alterações de grade, mas ainda no ar). Voltando ao VMB, ajudou bastante, mesmo sendo algo que não dê para colocar em números. Para mim, números são flutuantes: sei que tenho focos de público no Brasil, e mesmo isso é algo que oscila muito. À época, a vitória no VMB me ajudou porque eu estava na entressafra de discos, e isso me ajudou a ficar por cima mais um pouco. Agora aprendi uma coisa: você não deve anunciar o disco muito antes do lançamento, porque as pessoas param de ir aos shows. Elas querem ver o show do disco novo. Como o disco demorou pra sair, eu fiquei uns três meses meio fudido. São as lições da vida, né, você tem que tomar cuidado.
Você mora em Alagoas, e, queira ou não queira, Maceió não é um grande centro no país. Profissionalmente, a tua carreira estaria melhor se você estivesse em São Paulo?
Profissionalmente sim, mas tudo vem junto com a vida, não é? Tenho dificuldade de morar em cidade sem mar, e no Rio as coisas são meio sem dinheiro também. Preferi ficar por Maceió mesmo, e é o que tem funcionado até agora. Não fecho as portas, mas teria que rolar um estímulo externo para vir para São Paulo. Se for necessário, se as coisas começaram a esquentar, a gente vem pra cá. Caso contrário, continuo por lá: vivo, pago minhas contas, toco. Está bom assim.
De todos os teus shows que eu vi em São Paulo, o de ontem tinha o público mais caloroso. Você sentiu isso também?
Não sei. No show de lançamento do “Samba 808”, a resposta foi mais imediata, mas ontem foi em maior quantidade. Mas tem uma coisa que eu ainda estou começando a me acostumar: quando o disco é de balanço, a resposta do público é instantânea: você vê um mar de gente, as pessoas pulando em uma onda. É bonito ver isso do palco. Num disco mais melódico, o calor aparece só no final, com o aplauso. A digestão do que é bem aceito não é tão clara para mim. Ontem, o show foi tecnicamente bom para caramba, sem ser frio. Ainda precisamos de ajustes, mas foi super legal – especialmente porque foi um show esgotado.
Ontem, no show, deu para perceber que há uma divisão clara da apresentação em dois momentos: o primeiro tem as músicas do disco novo, e o segundo resgata as canções antigas, sendo bem mais balançado. Como é o trabalho de unir os dois repertórios em uma coisa só?
Isso é algo que está começando a dar liga. Nesses primeiros shows, estamos tocando o disco inteiro, uma coisa que só se faz num primeiro momento. O que achei interessante, de qualquer maneira, é que as pessoas cantavam mais o disco novo do que os anteriores. Claro, o Camelo e o Cícero levam o público deles, e acho que esse público novo conhece o repertório mais recente. Tem muita gente que foi ao show que me conhece de sempre, mas muita gente também só ouviu os dois últimos discos – e para mim isso é legal, dá uma renovada boa.
Senti que havia um público muito novo ontem também.
Tinha muita molecada, especialmente fãs do Cícero. Ele é um cara que vai estourar muito grande no próximo disco, um pop muito bonito e sofisticado, gosto muito do trabalho dele.
Há algum tempo, antes de vencer o VMB e pouco tempo após o lançamento do “Samba 808”, saíram algumas notícias falando sobre você ter a intenção de prestar concurso público. Como foi esse momento? A situação financeira melhorou de lá para cá?
Eu sou jornalista de formação, agora mesmo estou diagramando 15 livros. É a maneira que eu tenho para sobreviver: vida adulta é assim mesmo. Você tem que pagar contas, e viver do jeito que você gosta de viver. Eu posso ser só músico, mas eu só quero ser só músico se eu puder viver bem. Para ficar na penúria eu prefiro fazer outras coisas, tocar só aos finais de semana. Acho que eu nunca vou parar de tocar porque é um negócio que me acompanha há muito tempo, mas a vida taí, né? Não é você que escolhe ser artista, a vida é que escolhe. Tem que ter um pouco de determinação para você conseguir chegar aonde você quer, mas não se pode ficar batendo o nariz na parede toda hora achando que você é um injustiçado. O que você faz tem que ecoar nas outras pessoas, virar bilheteria, uma forma viável de ter uma vida feliz nessa profissão. Acho que eu estou feliz agora, as coisas estão bem. É apertado para qualquer um, viver no Brasil é… [As pessoas falam da] crise na Europa, mas vai viver no Brasil para ver! A gente está longe de estar no primeiro mundo! Por que a música está assim horrível? Porque as classes D e E subiram e trouxeram consigo uma música muito imatura, que acabou sendo comprada pela classe média. Faço parte de uma geração que está muda. As pessoas perguntam: “por que vocês não se posicionam em relação às manifestações?”. A gente não tem nem voz, cara! Eu me posiciono, faço músicas políticas, mas não tenho reverberação. Somos uma geração de compositores massacrada pelas circunstâncias de melhora do Brasil. Há prosperidade, mas há um desajuste: temos uma qualidade fantástica, e em número maior que as anteriores, mas isso não se reverte em número, não chega ao rádio. É uma coisa que o Maurício Bussab, responsável pela distribuidora Tratore, falou outro dia: a canção hoje passa por um processo similar ao da indústria do chapéu. Até os anos 1950, todo mundo usava chapéu. Hoje, ainda tem gente que usa chapéu, ou um boné, não dá para dizer que o chapéu acabou, mas quase. O tipo de canção que a gente faz, que não subestima a inteligência do público, está muito em segundo plano. É legal falar essas coisas de vez em quando, porque às vezes a gente fica muito naquela de “está tudo bem”. Não, não está tudo bem. Tem que melhorar muito. O justo seria se a gente fosse pop, se as pessoas conhecessem a gente: o Rômulo [Fróes], o Wado, o Curumin, o Camelo, o Cícero, o SILVA, a Tulipa. Nós éramos para ser os Lulu Santos de agora – e a gente continua buscando isso.
Mesmo quando há uma exposição maior, ainda é pouco. A exposição maior dos dias de hoje não é comparável à média de vinte anos atrás.
É bem por aí. Não vamos conseguir ser o Lulu Santos de hoje, porque as coisas estão muito mais segmentadas que antes. Mas podia ser melhor do que está agora, porque os veículos de massa ainda existem, e nós não estamos nem nas beiradas.
Para encerrar: o “Vazio Tropical” é um disco triste, mas você está feliz?
Não sei. A felicidade é baseada em momentos, não é? Não acho que o disco seja tão triste assim. Era para ele ser mais triste, mas acabou se tornando um disco bonito. É melancólico, talvez um dos mais melancólicos que eu já fiz, e olha que eu já fiz isso muitas vezes. O “Vazio Tropical” é um disco bonito, contemplativo, maduro. É pop em alguns momentos, mas reflete a idade que eu tenho. Não sou um novo artista, estou no sétimo disco, já sou grisalho, sabe? (risos). Mesmo assim, há lugares aonde vou nos quais sou tratado como promessa. Isso é legal, parece que estou ganhando longevidade, uma prorrogação (risos).
– Bruno Capelas (@noacapelas) é jornalista, escreve para o Scream & Yell desde 2010 e assina o blog Pergunte ao Pop.
Leia também:
– Vídeos: Wado lança “Vazio Tropical” em SP com Camelo, Cícero, Momo e Fafá (aqui)
– “Vazio Tropical”: um disco bonito que, quanto mais se cala, mais fala, por Mac (aqui)
– Confira a galeria completa de fotos do show “Vazio Tropical”, por Liliane Callegari (aqui)
Que entrevista massa. Parabéns, Wado!
Um poeta urbano.
Uma pena que esse pessoal citado por ele não reverbera na grande mídia, e mesmo as pessoas que dizem gostar de musica que não esta no mainstrean tampouco divulgam ou tem ao menos curiosidade pra escuta-los
Bela entrevista,
É paulo, essa galera toda nem existe, na verdade. São uma militância de bairro. A própria tulipa, que é a mais famosa dessa turma, sequer figura no cenário nacional “off-blogs”, se não fossem os tais editais, sescs ou a capilarização pra Europa, Estados Unidos, toda a vida útil dessa geração seria de uns 3 discos, no máximo.
O Wado é um dos que atravessou alguns oceanos pra continuar, por amor à música.
Wado é um grande cara, cada lançamento é uma surpresa e em todas entrevistas que li dele percebi muita sinceridade e um conhecimento muito grande de todas estas coisas que envolvem a música dele e de outras pessoas que amam fazer música.
Eu fico olhando essa entrevista e não tem como não pensar em desistir. Mas desistir é facil, né? Musico independente no Brasil só destaca quem consegue, tem muita gente pra pouca vaga, é assim. Lembro que no Programa Alto Falante tinha isso, nem todo musico independente vai virar, e eles citando bandas como Terminal Guadalupe (que cagou na própria vestimenta) e Cérebro Eletrônico, você tem a banda de quermesse, sabe? Depende muito de cada caso, ele(Wado) agora vive bem, pela primeira vez tem uma gravadora de verdade e pode ver outras coisas, viver bem. É um funil muito péssimo, mas não significa que não pode criar seus meios, tem tanta gente. Fora a questão que precisa ser derrubada do indie brasileiro chegar as paradas com força, acho que falta isso pra virar de vez.
Concordo Fernando, acho que esse pessoal também poderia ter outra postura em relação a programas de auditório e etc, se nos USA, os caras não tem medo de circular no Mainstrean acho que o pessoal daqui poderia deixar um pouco de lado essa síndrome perdedora. já vi muitas bandas e artistas se apresentarem em programas de audiência e se portarem como Ets!!!!!
“Por que a música está assim horrível? Porque as classes D e E subiram e trouxeram consigo uma música muito imatura, que acabou sendo comprada pela classe média.” Sério, mas impliquei com essa opinião do Wado. Acho equivocada e elitista. Independente de ser boa ou ruim, música popular sempre é o reflexo da cultura e educação de um povo, e “povo” engloba todas as classes sociais, de A a Z. Assim, não acho justo colocar a “culpa” nas classes D e E. No mais, também acho que a comparação com Lulu Santos não procede. O fato do Wado e dos artistas que ele menciona não serem campeões de venda ou extremamente populares não se relaciona somente com o momento social e econômico do Brasil, mas pelo fato da música deles ter um caráter mais sofisticado e menos acessível (o que não é nenhum demérito). Acho, por exemplo, que se o Lulu Santos tivesse surgido nos dias de hoje, teria tido um sucesso semelhante ao que teve nos anos 80 e nos anos posteriores (e que ainda tem, na realidade).
Veja as bandas britanicas,tipo o Franz Ferdinand.Era direto no Top of the Pops,que é puro playback.Acho como falei outras vezes,organização empresarial.Deixa na mão de empresário de confiança que é muito melhor,sem medo.Em vez de ficar só deixando musica na internet,procurem os programas,tipo o do Danilo Gentili.Ele é gente boa e gosta de musica boa.
Muito boa entrevista, o disco novo tá ótimo (para não variar). Com certeza dos melhores trabalhos do ano, junto com André Mendes e Apanhador Só (e o bom e velho Tom Zé =). E concordo com o comentário do André Kleinert também. Ia postar justo esse trecho do Wado, que me incomodou. Pensei logo na fonte (ou uma das) em que o próprio Wado e vários outros desta geração bebem para criar seus trabalhos… fonte esta que é (ou era) tachada como “popularesca” e “menor” pela elite brasileira (classe média inclusa), que – em boa parte – tampouco prezava pela erudição musical, convenhamos. Culpabilizar APENAS os mais pobres não me parece correto, posto que quem estuda em escola particular e tem acesso a bons livros e viagem ao exterior deveria ser mais resistente a “lixos musicais” oriundos das camadas mais baixas… ou não. =P “Deveria”, será? O fato das classes A e B ouvirem naldos, anittas, luans santanas, micheís telós (e lerem livros de vampiros vegans e de auto-ajuda) seria culpa exclusivamente da “ascensão” da classe trabalhadora? Não acho. O gosto por música ruim não tem classe social. Kesha, Britney, Milley Cyrus e afins são tão ruins (ou piores) que Anitta, Kelly Key ou Tati Quebra Barraco. Michel Teló foi a “macarena” de 2012 no mundo todo, inclusive em países com baixíssima desigualdade social. Se não fosse funk, axé, sertanejo e pagode de quinta, seria algum outro subgênero de apelo fácil, refrão grudento e letra descerebrada a infestar as rádios, mesmo travestidos de rock, com guitarrinha, look “revoltadinho” e tudo (emos, até outro dia). Cultura de massa, nada mais. Inclusive “massa cheirosa”. =P Essa vagabundalização musical é tendência mundial antiga e acelerada pela “indústria” aqui no Brasil, sim, no início dos 90, do que eu me lembro. Pode incluir nesse balaio o pop água com açúcar de novela, fenômeno teen mexicano, boy bands, girl bands… a fauna é extensa. Mas dizer que as classes C, D e E foram as responsáveis por criar esses “monstros”, influenciando a classe média (coitada..) é atirar no alvo errado. Mirar a consequência e não a causa. E mais: se é para culpar o “zé do mate” por levantar a bola da música popular(esca) – do axé baiano ao funk carioca -, acho melhor começarmos pelos “cânones artísticos” Caetano, Gil, Roberto Carlos…
Elitistazinho de merda.
Cezar, você é um bosta.
De uma outra entrevista em outubro de 2015, aqui mesmo:
Na última entrevista sua para o Scream & Yell, na época do “Vazio Tropical”, você disse algo que gerou polêmica, e que acredito que faltou tato para nós, que deveríamos ter aprofundado a questão ali na hora para tentar entender. Era um trecho em que você dizia: “A gente está longe de estar no primeiro mundo! Por que a música está assim horrível? Porque as classes D e E subiram e trouxeram consigo uma música muito imatura, que acabou sendo comprada pela classe média”…
Realmente, fui bem atacado por isso. Esse lance sobre classe D e E é terminologia de mercado publicitário, e eu não concordo com isso, mas o contexto era sobre um posicionamento de mercado da dita música alternativa, era onde a conversa estava inserida. Acho essa classificação uma coisa horrorosa. O ponto em que eu queria chegar, e talvez por não ter chegado, fui mal interpretado, é que o Brasil vivia um momento de crescimento econômico, mas estava se vendendo como Primeiro Mundo oco. Por que “Passarinho”, do Curumin, não foi a música do ano no Brasil inteiro dois anos atrás? É a música mais linda sei lá desde quando. Quem ouviu “Passarinho” pensou: é o Lulu Santos de 2015, mas não foi massivo. Dai o sertanejo vem e diz: “Eu fui pro barzinho e peguei a mulher”. Tudo na cara, e faz sucesso. (Ou seja, a diferença é que) é preciso ter ferramentas para ler uma metáfora, de entender uma figura de linguagem. A gente ainda tem um longo caminho de estudo, e está construindo as ferramentas para isso. Os 12 anos de PT, para mim, foram muito válidos, e os resultados a gente vai ver… na verdade já está vendo! “Que Horas Ela Volta?”, aquilo ali é o Bolsa Família funcionando, o Bolsa Família deveria se chamar Bolsa Escola. Não tem nada a ver com elitismo. Pô, meus discos são arte periférica, gravo axé, gravo funk carioca, gravo reggaeton, e não faço isso de forma jocosa, respeito muito esses gêneros. Sério mesmo. Não brinco com isso. Tentaram deslocar o meu depoimento prum lugar que não tem nada a ver comigo. Sem contar que, ainda assim, nós temos um Marcelo Jeneci, uma Tulipa, uma Vanessa da Mata, que, de certa forma, são massivos. É um assunto muito delicado, e eu fui mal interpretado.