Exposição: H LÁXIA, Haroldo de Campos


Texto e fotos por Maira Reis

Uma exposição de literatura tem que sempre ser surpreendente. Transformar poesias, palavras, letras em situações visuais e interativas é o mesmo que tentar transformar gastronomia em cinema. O Itaú Cultural e a Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura –, inauguraram (16) a exposição Ocupação Haroldo de Campos – H LÁXIA – que contém oito núcleos distribuídos nos dois ambientes contando, ainda, com uma programação paralela de mesas-redondas, palestras, recitais multimídias e shows musicais até abril.

A instalação no Itaú Cultural é mais bem estruturada, interessante e interativa. Ela é toda realizada sobre a obra-mestra de Haroldo de Campos, “Galáxias”, em que o público pode interagir sobre a múltipla produção de Haroldo de Campos com base em modelos interdisciplinares de publicações como fanzines, hotsites e revistas que aumentam a imersão do público no universo criativo do homenageado.

O primeiro contato visual e físico que o público leitor depara é com um túnel composto de imagens e sons que dialogam (e que muitas vezes confundem o cérebro) com o texto do autor. Este espaço termina em uma antessala em que o visitante poderá deixar a sua voz gravada recitando um poema do escritor, pré-escrito na parede, fazendo assim parte da instalação em exibição. Através desta sala de gravação há acesso a bibliocasa de Haroldo de Campos repleta de livros.


Esta biblioteca do escritor foi iniciada na juventude pelo seu irmão, Augusto de Campos, com mais de 20 mil livros e cresceu em mais de 60 anos. Nesta bibliocasa, o público leitor entende a pluralidade intelectual e poética do autor. Há a demonstração do trabalho de Haroldo ao transcriar “Ilíada”, de Homero, em 1990 acompanhado por Trajano Vieira. Neste período Haroldo teve problemas de saúde considerando a atividade como uma “hometerapia”. Haroldo ainda deu atenção ao poeta italiano Dante em três momentos 1960, 1970, 1980 fazendo as transcrições e as reflexões que as acompanham e estão reunidas em Pedro e Luz na poesia de Dante, de 1998.

A bibliocasa ainda relata a tradução de fragmentos de James Joyce (1962), correspondência de Haroldo e Augusto com Ezra Pound (1953), amizade com Umberto Eco (1609), correspondências com o linguista Roman Jakobson (1966), pioneirismo na tradução da poesia de Octavio Paz – incluindo a gravação de leitura de poesias no Anfiteatro de Convenções da USP em 7 de maio de 1985 por ambos escritores – e  uma leitura panorâmica da poesia de João Cabral Neto (1963). A bibliocasa também possui uma parte interativa com audições, manuscritos e edições de “Galáxias”, a participação de Haroldo em uma leitura desta sua obra no filme “Sermões”, de Julio Bressane, e, para finalizar, gravações musicadas de Edvaldo Santana e Caetano Veloso de poesias deste livro.

A instalação dedicada a Haroldo de Campos na Casa das Rosas é composta por dois andares, focando mais à vida pessoal do escritor. Apresenta sua paixão por gatos e pela sua esposa. Há também poemas musicados pelo próprio autor. O destaque deste espaço é uma instalação com placas acrílicas que percorrer todo o entorno da escada que dá acesso ao segundo pavimento formando várias estrelas.


Como programação paralela a exposição, sábado dia 09 de abril e domingo dia 10 de abril, às 10h, haverá uma atividade multidisciplinar que trabalhará ferramentas, recursos e estratégias de criações-sonoras no Itaú Cultural, realizada por Livio Trangtenberg. No domingo próximo (20), às 17h, na Casa das Rosas haverá uma mesa-redonda com o tema Ocupação Haroldo de Campos – H LÁXIA – com os debatedores Frederico Barbosa, Gênese Andrade, Lívio Trangtenberg e Marcelo Tápia com mediação de Claudiney Ferreira.

A exposição sobre Haroldo de Campos é complexa e cheia de informações interessantes ao público. A parte interativa foi muito bem planejada e concebida, porém sua divisão estrutural foi realizada de maneira incorreta, deixando a sensação de discrepância e desleixo com o espaço de exposição da Casa das Rosas. Parece que os curadores tentaram fazer uma linda e enorme cozinha em um prédio novo e cheio de mantimentos, mas deixaram uma câmera e dois atores em outra cozinha vazia localizada em outro prédio. Transformar gastronomina em cinema tem que ter um cuidado bem maior porque são artes distintas, mas que podem se completarem. Mesmo assim vale a pena ir aos dois lugares, visitar e participar de toda programação desta exposição tão grande e importante.

Serviço
H LAXIA – OCUPAÇÃO HAROLDO DE CAMPOS
Até 10/04 – Entrada gratuita
de ter. a sex., 9h às 20h; sáb., dom. e feriados, 11h às 20h (Itaú Cultural)
de ter. a sáb., 10h às 22h; dom. e feriados, 10h às 18h (Casa das Rosas)
Itaú Cultural, av. Paulista, 149 e Casa das Rosas, av. Paulista, 37

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– Maira Reis é jornalista. Assina o blog Cleopatra Faz Oral e a coluna Tea and Cookie

4 thoughts on “Exposição: H LÁXIA, Haroldo de Campos

  1. “Transformar poesias, palavras, letras em situações visuais e interativas é o mesmo que tentar transformar gastronomia em cinema.”

    Só uma pessoa que não conhece absolutamente nada da obra do Haroldo poderia falar uma coisa dessas, visto que foi isso que ele fez em toda sua produção poética e crítica. Uma busca básica no google por “poesia concreta” ajudaria…

  2. Oi, Tecia. Antes de qualquer coisa, gostaria de lhe fazer 2 perguntas. 1) – Você foi à exposição? 2) – Você leu este meu texto até o final? Parece-me que as respostas são negativas porque se uma pessoa tivesse o mínimo da capacidade de ter executado tais tarefas, com certeza, não teria me deixado tal comentário. Talvez uma ida, de sua pessoa, ao Itaú Cultural seja nobre para que haja seu entendimento do que é uma crítica a uma exposição de um poeta vanguardista (e que poderia ser muito melhor e mais bem explorada).

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