Três discos do Manic Street Preachers

“Forever Delayed”, Manic Street Preachers
por Marcelo Costa
30/11/2002

Como primeira coletânea oficial do Manic Street Preachers, “Forever Delayed” é perfeita, principalmente em se tratando do Brasil, terra em que mais da metade da obra dos galeses permanece inédita (a primeira fase, quando a banda ainda era um quarteto). Assim, canções soberbas como “Motorcycle Emptiness” (de 1992, mas em versão 2002), “Little Baby Nothing” (de 1992 e com o delicioso vocal de Traci Lords em dueto), a porrada “Motown Junk” (primeiro single, independente, em 1992) e pequenas pérolas do álbum “Everything Must Go” (“Australia”, “A Design For Life”, “Kevin Carter”) convivem lado a lado com faixas do multiplatinado “This Is My Truth, Tell My Yours” (“The Everslasting”, “If You Tolerate This Your Childrem Will Be Next”, “You Stole The Sun From My Heart”). Destaque para o single “The Masses Against The Classes”, inédito na discografia da banda. A versão importada ainda traz um segundo CD, com remixes – incluindo as imperdíveis versões orquestradas dos singles do álbum “Everything Musg Go”) e há uma versão em DVD, com 30 clipes e 14 remixes. A edição nacional em CD compila apenas os 18 singles e duas boas inéditas (“Door To The River” e “There By The Grace of God”). Ps. O encarte, encharcado de citações que vão de Antonio Gaudi e Sylvia Plath até Elvis Presley, John Cassevetes e a nota de suicídio de Van Gogh (entre muitos outros), é sublime.

“Lipstick Traces (A Secret History)”, Manic Street Preachers
por Marcelo Costa
25/11/2003

Enquanto não preparam material para um disco novo, o Manics segue abastecendo seus fãs com coletâneas. Na cola de “Forever Delayed”, best of lançado em 2002, surge este “Lipstick Traces”, com o subtítulo de “A Secret History of Manic Street Preachers), álbum duplo que reúne 35 canções esquecidas no baú da banda, entre lados b de singles e raridades. O título “Traços de Batom” e a capa com cores de oncinha remetem ao período em que o grupo surgiu, com visual glitter e som hard rock na cola do Guns’n Roses, principalmente na estreia, com o álbum “Generation Terrorists”, de 1992. De lá pra cá eles alcançaram o estrelato com seu álbum mais lento (“This Is My Truth, Tell My Yours”, de 1998) para renegar o sucesso com as porradas do disco seguinte (“Know Your Enemy”, de 2001). Neste “Lipstick Traces”, todas essas fases são pinçadas e esporros roqueiros convivem com belas canções semi-acústicas. No primeiro CD, destaque para números como “Socialist Serenade” (b-side de “You Stole the Sun from My Heart”) e a pungente “Sepia”, (b-side do single “Kevin Carter”), uma daquelas canções que não se sabe direito o motivo por que ficou do álbum. Já o segundo CD é uma festa de covers. Só o Manics poderia juntar Chuck Berry (“Rock ‘N’ Roll Music”), Nirvana (“Been a Son”) e Wham! (“Last Christmas”). Calma, é só o começo. Ainda há espaço para The Clash (“Train in Vain” e “What’s My Name”), Guns’n Roses (“It’s So Easy”), Happy Mondays (“Wrote for Luck”) e Art Garfunkel (“Bright Eyes”), grande parte em registros (a maioria ao vivo), mas o que realmente vale a pena são as versões para “Raindrops Keep Fallin’ on My Head” (B. J. Thomas), “Can’t Take My Eyes Off You” (The Walker Brothers), “Out of Time” (Rolling Stones) e “Velocity Girl” (Primal Scream) num disco que além de soar um ótimo convite ao mundo obscuro do Manic Street Preachers, mostra que a banda se orgulha dos traços de batom de seu passado.

“Lifeblood”, Manic Street Preachers
Por Jonas Lopes
15/03/2005

Em “1985”, faixa de abertura de “Lifeblood”, o vocalista James Dean Bradfield canta em primeira pessoa a história de um adolescente que descobriu sua voz em 1985. Um rapaz que descobriu o ceticismo de Nietzsche, as canções dos Smiths e percebeu o poder de sua rebeldia. O instrumental da música segue a linha nostálgica da letra. Não fosse pela voz super característica de Bradfield, algum desavisado poderia acreditar que se trata de uma faixa perdida do New Order. A música seguinte, “The Love Of Richard Nixon” lembra algum dos primeiros trabalhos do Duran Duran. E assim são as outras canções. Em seu sétimo álbum, o trio galês esqueceu de vez seu passado hard rock e busca na década de 80 o combustível para seu som. Esta estética oitentista na sonoridade da banda se faz presente através de sintetizadores, efeitos nas vozes, teclados etéreos. Os riffs de “To Repel Ghosts” e “Empty Souls” possuem efeitos dignos do pós-punk, enquanto “A Song For Departure” é tecnopop puro. “Lifeblood” traz uma consistência não vista (ouvida) em um disco dos Manic Street Preachers desde os excelentes “The Holy Bible” (1994) e “Everything Must Go” (1996). Uma de suas principais qualidades, inclusive, é sua curta duração (45 minutos). Quem lembra do irregular e interminável “Know Your Enemy” deve concordar. “Always Never” é a música que mais remete ao som grandioso de “Everything Must Go”. E, ainda no passado, a balada”I Live To Fall Asleep” parece uma homenagem ao ex-guitarrista Richey James, desaparecido há dez anos. “Lifeblood” é pop redondinho e despretensioso. Despretensioso musicalmente, diga-se. Porque os temas das letras continuam sendo os típicos do trio. Revolução, política, alienação, socialismo (os caras até já tocaram em Cuba, para Fidel), anti-imperialismo. Tudo aquilo que os Manics sempre pregaram está explícito em títulos (“Glasnost” e “The Love Of Richard Nixon”) e letras. Em “Empty Souls”, James canta frases como “exposed to a truth we don’t know/collapsing like the Twin Towers”. Talvez seja mais fácil dominar o mundo com os refrãos bacanas do que com a postura engajada.

Leia também:
– Faixa a Faixa: “This Is My Truth, Tell Me Yours”, Manic Street Preachers (aqui)
– Faixa a Faixa: “Know Your Enemy”, Manic Street Preachers (aqui)
– “Send Away The Tigers”, Manic Street Preachers: os melhores dias virão (aqui)
– “Journal For Plague Lovers”, Manic Street Preachers: sonoridade árida (aqui)
– “Postcards from a Young Man”, Manic Street Preachers: chocolate amargo (aqui)
– Vídeo: Três canções do Manic Street Preachers no formato acústico (aqui)
– Vídeo: Três canções do Manic Street Preachers ao vivo em Oslo (aqui)
– Manic Street Preachers ao vivo no Norwegian Wood Festival, Oslo (aqui)

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