Beto Só, Frank Jorge e Nina Becker

Texto: Marcelo Costa
Fotos: Marcelo Costa e Liliane Callegari

Um dos projetos mais interessantes do Itaú Cultural, o Toca Brasil promove desde 2004 uma interessante fusão de estilos e boa música no palco de seu teatro na Avenida Paulista, em São Paulo, cujo foco é a difusão da obra de artistas cujo trabalho é consolidado, mas pouco conhecido do grande público, como é o caso de Beto Só, Frank Jorge e Nina Becker, algumas estrelas desta edição do projeto.

Beto Só é um dos grandes nomes da cena independente brasiliense nos últimos anos. Seus dois discos solo, “Lançando Sinais” (2005) e “Dias Mais Tranqüilos” (2008), trazem uma porção de canções emocionais que vão do amor (“O Tempo Contra Nós”, “Café com Leite”) ao desespero (“O Espaço de Nada”, “Tão Tarde”), e que casaram perfeitamente ao vivo com a formação reduzida da banda, um trio calcado na união do violão com uma guitarra pontuando os arranjos e um violoncelo distribuindo beleza.

Assim, de forma bastante intimista, em marcha lenta e sem bateria, Beto Só apresentou ao público paulistano um show contemplativo, em que a instrumentação estava ali para valorizar a canção sem esconder a letra. Beto Só rasga o peito, brinda com leite e café, sabe que a noite pode nos salvar, que a lua pode nos guardar, e que o nada muitas vezes pode ocupar muito espaço. Elogia gerações (Roberto Carlos, Frank Jorge, Lestics) e emociona.

Frank Jorge subiu ao palco para cantar uma versão de sua “Quando Aconteceu (A Chance)” além de “O Tempo Contra Nós”, de Beto Só, que perdeu um pouco de sua força, desnuda sem o crescente da bateria, mas “O Espaço de Nada” e “Meus Olhos” partiram corações. Olavo e Umberto, do Lestics, surgiram numa versão pungente de “Velho” e o Rei Roberto também foi homenageado com uma cortante versão de “De Tanto Amor” (do mesmo disco de “Detalhes”, “Como Dois e Dois” e “Traumas”), com o cello casando a perfeição com a voz. Um show bonito e especial.

Frank Jorge, por sua vez, colocou a guitarra em primeiro plano e abriu o show com duas cacetadas do disco novo em versões mais roqueiras. Não à toa, “Elvis” e “Obsessão Anos 60” são dois dos grandes destaques de “Três”, terceiro disco solo do ex-Graforréia Xilarmônica, álbum em que Frank assume sua personalidade e se sente à vontade com ela. “Eu sou assim, não tenho culpa”¸ diz a letra de “Elvis”, que na seqüência espeta: “Elvis na fase decadente é melhor do que muita gente”.

Já “Obsessão Anos 60” entra pro rol das grandes canções do cancioneiro do rock gaúcho, com órgão à frente, belos solos de guitarra e uma letra divertidíssima. Do disco novo, outra que faz bonito ao vivo é “Historiadora” (com citação direta de “Irene”, de Caetano), mas os grandes momentos, sem dúvida, surgem quando a Graforréia de alguma forma ressurge no palco (em música e na presença de Alexandre Birk, na bateria). E da-lhe “Nunca Diga” (regravada em seu primeiro disco solo) e “Amigo Punk”, com Beto Só e toda platéia nos vocais.

Ali pelo meio do show, Frank defendeu as versões que Renato e Seus Blue Caps faziam na Jovem Guarda, e mandou uma versão sua nos mesmos moldes transformando “Time To Pretend”, do MGMT, em “Hora de Fingir” (que foi melhor que o show inteiro do MGMT no Tim Festival). Hits do primeiro disco (“Cabelos Cor de Jambo” e “Vou Largar a Jovem Guarda”) também não faltaram. Para o bis, mais Graforréia (“Eu”). E para encerrar uma bela noite, Roberto Carlos, que nunca deve ter pensando que “Amigo” pudesse soar tão barulhenta.

No sábado, com um público excelente lotando até o mezanino do teatro do Itaú Cultural, Nina Becker mostrou sua versão solo que, claro, esbarra na Orquestra Imperial. Com Domenico na bateria e Bartolo no baixo (substituindo a Ricardo Dias Gomes e Marcelo Callado, que estão em turnê com Caetano Veloso), mais Gustavo Benjão e Gabriel Bubu nas guitarras, Nina mostrou canções que devem estar em seu primeiro álbum solo, já pronto, além de algumas curiosidades (velhas e novas).

Musicalmente, Nina parece ainda não ter definido sua persona. Há um pouco de tudo no show: da cantora moleca que deita no palco e balança as pernas quando esquece um trecho de uma letra; da diva de saia justa com pernas cruzadas que canta sério encarando a alma do público; da menina que brinca com o xilofone enquanto os amigos colocam distorção na música. Em alguns momentos, Nina lembra a Rita Lee dos primeiros anos. Em outros, ela parece uma Gal Costa tropicalista acompanhada de guitarristas que fazem a diferença.

Essa montanha russa de sentimentos causa um “sobe e desce” de emoções no show cujo ponto alto são as curiosidades, como a participação de Romulo Fróes tocando violão em uma nova versão de “Astronauta” (Nina canta acompanhada de André Mehmari no álbum de Romulo) e duetando em uma faixa inédita, “Flor Vermelha”, que estará no disco de Nina; ou “Lamour em Prive”, que Nina emprestou do show “Orquestra canta Gainsbourg”; além de números já conhecidos como “Vatapá”, “Estrada do Sol” (repetida desnecessariamente no bis) e “Supermercado do Amor”, hit do álbum da Orquestra Imperial. Nina tem futuro, só precisa descobrir qual.

Leia também:
– “Dias Mais Tranquilos”, de Beto Só, por Marcelo Costa (aqui)
– “Três”, de Frank Jorge, por Marcelo Costa (aqui)
– Nina Becker canta com Romulo Fróes em SP, por Marcelo Costa (aqui)
– Caetano Veloso ao vivo em São Paulo, por Marcelo Costa (aqui)
– Mais fotos dos shows de Beto Só e Frank Jorge aqui, e de Nina Becker aqui

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