Literatura: Em “Sunset Park”, Paul Auster analisa uma geração que sente necessidade constante de se comunicar

por Adriano Costa

É comum que a história de um livro ou de um filme encontre o personagem principal em algum ponto de deslocamento, de mudança. Nesse período, igualmente é comum esse personagem relembrar ou ter narrada a sua vida passada, a fim de justificar os atos atuais e assim legitimar ações e sentimentos. E é assim que se encontra Miles Heller em “Sunset Park”, livro de Paul Auster que a Companhia das Letras publica agora com 280 páginas e tradução de Rubens Figueiredo.

Atualmente com 65 anos e mais de uma dezena de livros publicados, Paul Auster escolhe nesse novo romance passear pelo condado do Brooklyn, em Nova York, um lugar que conhece tão bem. O nome vem de um bairro da região que abriga um número acentuado de imigrantes e que sofreu – como o restante do país – com a crise imobiliária e financeira de 2008, ano onde a trama realmente se desenvolve. A crise, aliás, é uma coadjuvante importante para o contexto geral.

“Num mundo que desmorona, num mundo de ruína econômica e de agruras implacáveis”, como o próprio autor escreve logo no princípio, as pessoas tentam se equilibrar e seguir adiante. Miles Heller entra mais de cabeça nesse mundo quando depois de mais de sete anos sem dar notícias aos pais, acaba retornando a Nova York fugindo de dramas vinculados a paixão que começou a dar sentido novamente a sua amortecida vida, uma jovem garota de nome Pilar.

Essa fuga o direciona para uma casa desbotada e estilhaçada que passa a ocupar junto com outras três pessoas. A invasão tem como cúmplices o velho amigo Bing Nathan, a única pessoa da antiga vida que manteve contato durante os anos, e mais Alice Bergstrom, uma idealista em busca do doutorado, e Elle Brice, uma pintora amargurada que trabalha como corretora de imóveis. Do outro lado estão os pais divorciados, um respeitado proprietário de editora e uma atriz de sucesso.

Em “Sunset Park” nos deparamos com temas tão comuns a Paul Auster, como a solidão das pessoas, no entanto, de modo menos mascarado que em outras oportunidades. Os personagens são solitários em sua maioria, embora estejam em alguns casos envolvidos com várias pessoas. Esse sentimento de isolamento aparece por várias vertentes, sejam elas sociais ou profissionais e se entrelaçam com culpas e uma permanente tensão sexual se escondendo atrás das cortinas.

Desvencilhando individualmente cada indivíduo, o autor cria um território próprio para cada um mostrar suas dores e complicações, sem se esquecer de contrabalançar com a trama coletiva. Essa separação rende passagens sensacionais, como em um capítulo dedicado a Alice Bergstrom onde as dúvidas do relacionamento afetivo forjam uma conexão com o filme “Os Melhores Anos de Nossas Vidas”, um drama do pós-guerra dirigido por William Wyler em 1946.

Mesmo sem ser brilhante, Paul Auster assume em “Sunset Park” que o conceito conhecido como América está esgotado e cutuca o governo com poucas, mas ótimas, frases. Além disso, analisa uma geração que sente necessidade constante de se comunicar sem que isso necessariamente represente acréscimo na vida de alguém. Para a maior parte dos personagens os dias dourados ficaram para trás e os arrependimentos pelos atos praticados não são suficientes para retomar o futuro que um dia fora sonhado.


Clique na imagem para ler um trecho do livro

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– Adriano Mello Costa (siga @coisapop) assina o blog de cultura Coisa Pop

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