Mojo Book 059: “Ghost Stories”, do Dream Syndicate, por Flávio Lozzi

15 anos atrás, Danilo Corci e Ricardo Giassetti decidiram fazer uma pergunta: e se um disco virasse literatura? Nascia a Mojo Books, primeira editora 100% digital do Brasil, que de dezembro de 2006 até dezembro de 2012 explorou de maneira diversificada essa possibilidade, lançando mais de 130 volumes de livros inspirados em discos.

A partir de 2022, o Scream & Yell passou a republicar os livros da Mojo buscando manter o acervo da editora online (enquanto também estivermos online). A ideia é ter toda segunda um livro da Mojo “novo “sobre um disco disponível! E o 59° volume da série (conheça os anteriores  estão aqui) é dedicado a “Ghost Stories”, quarto álbum solo do Dream Syndicate lançado em 1988 antes de hiato que iria durar quase 30 anos.

Formado em Los Angeles, o Dream Syndicate sempre seguiu uma carreira errática. Após a badalação do disco de estreia, “The Days of Wine and Roses” (1982), eles foram contratados pela A&M Records, que os dispensou após o fracasso do segundo álbum, “Medicine Show” (1984). O terceiro, “Out of the Gray” (1986), saiu pela Big Time Records, que faliu – a banda também encerrou as atividades. O vocalista e compositor Steve Wynn reformou o grupo para fazer “Ghost Stories” (1988), e a banda só lançaria um disco novo em 2017. Faça o dowload desse Mojobook em PDF ou leia online aqui.

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Um ano e 153 dias atrás. 21h26.
As lâmpadas que deveriam iluminar a rua estão quebradas. Tudo está escuro. Na minha lembrança sempre esteve escuro. O clima está quente. Pequenas gotas de suor escorrem por minha testa. Toco a campainha da casa. Ele mora sozinho. Ele abre a porta, vestido com uma camisa ridícula
cor de goiaba e sorri. O falso, o puto, o safado.
Durante toda minha internação, reconfortei-me em pensar como seria agradável quebrar todos os dentes da boca dele, mas aí a razão imperava: não seria definitivo, afinal as próteses odontológicas estão cada vez mais aprimoradas. Matá-lo, sim, isto seria definitivo. Quem sabe quebrar todos os dentes da boca dele e depois matá-lo?
Sempre foi minha virtude ser um poço sem fundo de ressentimentos.
Bateu, levou: este é o evangelho do meu credo. Por horas a fio, durante muito tempo, minha única diversão foi imaginar o método de extermínio a ser utilizado: pauladas na cabeça, golpes de faca, tiro, garrote vil, apedrejamento… guilhotina? Opções, opções…
— Oi, J — digo, olhando dentro do líquido viscoso que circula dentro dos globos oculares dele.

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