Faixa a faixa: “Tudo é Eterno, Nada é Para Sempre”, segundo álbum do beatmaker paulistano The Wxlker

introdução por Diego Albuquerque
Faixa a faixa por The Wxlker

“Tudo é Eterno, Nada é Para Sempre” é o segundo álbum do beatmaker paulistano The Wxlker e o que se ouve aqui é uma tentativa de emular a sensação de que algo imoral está acontecendo ao nosso redor. Com influências do jazz, downtempo, trip hop e lo-fi, as 10 faixas do disquinho servem como pano de fundo para segundas ou até terceiras intenções de se recriar aspectos obscuros, do ponto de vista da neutralidade. A mixagem e masterização seguem um padrão saturado, lavado, talvez até intencionalmente desleixado e sujo.

“A escolha de uma roupagem mais reflexiva para a sonoridade passa pelo desejo de se compreender o que mais pode ser feito para que algo seja mais do que eterno”, tenta explicar o beatmaker. “Lembra aquele seu date que foi bom, mas a pessoa nunca mais te ligou e você às vezes se pergunta o motivo, apesar de nunca ter tido um aparente”, complementa o artista.

Com faixas instrumentais criadas a partir de sonhos e que versam a partir de temas como rejeição e existência, “Tudo é Eterno, Nada é Para Sempre” é um álbum lançado num momento extremamente confuso do nosso país e datado para um amanhã que nunca virá, pois viveremos eternamente o caos dos tempos, mesmo que nada seja para sempre. O trabalho é um lançamento do Hominis Canidae REC e está disponível no Bandcamp do selo assim como em todos os portais de streaming. Abaixo, The Wxlker comenta cada canção do disco:

01. Real – Quando esse som foi idealizado, tinha acabado de acordar de um sonho que não teve desfecho. Isso dá uma agonia, porque você sente que algo deveria ter acontecido, mas não aconteceu. Ou será que o desfecho era ser incompleto mesmo? Nunca saberei. E pouco importa. O som tenta ir nesta linha. Como quando você acorda, dorme de novo, sonha, acorda, dorme, acorda. Noite merda de sono, sonhos

2. Em Outra – Rejeitado: apesar do nome, a ideia por trás deste som pouco se relaciona com a sensação de rejeição. A gente se coloca tanto atrás de um sentimento as vezes que fica fácil só falar sobre como nos sentimos quando somos rejeitados. Aqui a proposta é nos colocarmos à frente da rejeição, como quem ativamente rejeita algo e contempla se o rejeitado faria alguma diferença de fato. Possibilidade descartada, nula. Gosto muito dos sintetizadores dessa faixa. Rejeitei várias horas de vida programando o som que queria, inclusive.

03. Zero – O som começa com uma, espero que óbvia, referência a Kanye West e o que ele tem feito com órgãos e corais nos sons dele. Usarei muito a palavra “tentativa” para justificar a patifaria que faço. O zero é o ponto de partida, muitas vezes negligenciado e outras vezes confundido com algo sem valor. O zero no lugar certo pode ser valioso ou uma merda. Perspectiva é o ponto. Seria este um som não-linear?

04. Existência – Existência é conflito. E não estou sendo filosófico, quero dizer que esta faixa quase não entra no álbum. Acho ela conflituosa por soar segura demais. Mas entrou exatamente por isso. Por ser parte da metáfora que é a existência, sendo um misto de conforto e sofrimento, com pitadas de agridoce. Se você gosta de passas no arroz, parabéns. Você entendeu o motivo desta faixa estar aqui…

05. Ponto Final – Nada mais pretensioso do que uma faixa que dá um tom de término justo no meio do trabalho. Sim, isto é minha falsa genialidade a pleno vapor. Ironicamente, foi uma das primeiras faixas terminadas. E a única que fiz com reverb no talo. Combina bem com festas de formatura e despedidas ao vento.

6. (c) oração – Para o bom entendedor, esta faixa vai te remeter a algo bem específico. E o nome da faixa não vai sugerir absolutamente nada a este respeito. Aliás, o contrário. Mesmo porque a poesia é a ambiguidade, a dissonância e a semelhança com trilha sonora de fase aquática de jogo de Super Nintendo. Tendo a acreditar que esta é uma das faixas que melhor capta a ideia do álbum como um todo, porque condensa justamente todos os elementos que idealizam o projeto.

07. Referente a Mim – Um começo arrastado, forçado, talvez cansado e com uma virada que talvez todo mundo já esperava. Eu gosto desse som porque é previsível. Lembra do que disse no som anterior? Também remete a algo específico? Se sim, lamento muito, sua mente funciona como a minha, o que, com certeza, soa ofensivo e desagradável.

08. Mais uma Tentativa – Talvez mais um som complexo, talvez as ideias se percam em algo que potencialmente poderia ter sido melhor. Este som poderia ter sido diferente. Por isso se encaixa como uma luva na proposta do projeto. O quase deixa o som completo. Expectativas não são dos outros, são nossas mesmo. E o que fazer com elas? Pergunte a si mesmo.

09. Importância – O som mais medíocre do álbum. Não por menos, com o nome de existência, que pra mim, automaticamente remete a ideia de mediocridade. Não tô querendo pagar de sábio misândrico ou de quem acha que manja muito. Mediocridade pode ser bom. Não é melhor que nada e pode ainda ser ruim, mas tá na média. Fui convencido a fórceps de que seria um bom som para o release. Acho que poucos sons deste trabalho funcionam bem sozinhos. Este não é um bom exemplo.

10. Mostra – A dissonância constante deste som é o que torna tudo tão interessante. A percussão talvez seja uma das minhas favoritas de todo o álbum. O verbo mostrar é fascinante. É a faixa favorita de muitas pessoas para quem mostrei anteriormente e por isso decidi que seria a última. Já que o costume não é ouvir o álbum inteiro, acho que o melhor lugar é este. Se é para ser supostamente eterno, que apenas alguns a ouçam.

Capa de “Tudo é Eterno, Nada é Para Sempre”, de The Wxlker

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