Ao vivo: Numa noite fria em São Paulo, um quente Iron Maiden deixou os fãs (mais uma vez) felizes com um grande show

texto por Paulo Pontes
fotos por Fernando Yokota

Escalados para abrir a noite em São Paulo, o Avatar — que alguns presentes chamaram de “Teatro Magico do metal” — até tentou agradar a legião de fãs que aguardava ansiosamente a “Donzela”. Os músicos têm boa presença de palco, algumas músicas, em estúdio, são interessantes e o visual é bacana. Entretanto, a qualidade do som prejudicou a performance dos suecos.

Entre os problemas, dois se sobressaíram: a voz do vocalista Johannes Eckerström quase não saía pelo sistema de som e os telões permaneceram desligados durante toda a apresentação. Uma pena. Mas é preciso destacar a vontade e a energia dos músicos no palco: sabemos que não é fácil abrir para uma banda como o Iron Maiden.

Talvez a proposta sonora/ visual dos caras funcione muito melhor em espaços menores, com direito a todos os devidos cuidados de produção. Quem sabe em outra oportunidade. Esta primeira, infelizmente, não foi das melhores.

Após o encerramento da apresentação da banda, com a boa “Smells Like A Freak Show”, começaram os preparativos da equipe técnica para a grande estrela da noite. Foi necessário até mesmo uma bela passada de rodo para tirar água do palco. A chuva não veio forte, pouco molhou a plateia, mas, somada ao vento — que deixava o clima ainda mais frio (a temperatura chegou a 12°C) —, a garoa fina foi suficiente para dar trabalho à equipe.

Quando “Doctor Doctor”, do UFO, saiu pelos alto falantes, geral foi à loucura. Sinal de que Steve Harris, Dave Murray, Adrian Smith, Bruce Dickinson, Nicko McBrain e Janick Gers estavam chegando.

Falar sobre a decoração de palco e os cenários utilizados nas turnês do Maiden, sempre grandiosos, é chover no molhado, mas vale destacar aqui o quão belo é o cenário presente nas três primeiras faixas da “Legacy of the Beast Tour ‘22”, músicas do último disco da banda. São elas: “Senjutsu”, “Stratego”, com direito à primeira aparição do mascote Eddie, e a excelente “The Writing on the Wall”. Esta última é daquelas que vai permanecer por muito tempo no repertório dos ingleses.

É no mínimo ousada a escolha do Iron Maiden em iniciar os shows dessa turnê com três músicas de “Senjutsu” (2021). Muitos podem reclamar, falar que a banda começou morna, mas, verdade seja dita: tem que ter muita atitude e confiança para fazer isso, sem falar que as faixas são excelentes. Particularmente, gostaria de assistir a um show com o disco na íntegra.

Na sequência, o primeiro grande clássico: “Revelations”, do álbum “Piece of Mind” (1983). Essa realmente levantou o público, que ainda estava morno nas três anteriores. Em seguida, Bruce se dirigiu aos fãs: “Nós costumamos vir ao Brasil e está sempre ensolarado e calor…e definitivamente não está assim desta vez. O clima pode mudar, mas foda-se o clima. O que importa são as pessoas. Pessoas podem mudar, mas ficamos felizes que vocês de São Paulo não mudam. Somos como uma grande família. E faz três anos que não nos víamos. Hoje, somos todos irmãos”. Era o momento de “Blood Brothers”, única faixa do sensacional “Brave New World” (2000) executada na atual tour.

A partir daí, nada que quem esteve no show do Iron Maiden em 2019 não tivesse presenciado. Mas não pense que isso foi ruim, longe disso. Pelo menos para quem adora o som da banda. Clássico atrás de clássico.

Se “Sign of the Cross”, para alguns, poderia ter cedido espaço para no mínimo outras duas, o mesmo não pode ser dito sobre “Flight of Icarus”, que além de funcionar muito bem ao vivo ainda conta com uma performance visual arrebatadora, guiada pelo já conhecido lança-chamas de Bruce.

Antes do primeiro bis da noite, uma sequência com quatro músicas de tirar o fôlego: “Fear of the Dark”, “Hallowed Be Thy Name”, “The Number of the Beast” e “Iron Maiden”. Ou seja, uma verdadeira lista com alguns dos maiores clássicos da história do heavy metal mundial. Todos executados com maestria. As três últimas músicas estão presentes no setlist de todos os shows do Iron Maiden desde 1985. É mais do mesmo? Sim! Mas é maravilhoso. Incrível como os integrantes da banda ainda rendem muito no palco, principalmente Bruce Dickinson. Uma aula.

O bis teve direito à segunda aparição de Eddie, agora para um duelo de espadas com Bruce em “The Trooper”, que abriu caminho para “The Clansman”, a segunda da fase Blaze Bayley, e a clássica “Run To The Hills”.

Mais uma breve pausa e eis que a banda ressurge para encerrar o show da forma como começou o de 2019, lá em cima: com uma enorme réplica de um caça Supermarine Spitfire utilizado pelas tropas britânicas na Segunda Guerra Mundial suspensa no palco e com uma entrega gigantesca de Bruce Dickinson, Steve Harris, Dave Murray, Adrian Smith, Nicko McBrain e Janick Gers em “Aces High”. O saldo foi uma banda quente, com mais alguns bons anos pela frente, uma noite fria e um público extremamente feliz. Up the Irons!

– Paulo Pontes é colaborador do Whiplash, assina a Kontratak Kultural e escreve de rock, hard rock e metal no Scream & Yell. É autor do livro “A Arte de Narrar Vidas: histórias além dos biografados“.
– Fernando Yokota é fotógrafo de shows e de rua. Conheça seu trabalho: http://fernandoyokota.com.br/

2 thoughts on “Ao vivo: Numa noite fria em São Paulo, um quente Iron Maiden deixou os fãs (mais uma vez) felizes com um grande show

  1. Cheguei a não reparar direito que o texto não era do cumpadi Marcelo e estranhei…iron maiden? Depois vi que não era. Iron maiden já se estabeleceu como uma das mais fodas da história.

    1. Hehe, a gente cobriu a turnê deles em Porto Alegre (com o Homero) e São Paulo (com o próprio Paulo) em 2019 também. Tem um texto de uns 15 anos atrás perdido aqui no site em que conto da minha relação com eles.

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