Três discos: Orla Gartland, Macie Stewart, MONO

por Gab Piumbato

“Woman On The Internet”, Orla Gartland (New Friends Limited)
Ela não é a única nem a melhor, apenas mais uma. E a coleção de canções para o disco “Woman On The Internet” não faz com que saibamos afinal quem é Orla Gartland. Os homens são de Marte, as mulheres são de Vênus e vai ser difícil fugir de generalizações desse tipo. Dublinense que se mudou para o Reino Unido, Orla faz um pop-indie tão divertido quanto esquecível. O disco é muito bem produzido, as canções são corretinhas, e “as coisas que ela aprendeu” não parecem muito aconselháveis (“Say what’s on your mind, every single time, don’t regret it”?) – a propósito, Orla tem 26 anos. Porém, para quem se gaba de ter sido criada na internet, a sinceridade não passa de ingenuidade e o cinismo já viu momentos melhores na sua timeline.

Nota 6

Ouça: Spotify, Bandcamp, Youtube

“Mouth Full of Glass”, Macie Stewart (Orindal Records)
Pode desenrolar o fio do fone-de-ouvido: para mergulhar na beleza das composições de Macie Stewart, você vai querer um espaço só seu, sem distrações. Ela faz parte da banda OHMME, com Sima Cunningham e Matt Carroll. Os artistas com os quais já saiu em turnê dão uma pista do som: Jeff Tweedy, The Ophelias, Iron & Wine… Na fronteira entre o folk barroco e o experimental avant-garde, o que Macie Stewart tem a oferecer são dedilhados no violão com aqueles slides em que ouvimos a pele das pontas dos dedos se arrastar pelas cordas de aço (“Finnaly”). E backing vocals e overdubs celestiais que podem deixar o ouvinte “preso no espelho de novo”. Se às vezes lembra a Grouper dos momentos mais intimistas, ela também sabe se aproveitar da turma do sopro (trompa, saxofone, corneta). O talento dessa multi-instrumentista (piano, violino, violão, guitarra) aparece em cada faixa, na dinâmica dos arranjos e na exploração vocal dos sentimentos de pertencimento e alienação. Macie Stewart testa positivo para pelinhos do braço arrepiados.

Nota 8,5

Ouça: Spotify, Bandcamp, Youtube

“Pilgrimage of the Soul”, MONO (Pelagic Records)
Mais de dez álbums, duas décadas de carreira e os japoneses do Mono continuam com todo o gás. Neste disco, uma celebração da própria carreira, semelhante à peregrinação do personagem principal de “O Alquimista” (sim, do Paulo Coelho), o quarteto superou os entraves da pandemia para gravar as oito faixas no estúdio de Steve Albini em Chicago. Apesar de não ter os mesmos holofotes que outras bandas do gênero post-rock, o Mono não fica a dever nada a nenhum de seus pares. O resultado dessa peregrinação é uma violência incomum em sua discografia. Há acenos para William Blake nas duas canções finais (“Hold Infinity In The Palm Of Your Hand” e “And Eternity In An Hour”), a catarse esperada dessa tentativa de expressar a alma em sons musicais. A beleza agressiva da massa sonora é a própria vitória, mas não despreze os momentos mais delicados, como o piano de “Heaven In A Wild Flower”. Para ouvir a todo o volume.

Nota 9

Ouça: Spotify, Bandcamp, Youtube

– Gab Piumbato é jornalista e autor da melhor discografia comentada de Bob Dylan em português (aqui)

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