Estreia da Tom Bloch chega, enfim, ao digital e embala comemorações de 20 anos

Porto Alegre, 20/01/20

Quando o primeiro álbum da banda foi lançado, arquivos de mp3 já circulavam. Mas era o formato físico, em CD, que dominava. Streaming ainda não existia e demoraria muito para chegar.

E assim a estréia da Tom Bloch, destaque da cena independente dos anos 2000, acabou “confinada” ao acervo da Trama – gravadora que lançou o disco e que já encerrou suas atividades.

Agora, para festejar os 20 anos da banda, e graças ao interesse da SLAP (selo pelo qual a banda lançou seu segundo album – “2”, de 2008, já disponível no digital) o disco “#1” finalmente volta a cena.

Uma mistura de pop, rock, mpb e eletrônica, o album homônimo da Tom Bloch ainda surpreende. Moderno e fora do seu tempo, o álbum é composto por 12 faixas originais e 1 cover – “Fala” dos Secos e Molhados, que foi trilha da minissérie “Som e Fúria”, de Fernando Meirelles, exibida pela Rede Globo.

Além da sonoridade sofisticada e fortemente urbana, a banda sempre chamou atenção pela qualidade das letras – quase todas do vocalista Pedro Verissimo, não por acaso filho e neto de escritores (os grandes Luis Fernando e Erico Verissimo).

O álbum foi produzido por Charles “Cholly” Di Pinto, Iuri Freiberger e Pedro Verissimo, se utilizando das tecnologias de gravação que recém começavam a aparecer e se tornar acessíveis na época – programas de computador como o Logic que permitiam fazer caseiramente o que antes só era possível em estúdios profissionais.

Da gravação participaram Iuri Freiberger na bateria, Guilherme “Sapo” Dable nos baixos, Gustavo Mini e Juliano Faerman nas guitarras, Pedro Verissimo nos vocais, entre outros. A mixagem é de Iuri Freiberger e Alex Chickoski. Abaixo, Pedro relembra esse período:

por Pedro Verissimo

Tudo começa em 1999 quando o Charles ‘Cholly’ Di Pinto, amigo de adolescência, volta dos EUA e traz com ele uma coisa incrível: um estúdio de gravação dentro do PC! Se ter computador em casa ainda não era a coisa mais comum do mundo, imagina um programa que podia substituir (e com muito mais recursos) as gravações em estúdio?

No Logic podia se picotar sons, fazer colagens, experimentar a vontade sem pagar por hora e sem nenhuma grande pretensão prática – o que certamente acabou nos dando a possibilidade de voos bem mais pretensiosos musicalmente… mas tudo era experimentação e (muita) diversão.

Não havia banda ainda. Só amigos com quem tocava de vez em quando. Na cabeça eu tinha uns pedaços do que viria a ser ‘Nossa Senhora’ e, a medida que íamos gravando, eu ia chamando esses amigos pra ajudar.

Precisava de um baixo e chamei o Guilherme ‘Sapo’ Dable; pra guitarra chamei o Gustavo Mini (que já tinha os Walverdes “a sério”, mas era desses amigos de tocar de brincadeira), bateria veio o Iuri Freiberger… e assim por diante. Enquanto gravávamos o que seria o primeiro single da “Demo Deluxe” (2000), a Tom Bloch foi se formando.

Ao invés de montar uma banda, compor, ensaiar, se apresentar e só daí entrar em estúdio, acabamos fazendo o caminho totalmente inverso: primeiro gravamos, depois montamos a banda, daí produzimos o clipe de ‘Nossa Senhora’ e só depois, no lançamento da “Demo Deluxe” e do clipe, é que fomos fazer o nosso primeiríssimo show juntos.

Foi esse show de lançamento da “Demo” que marcou os 20 anos comemorados no último dia 25 de novembro. E acho que esses caminhos inversos e pouco usuais acabaram marcando a banda pra sempre.

O primeiro álbum foi a consequência direta dos resultados dessa demo. Não só ela acabou sendo muito melhor do que a gente imaginava que poderia ser, como a repercussão também foi muito maior.

O clipe de ‘Nossa Senhora’ acabou concorrendo ao VMB de 2000, toda a cena daquele momento em Porto Alegre era muito animadora – Bidê ou Balde surgindo, Video Hits também… todos os amigos em ação e com muita gente prestando atenção, tudo nos empurrando a levar aquela brincadeira mais a sério.

E entramos de novo, quase no mesmo esquema da “Demo Deluxe”, no estúdio caseiro do Cholly. Dessa vez com mais pretensões e mais músicas. Algumas, para não perder o hábito, sendo finalizadas enquanto a gravação já acontecia.

Eu sempre fui um compositor relutante, lembro do meu pânico quando o Mini resolveu se dedicar integralmente aos Walverdes e saiu da banda. Quem iria compor agora? O Mini compõe com muita facilidade, sempre admirei isso. Compor pra mim era, e segue sendo, tudo menos fácil. Mas era compor ou deixar a banda pra lá.

E começamos a gravar exatamente o número de músicas que tínhamos na manga. E nenhuma a mais. Mas o processo de gravar e produzir era tão bom, me entusiasmava tanto, que compor para poder fazer isso acabou sendo um problema menor. O álbum foi produzido por mim, pelo Cholly e pelo Iuri – que assumiu 100% a parte final da gravação quando o Cholly decidiu voltar pros EUA por um tempo.

Com o álbum pronto, o Miranda nos levou para a Trama, que acabou lançando o trabalho. Ele sempre foi um grande incentivador e um dos caras que melhor nos definiu: ele dizia que o problema e a sorte da Tom Bloch era não ter turma. Uma banda sem par, meio difícil de classificar mesmo entre as bandas amigas e que se apresentavam sempre conosco – como as já citadas Bidê e Video Hits.

Quando foi lançado em 2003, essa mistura de pop, rock, mpb e eletrônica circulou bastante em MP3 também. Só que acabou sumindo de circulação com o fim da gravadora Trama e com o tempo que acabamos dando depois do segundo álbum – que foi lançado pela SLAP logo na virada do disco físico pro virtual. Streaming chegou depois.

Esse acerto com a SLAP vai fazer com que pela primeira vez o álbum “#1” esteja realmente disponível nas plataformas digitais (o segundo a SLAP já havia disponibilizado). Uma banda sem turma e um pouco fora do seu tempo… o que quer que isso queira dizer agora.

Leia também:
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