Boteco: Mais cinco cervejas do clube Wäls MadLab

por Marcelo Costa

Abrindo mais um sequencia de Wäls do clube MadLab com a minha 18ª da série (só perdi a Petroleum Barrel Aged Bourbon, uma pena), se a minha conta não estiver equivocada. Trata-se da Duchesse D’Or, garrafa referente ao mês de janeiro de 2018 do clube, uma Belgian Golden Strong Ale nascida de uma blend de uma cerveja nova com outra que maturou alguns meses em barris que antes abrigaram Bourbon. Há, ainda, adição de extrato de abacaxi e de amêndoas. De coloração âmbar clara levemente turva com creme branco de boa formação e média retenção, a Wäls MadLab Duchesse D’or exibe um aroma bastante amadeirado, com carvalho americano em destaque (mas pouco Bourbon) além de frutado, caramelo e leve vinagre. Na boca, o carvalho aparece, mas cede destaque a um toque suavemente avinagrado, que rouba a cena já no primeiro toque. O abacaxi surge na sequencia, sutil, entre o amadeirado. A textura é sedosa com picância e percepção intensa dos 7% de álcool sobre a língua. Dai pra frente, uma cerveja tortinha, com todas as características de uma linha experimental, mas que foge do padrão tradicional da casa. No final, carvalho, abacaxi e avinagrado bem leve, um trio que retorna suave no retrogosto, marcante. Boa!

Mais uma MadLab, edição de março de 2018 do clube, a Elite B.A. é uma Belgian Dubbel que maturou 12 meses em duas barricas de carvalho francês de primeiro uso: uma de madeira Light Medium Toasted (LMT) e outra Noisette, a mesma madeira, mas de tosta diferente. O resultado é uma cerveja de coloração âmbar escura (tradicional de Dubbel) com creme bege claro de média formação e retenção. No nariz, o blend das duas barricas é bem sutil, decepcionando numa receita já premiada da Wäls (e que ganhou uma versão excelente, a Victorius Dubbel, numa colab com a Anderson Valley). O frutado tradicional soa até um pouco mais apagado tentando dar espaço à madeira, que não o ocupa. Na boca, doçura frutada, leve azedumezinho e um toque de madeira, ainda sútil, e tudo junto no primeiro toque. Na sequencia, doçura frutada (calda de ameixa) e um pouco de madeira. A textura é sedosa e picante (percepção de álcool, 7.5% apenas, mas também pode ser de levedura). Dai pra frente, um conjunto ok, mas que não surpreende pelo fato de ser uma Barrel Aged devido a falta complexidade. O final traz ameixa e leve picância. No retrogosto, ameixa, tosta, madeira sutil.

Lançada no clube Wäls MadLab em novembro de 2017, a Copper Oak é uma American Barley Wine com lúpulos Chinook, Citra e Hallertau Blanc e adição de lascas de carvalho francês, cardamomo e coentro durante a fervura, seguidos de uma segunda adição de madeira jovem logo no início da fermentação. O resultado é uma cerveja de coloração âmbar caramelada turva com creme bege de boa formação e longa permanência, com direito a rendas ao redor da taça. No nariz, caramelo em destaque com cítrico, herbal, cardamomo e algo que remete a gengibre (provavelmente o próprio cardamomo) e especiarias além de madeira bem leve. Na boca, a pegada cítrica dos lúpulos consegue enfrentar o caramelo de igual para igual no primeiro toque, mas perde terreno na sequencia, com a doçura ainda trazendo consigo toffee e os agressivos 11% de álcool. A textura é meladíssima e também picante, da lupulagem e do álcool. Dai pra frente surge um conjunto que, num teste cego, poderia passar por uma Imperial IPA, visto que condimentos pouco interferem e a madeira, como na anterior, surge mais presente no retrogosto do retrogosto, mas pouco acrescenta de percepção no trajeto. No final, mel e cítrico. Já o retrogosto reforça a ideia de mel e cítrico com presença de cardamomo e madeira distantes.

A quarta MadLab é a Black Tripel Peppers, receita do cervejeiro Célio Gutstein, da Wäls, uma Belgian Dark Strong Ale produzida em seu próprio laboratório cervejeiro pessoal com várias particularidades: a receita recebe adição de laranja doce, laranja amarga, cardamomo, semente de cacau e amêndoas na fervura além de cacau em pó e um blend de extrato a quente de pimentas mexicanas na maturação. Junto a tudo isso, lúpulos Columbus, Perle e Mandarina e maltes Pilsen, Carared, Caramunich, Carafa II e III. Na taça, a Black Tripel Peppers exibe uma coloração âmbar escura com creme bege claro de boa formação e retenção. No aroma, frutas secas, amêndoas, um pouco de figo e percepção suave de cacau se destacam, com as especiarias surgindo levemente aqui e ali (dentre esses, cardamomo parece mais presente). Na boca, frutas escuras e doçura mais presentes no primeiro toque, mas com as pimentas já presentes e aumentando a intensidade, suavemente, conforme o paladar se acostuma ao conjunto – ou seja, é um aquecimento gradual. A textura começa seca, vai ficando sedosa e bem picante. Dai pra frente, doçura de açúcar mascavo, picancia tanto de pimenta quanto dos 11.7% de álcool, condimentos suaves (até demais pela quantidade) e final seco e picante. No retrogosto, calor (de pimenta e álcool), condimentação e frutas escuras. Interessante.

Fechando o quinteto com minha 22ª Wäls MadLab, a Coconut RIS, uma Russian Imperial Stout que leva adição de coco ralado e foi oferecida ao clube em dezembro de 2017. De coloração marrom bastante escura, praticamente preta, e com creme bege escuro espesso de excelente formação e longa retenção, a Wäls MadLab Coconut RIS exibe um aroma com destaque imenso para o coco ralado sobre uma base intensa de chocolate, café e malte torrado, além de sugestão distante de madeira. Na boca, doçura de chocolate (mais para ao leite do que para amargo) com início de amargor de torra no primeiro toque, intensificado logo na sequencia alcançando 85 IBUs de responsa, que chegam de maneira impactante, mas amaciam no decorrer do caminho. A textura, como era de se esperar, é bastante sedosa, tornando-se picante (dos 10.2% de álcool) na sequencia (sobre a língua, o álcool incomoda um pouco e soa bem desequilibrado). Dai em diante, uma cerveja que começa bem, mas vai dando uma entortadinha do meio para frente (e com o aquecimento chegando, ao contrário de uma RIS tradicional), o que baixa o alta nível inicial, mas mantém o resultado acima da média. No final, café, chocolate, álcool e coco. No retrogosto, o mesmo quarteto com leve traço de madeira. Interessante, mas poderia ser ainda melhor.

Balanço
A primeira da série MadLab nesta sequencia (a 18ª no total): Duchesse d’Or, uma mistura danada de barrica de carvalho, abacaxi, avinagrado e caramelo. Ficou interessante. Já a Elite B.A., também do MadLab, o conjunto soou inferior às Dubbel da casa, com material imperceptível. A Wäls MadLab Copper Oak não é ruim (aliás, nenhum delas é!), mas está completamente fora do estilo, com lúpulo assertivo, álcool agressivo e madeira imperceptível. Mas há uma cerveja boa aqui (talvez, quando os lúpulos cansarem, apareça algo). A mais interessante do percurso até agora é a Black Tripel Peppers, com pimenta na medida pra ir aquecendo a garganta (enquanto o álcool aquece o corpo). Boa. Fechando o quinteto com a melhor do passeio, ainda que poderia ser muito melhor: Coconut RIS, uma Russian Imperial Stout com coco ralado e muito, muito álcool presente.

Wäls MadLab Duchesse d’Or
– Produto: Belgian Strong Golden Ale
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 7%
– Nota: 3,42/5

Wäls MadLab Elite B.A.
– Produto: Belgian Dubbel
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 7.5%
– Nota: 3,10/5

Wäls MadLab Copper Oak
– Produto: Barley Wine
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 7.5%
– Nota: 3,22/5

Wäls Black Tripel Peppers
– Produto: Belgian Dark Strong Ale
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 11.7%
– Nota: 3,49/5

Wäls Coconut RIS
– Produto: Russian Imperial Stout
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 10.2%
– Nota: 3,74/5

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– Top 2001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
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