Entrevista: Premiata Forneria Marconi

entrevista por Marcelo Costa

Nome icônico e histórico do rock mundial, a banda italiana Premiata Forneria Marconi está próxima de completar 50 anos de carreira (em 2020!), soma mais de 6 mil shows no currículo e ainda mostra fôlego para compor material novo. “Emotional Tattoos”, o décimo sétimo álbum de estúdio dos italianos (lançado em versão dupla: uma cantada em inglês e a outra na língua pátria – o videoclipe para o single “The Lesson / La Lezione” surge nas duas versões abaixo), chegou ao mercado em outubro de 2017, e demonstra que a PFM ainda têm muito a oferecer aos fãs e ao rock progressivo melódico.

Na capa do novo disco, os dois membros mais antigos da banda, o baterista e vocalista Franz Di Cioccio (único remanescente da formação original de 1970) e o baixista Patrick Djivas (que entrou no grupo em 1974), pilotam uma espaçonave e convidam o ouvinte a partir com eles por “novos mundos musicais distantes”, como descreveu Patrick em conversa com o Scream & Yell. Franz também participou do bate papo, e aproveitou para reforçar que o Premiata “nunca lança um disco semelhante ao anterior”. Segundo ele, a banda está em evolução através de “constantes pesquisas”.

De volta ao Brasil pela terceira vez, segundo Franz, o show terá músicas do novo disco e grandes clássicos do Premiata. “Vamos abrir janelas emocionais em todas as nossas eras musicais”, promete o baterista e vocalista. Já o baixista Patrick espera ouvir novamente o som do público que o encantou na última turnê pelo país: “O público fez um coro ‘Premiata, Premiata, Premiata’ de uma forma muito musical, num ritmo envolvente e fantástico”, relembra. Confira o papo!

Vamos começar falando sobre o novo álbum! Em 2017, vocês lançaram “Emotional Tattoos”! Como foi a produção e como vocês o veem no catálogo do PFM?
Franz – Patrick e eu escrevemos todas as músicas do novo disco. Nós trabalhamos muito bem juntos, em grande harmonia. Patrick, além de ser um grande baixista, é um pesquisador de sons capaz de criar arranjos ricos que se encaixam em todos os estilos de música. Nós nos conhecemos muito bem e quando eu canto uma melodia ele já tem em mente como a música vai soar. Para as letras, foi um trabalho semelhante. Escrevi as letras em italiano e Patrick em inglês, uma língua que ele conhece muito bem – além do italiano e do francês. Vejo este novo disco numa ótima posição dentro do catálogo do PFM, uma opinião que é compartilhada pelo público e, também, por muitos jornalistas. É um disco que mantém o trabalho do PFM em evolução através de constantes pesquisas. Nunca lançamos um disco semelhante ao anterior. É uma tradição do PFM.

Qual é a ideia por trás do título e da arte de “Emotional Tattoos”?
Patrick – Qualquer forma de arte tem o poder de causar fortes emoções que se tornam marcas permanentes, tatuagens emocionais mesmo. Até na música é assim. Neste novo álbum tentamos captar a essência do mundo contemporâneo através dos sentimentos e emoções que temos dentro de nós. Desta forma, podemos “tatuar” o público emocionalmente. Percebemos também que esse novo grupo de canções eram histórias que levavam o ouvinte para novos mundos musicais distantes. Então, a maneira que encontramos de traduzir isso em uma imagem foi mostrar uma espaçonave (na capa) e convidar todo mundo para descobrir esse novo mundo conosco.

Este é o primeiro álbum de estúdio sem o guitarrista Franco Mussida, certo? Como foi gravar sem ele e como está a nova formação do PFM?
Franz – O baixo e a bateria andam juntos, Patrick e eu somos muito unidos e complementares trabalhando em parceria, e isso se estende ao palco. Voltamos à verve dos anos 90, quando estávamos compondo trilhas sonoras para o cinema e TV. A harmonia era perfeita como é agora. “Emotional Tattoos” tem muita personalidade e grande profundidade musical e textual nas duas versões (inglesa e italiana). A banda inteira participou com entusiasmo do processo. Foi um momento belo e excitante.

Patrick – Estamos muito felizes com a nova formação do PFM. A coisa mais difícil para nós foi encontrar não apenas músicos tecnicamente perfeitos, mas homens com um grande coração e uma visão sobre melodia e harmonia difícil de encontrar nas gerações mais jovens. Tivemos sorte… (além de Franz e Patrick, o Premiata atual traz Alessandro Scaglione nos teclados, Hammond e Moog; Lucio Fabbri no violino; Marco Sfogli na guitarra; Roberto Gualdi na bateria; e Alberto Bravin nos teclados e backing vocals).

Já que vocês tocaram no assunto, “Emotional Tattoos” foi lançado em versão dupla, uma em italiano e a outra em inglês. Como foi o processo de gravação dessas duas versões em diferentes idiomas? São as mesmas letras? Há uma enorme colônia italiana no Brasil…
Patrick – A trilha musical de cada canção é idêntica, o que muda é o vocal e a letra, porque as versões em italiano e inglês não trazem a mesma letra, elas não são uma tradução direta uma da outra, mas são compatíveis nos significados. Nós desenvolvemos as letras para que elas estivessem contextualizadas com as particularidades de cada um dos idiomas.

Franz – Sim, sabemos que somos muito amados no Brasil e amamos tanto nossos compatriotas quanto o povo brasileiro.

Como será o set list para esta terceira turnê do PFM no Brasil ? Uma mistura de toda a carreira mais o novo álbum? Ou existem surpresas?
Franz – Esperamos um público entusiasmado! É muito bom ver fãs de diferentes gerações em nossos shows. O poder da música é transcendental e pretendemos manter a tradição do PFM de criar aquela empatia que une o público à banda, no palco. Vamos abrir janelas emocionais em todas as nossas eras musicais. Tocaremos parte do “Emotional Tattoos”, mas haverá momentos de liberdade improvisada, que tornam o show sempre diferente. A música para nós nunca surge pré-embalada!

Desta vez vocês vão tocar em três cidades (São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte). A última vez foi em 2014, certo? Há alguma coisa curiosa sobre qualquer uma das duas passagens no Brasil que vocês se lembram e o que esperam desta nova visita?
Patrick – Eu derreto quando vejo a Baía da Guanabara, no Rio. Lembro que visitamos o Corcovado, pegamos aquele trenzinho e havia três músicos tocando no vagão para os turistas, e todo mundo cantava e dançava. Foi divertido. No nosso último show no Brasil, o público fez um coro “Premiata, Premiata, Premiata” de uma forma muito musical, num ritmo envolvente e fantástico. Me pergunto até hoje como eles fizeram aquilo sem ensaio…

Vocês acompanham a atual cena italiana progressiva? Existem grupos tão bons quanto os dos anos 70? E, em geral, como está a música na Itália?
Franz – Não acompanho especificamente a cena progressiva, mas acompanho a música em gera, e, no momento, nada têm me impressionado muito.

Existe uma banda brasileira que mora em Milão e fez um relativo sucesso na Itália regravando Enzo Jannacci. Seu nome é Selton
Patrick – Não conheço, mas vou dar uma ouvida…

Há muita gente no Brasil tocando música progressiva e o selo independente Progshine tem tentado catalisar essa cena. O que você diria aos jovens que são apaixonados por Prog e continuam a seguir a sonoridade que vocês começaram a produzir nos anos 70?
Franz – Eles estão fazendo a coisa certa ao escolher uma música que faça o seu cérebro viajar muito e que tenha a capacidade de evoluir em outras direções criativas.

Patrick – Meu conselho é pensar sobre o significado da palavra PROG. Procure novas maneiras de escrever músicas interessantes sem ficar preso ao que estava acontecendo nos anos 70, pois senão você não estará fazendo rock progressivo, e sim rock regressivo.

“Storia di Un Minuto” (1972) e “Per un Amico” (1973) e sua versão em inglês “Photos of Ghosts” (1974) são clássicos, registros históricos do progressivo mundial. Vocês imaginavam que estariam na estrada com o PFM quase 50 anos depois? Qual o segredo da longevidade da banda?
Franz – Não, não imaginávamos, mas o PFM é assim: gostamos de experimentar, de viver em um mundo contemporâneo sempre a procura de algo novo. O segredo é abraçar o futuro, mudar o tempo todo mantém você vivo.

Patrick – Tentar manter o controle sobre o que você conquistou é apenas perda de tempo e um caminho para a infelicidade. Você consegue imaginar tocar a mesma música 6 mil vezes exatamente da mesma maneira? Pois é isso que acontece conosco: já fizemos 6 mil shows. (Se tocássemos sempre do mesmo jeito) Isso soaria deprimente, mas toda noite é uma oportunidade para mudar uma nota, adicionar uma nova sensação de ritmo e, por que não, cometer um erro. Todos sabemos que sem erros o mundo seria um lugar chato.

– Marcelo Costa (@screamyell) edita o Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne

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