DVD: Todo Poderoso, O Filme

por Tiago Trigo

“Um cara pode mudar tudo: de rosto, de casa, de família, de namorada, de religião, de Deus… Mas há uma coisa que não pode mudar. Não pode mudar de paixão”. A frase-chave do personagem Pablo Sandoval no argentino “O Segredo dos Seus Olhos”, vencedor neste ano do Oscar de melhor filme estrangeiro, serve perfeitamente para definir o mote de “Todo Poderoso – O Filme, 100 anos de Timão”. A obra cumpre bem o papel de mostrar às gerações mais novas que paixão e sofrimento estão no DNA corintiano desde a sua fundação, no Bom Retiro, por cinco operários.

É um filme feito por apaixonados para apaixonados. Mas nem por isso os diretores Ricardo Aidar e André Garolli deixam de cumprir sua principal missão: contar a história do time de futebol que tem a segunda maior torcida do país de maneira clara, com fatos e depoimentos de pessoas que fizeram parte desta trajetória. Além dos principais ídolos, torcedores-símbolo também têm seu espaço, muitas vezes colocando boas pitadas de humor, como a folclórica Tia Dirce.

Risadas se misturam a lágrimas em entrevistas que respeitam a cronologia dos fatos. A narração linear do ator Dan Stulbach, corintiano, se intercala com depoimentos de jornalistas, como do entrevistador e corroteirista Celso Dario Unzelte (especialista na história corintiana, que ficou na frente e atrás das câmeras), e ídolos. Enquanto isso, gols e imagens marcantes são exibidos para deleite da torcida, ops, do público. Até Pelé e Ademir da Guia – estrelas rivais, obviamente – aparecem para atestar que a paixão do corintiano é diferente.

Registros raros, como o do time em campo em 1929, são um molho especial para o prato principal. Sócrates, Zé Maria, Casagrande, Wladimir, Biro-Biro, Palhinha, Basílio, Neto, Marcelinho, Ronaldo (o goleiro)… Dos ídolos vivos, estão quase todos lá, com exceção de Roberto Rivellino, que, embora não tenha nenhum título pelo clube, é um dos maiores expoentes de sua história e merecia um depoimento no documentário. Ronaldo, o Fenômeno, também poderia ter aparecido para falar um pouco.

Outro pequeno deslize é passar quase que batido pelo ex-presidente Vicente Matheus (morto em 1997, aos 88 anos), mandatário máximo corintiano nos títulos históricos de 1977 – o fim do jejum de 23 anos – e de 1990, primeiro Campeonato Brasileiro vencido pelo clube. Uma figura lendária por suas confusões com a língua portuguesa (ele era espanhol) e por ter colocado dinheiro do próprio bolso no clube. Se falta algo de um lado, sobra do outro: o lateral Roberto Carlos, com apenas seis meses de clube, ainda não escreveu seu nome na calçada da fama do Parque São Jorge para ter direito de estar no filme sobre o centenário da equipe alvinegra. Desnecessário.

“Todo Poderoso – O Filme” é a terceira, e a melhor, obra cinematográfica sobre o Corinthians lançada nos últimos 15 meses. Está anos-luz à frente de “Fiel”, o primeiro, registro da queda à Série B e o retorno à elite do Brasileiro de maneira enfadonha e quase sem emoção, e tem mais qualidade de edição e roteiro que “23 Anos em 7 Segundos”, que narra de maneira emocionante o fim do jejum de títulos em 1977, mas peca por depoimentos repetitivos e uma perda de ritmo que provavelmente poderia ter sido evitada na montagem.

“Todo Poderoso” se destaca ainda mais pelo fato de ser o mais difícil de ser feito, editado e montado, justamente por conta da escolha de condensar 100 anos de história em 100 minutos. Prova disso é a quantidade de extras do DVD, lançado em 1º de setembro, dia do centésimo aniversário corintiano: 120 minutos de material inédito, inclusive com entrevistas que não entraram no corte final. O preço previsto é R$ 29,90, valor que não deve afastar os corintianos, que são conhecidos por não pouparem dinheiro para comprar camisas e ingressos bem mais caros. Afinal, como o filme conta, por uma paixão como esta, eles fazem loucuras.

Leia também:
– “O Segredo dos Seus Olhos”: o Oscar de melhor filme estrangeiro foi pouco (aqui)

3 thoughts on “DVD: Todo Poderoso, O Filme

  1. Esse filme é realmente emocionante. Desde a arte a bela capa já se vê que é uma obra muito interessante e viva.

    Parabéns pelo artigo cara!

    Estou gravando um podcast sobre nosso Corinthians ! Se quiser/puder se envolver é só falar. 🙂

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