Shows: Lionel Richie e Erykah Badu

Texto por Rodrigo Levino
Fotos por Viridiana Brandão

No último final de semana, dois expoentes da música negra americana se apresentaram em São Paulo. Lionel Richie, 61, no sábado e Erikah Badu, 39, no domingo. Fora a ampla vertente musical em que se encaixam, Richie e Badu não poderiam ser mais distintos nas suas apresentações.

Egresso do grupo The Commodores, uma das estrelas da gravadora Motown, que se notabilizou por alçar a música negra americana ao patamar do showbizz entre os anos 1960 e 1970, Richie vendeu mais de cem milhões de discos em carreira solo desde 1982 com uma obra calcada em baladas melosas, soul music e R&B.

“Say You, Say Me”, “Three Times a Lady”, “Endless Love” (dueto com Diana Ross) e “Hello” são algumas canções que cravaram em Richie o epíteto de motel singer. Não é de todo injusta a sentença como se pôde ver no show realizado no Ginásio Ibirapuera. Richie é cafona e beira a canastrice inclusive no visual mustache latino que conserva desde quando se tem notícia de sua existência. Mas é justo assumir-se assim que faz dele um artista autêntico e carismático.

Quatro décadas de carreira dão ao cantor o conforto de tocar o megahit “Easy”, uma baba regravada anos depois pelo grupo de rock Faith no More, ainda no começo do show, pois o rosário é longo e se arrasta por quase duas horas com 21 canções, entre baladas ao piano e medleys de canções dançantes do Commodores e da carreira solo.

Richie salta em “All Night Long”, dança em “Brick House”, conclama as mulheres a cantarem “Endless Love” e manhoso pergunta “quem precisa de Diana Ross quando se tem uma platéia assim?”.

Puro charme brega, que funciona bem mesmo sem muita tensão e jogando para a torcida o show inteiro, inclusive ao voltar ao palco e encerrar a sua primeira apresentação com “We Are The World”, parceria com Michael Jackson. “Há muito tempo eu queria estar aqui e agora que cheguei, não vou mais embora”, repetiu várias vezes. Charme demais, brega demais e bem divertido.

Badu não erra

No domingo, Erykah Badu, recém condenada a três meses de prisão e multa de 500 dólares por tirar a roupa numa rua de Dallas, no Texas, durante a gravação de um videoclipe, mostrou um lado da moeda diverso do apresentado por Lionel Richie, embora guarde nas suas canções forte influência da mesma Motown que revelou o cantor.

Com um show elaborado e meticulosamente ensaiado – o que o torna maçante e pouco espontâneo nalguns instantes – Badu, que não vinha ao Brasil desde 1997, ratificou a sua posição de relevante expoente da música pop americana ao fundir soul, R&B e Hip Hop em arranjos sustentados por uma voz impressionante – pela afinação e extensão – e uma competente banda de apoio.

Ao abrir com “20 Feet Tall” e a voz marcada por reverb, Badu deu mostra de como domina a execução da própria música. Números dos seis discos de sua carreira pontuaram o set, com “Bag Lady” (“Mama’s Gun”, 2000), “No Love” (“Baduizm”, 1997), “I Want You” (“Worldwide Underground”, 2003) e “Out of Mind” e “Just in Time”, músicas do recente “New Amerykah Part Two (Return of the Ankh)”.

Quando entra em cena com as referências de groove e funk, a cantora é imbatível. Impressiona pelo peso que confere às versões ao vivo, provoca ao insinuar-se com o microfone, capricha nos sketchs, interage com a banda, convoca o público, faz dançar, tem carisma, mas… é tudo tão exaustivamente ensaiado e sem brechas para o erro ou o improviso – basta comparar (mesmo por vídeos) com as últimas cinco apresentações dela no Brasil (Rio de Janeiro) e nos EUA – que Badu nos põe diante de um display de si mesma. Detalhe que não tira o brilho da apresentação nem o lugar entre os melhores shows do ano no Brasil, mas expõe uma artista com controle demasiado e cansativo de sua obra e performance.

Erros de produção

Os dois shows guardaram semelhanças no mesmo ponto: erros de produção nos espaços em que aconteceram. Não sendo estruturalmente preparado para isso, nenhum ginásio de esportes deveria prestar-se à realização de shows. Ou não teria o nome que tem.

O público de Lionel Richie, atulhado em desconfortáveis cadeiras ou dispersos nas distantes arquibancadas, assistiu a uma apresentação prejudicada pela péssima acústica do lugar, o que comprometeu a qualidade do evento.

Já no Credicard Hall, repleto de cadeiras impróprias para um show dançante e afeito à participação maciça do público, Erykah Badu virou-se num som embolado.

À certa altura, a platéia atendeu o chamado da cantora e aboletou-se em frente ao palco, como deveria ter sido desde o começo, não fossem a inapropriada disposição do local que ainda brindou a noite com o sistema de ar condicionado falho.

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– Rodrigo Levino é jornalista e distribui sabedorias no twitter @rlevino
– Viridiana Brandão é fotógrafa. Veja mais fotos do show da Erykah Badu aqui

5 thoughts on “Shows: Lionel Richie e Erykah Badu

  1. Acho um falta de respeito com a Badu chamá-la de “nova cantora” na capa do S&Y… #porraMac! o primeiro cd dela é de 97!

  2. a palavra brega foi usada tantes vezes…Paul ao piano cantando let it be é brega? estranho esse texto…

  3. Let it Be não, mas The Long and Winding Road e Hey Jude são breguissimas. Paul é culpado pela existencia do Coldplay.

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