Entrevista: Rafael Cortez

por Marcos Paulino

Rafael Cortez, um dos homens de preto do “Custe o Que Custar”, da TV Band, vem apresentando pelo país seu show de humor “De Tudo Um Pouco”, que ele afirma que não é um espetáculo de stand-up comedy.

Apresentar-se sozinho diante de uma plateia é, na verdade, apenas mais um item em seu eclético currículo. Jornalista formado, ele já atacou de ator, promotor de festas, mestre de cerimônia e animador infantil, entre várias outras experiências.

É também violonista erudito e prepara o lançamento de um CD instrumental. Confira a seguir o papo com Rafael.

O que o público pode esperar do seu show?
Um espaço de boas trocas de energia. Meu show não é algo fechado, aonde o público vai e apenas assiste a algo muito roteirizado. Pelo contrário, faço algo que requer muito da interação e energia das pessoas. Meu show não é de stand-up. É um show de humor, onde também há stand-up, bem como há interação, improviso, piadas populares, umas intervenções de canto e o que mais rolar. Mas é fato que meu show é melhor quando a plateia participa mais.

Você não fazia stand-up antes do “CQC”. O que os colegas de programa te ensinaram?
A não fazer stand-up. Danilo (Gentili), Rafinha (Bastos) e Oscar (Filho) me mostraram que stand-up não é pra todo mundo. Eu, de cara, vi que não era a minha praia. Eles foram generosos de dar dicas e supervisionar, especialmente o Danilo, que tem um coração de ouro. Mas, ao vê-los fazendo seus shows, e comparando com o que eu vinha apresentando em canjas nos bares de São Paulo, me liguei que devia fazer um show de humor mesmo, e não um stand-up. Essa ainda é uma arte para poucos, e eles, assim como outros caras e garotas expoentes, é que são os melhores nisso.

Por outro lado, você teve várias experiências no teatro. Isso conta na hora de encarar a plateia hoje?
Sem dúvida. A hiperexposição de meus anos teatrais me faz ter mais cara-de-pau e carisma para encarar plateias, assim como para gravar matérias, mandar perguntas em coletivas de imprensa, pagar uns micos etc. O teatro é a maior das escolas de um artista. A gente aprende a olhar no olho e não entregar o nervosismo, que sempre rola.

Você já desenhou, trabalhou com moda, é músico, jornalista, comediante. Afinal, qual é a sua praia?
Minha praia é fazer o máximo de coisas que me deem prazer, sem nunca me acomodar em uma só. Nunca gostei de ser caxias em algo apenas. Gosto de acumular experiências e ter noção de muitas coisas. Sempre gastei meu tempo assim. Por isso é que não namoro, não casei, não tive filhos, não sei cozinhar, dirigir e não consigo parar quieto. Curto mesmo é trabalhar e produzir de montão.

Como foi sua atuação como assessor parlamentar?
Uma tremenda experiência. Vivenciar o cotidiano da Câmara Municipal de São Paulo me fez entender a política não mais sob um viés popular, onde reinam os estereótipos e os julgamentos populares. Fui entender política dentro da política, com olhos mais científicos. Isso foi vital para sacar, por exemplo, que existem bons e maus profissionais em toda e qualquer área. Para minha sorte, eu trabalhava para alguém competente.

E sua experiência como promotor de festas?
Difícil. Sendo autocrítico, acho que eu fiz um bom trabalho, apesar de ter tão poucos recursos e ganhar tão mal. Se o fogão não funcionava para esquentar as empadinhas para as crianças, eu deixava o rango no terraço, pegando sol. Se um monitor faltava, eu mesmo ia lá e corria com a criançada ou cuidava da trupe na cama-elástica. São apenas exemplos, um pouco bizarros, eu sei, de que atuei envolvido. Aliás, mesmo odiando alguns trabalhos que tive na vida, sempre produzi envolvido e de modo competente. Quando perco esse gás na minha profissão, seja lá ela qual for, jogo a toalha e não faço mais. Foi o que aconteceu com minha carreira de produtor cultural e de artista, promotor de festas, produtor infantil. Aliás, já fiz minha cota de benfeitorias para as crianças. Já trabalhei demais com elas nessa vida. Acho que não volto mais para esse público. Estamos quites já.

Não é estranho que um cara que sempre aparece falando tanto lance um CD instrumental?
Não. Se você me ouvir cantar, certamente entenderá que a música instrumental era a única que eu poderia fazer. Fora que violão instrumental é paixão, e paixão não se entende.

Apesar de ter atuado em tantas frentes, foi o “CQC” que lhe deu visibilidade? Como apareceu essa oportunidade?
Eu estava num momento de transição de trabalhos. Fazia testes aqui e ali e estava aberto para novas oportunidades. De tempos em tempos, eu me abro para isso. Daqui a pouco, em questão de alguns anos ou meses, volto a querer novos desafios. O “CQC” foi o maior deles, em um momento em que tinha acabado de deixar um grupo de teatro infantil, onde estive por quatro anos, e queria parar com meus freelas na Abril Digital, onde produzia, de casa, conteúdos de texto para celular. E olha que o convite para integrar o “CQC” me veio como produtor do programa. Foi na reunião para sacar a vaga que lancei que só me interessaria em colaborar com o trabalho se fosse na condição de repórter. Fiz os testes e passei.

O sucesso na TV fez com que você mudasse sua rotina?
Em 2008 e 2009, não tive mais rotina. Aliás, em 2010 não estou tendo de novo. Não sei mais o que é essa palavra. Tenho tentado fazer uma série de coisas todos os dias, independentemente de como esses dias sejam, na tentativa de recompor essa tal rotina. Diariamente, tento fazer esportes, escrever, ler, estudar violão e me relacionar com quem eu gosto. Tem dado certo por enquanto, ainda que, em alguns dias, eu vá a academia às 9 da matina e, em outros, às 23h. E por aí vai…

A fama te deu tudo o que a gente imagina: dinheiro, mulheres, uma ilha em Dubai?
Não posso responder a essa pergunta por uma simples razão: não tenho fama. Famoso é o (Reynaldo) Gianecchinni, não eu. Eu, bem como os demais CQCs, somos populares. Não estamos fazendo nosso trabalho com o propósito de nos tornar famosos. Bem, eu pelo menos não. Com que moral poderei alfinetar uma celebridade que “se acha” numa matéria do programa se eu, como ela, também me vejo como celebridade? Não faz sentido para mim.

Que tipo de matéria você mais gosta de fazer no “CQC”?
Adoro, por razões óbvias, pautas musicais, shows, prêmios, festas de músicos. É onde me sinto melhor.

E qual detesta?
Não curto pautas de economia. Quer me ver infeliz? Diga que preciso estar amanhã na Fundação Getúlio Vargas, às 8 da manhã, para acompanhar a palestra de um fodão da área para, depois, falar com o ministro da Economia. Eu vou, me dedico e cumpro bem o meu papel. Mas não curto.

Qual pergunta você odeia responder (que espero não ter feito)?
Por já ter dito isso mil vezes: “Como você entrou no CQC?” E sim, você me fez essa pergunta… Não com as mesmas palavras, mas fez… E eu respondi pela milionésima primeira vez! (Risos)

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Marcos Paulino é jornalista e editor do caderno Plug, do jornal Gazeta de Limeira

2 thoughts on “Entrevista: Rafael Cortez

  1. Muitos falam do Rafinha Bastos e do Danilo Gentili, mas o Rafael Cortez é o melhor do CQC. Consegue ser engraçado e carismático sem ser apelativo e sem ofender gratuitamente os outros.

  2. O Rafa Cortez é o máximo, eu adoro mto ele e acho ele o melhor…e acompanho todas as matérias dele e todas as entrevistas que ele dá a diversos canais de comunicação. E posso te falar que todas as respostas coincidem. Ele é um cara sincero e simples, dá p sentir. E um ótimo músico! Ele merece tudo isso!

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