Entrevista: Os Paralamas do Sucesso

Por Marcos Paulino

Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone parecem estar felizes. Pelo menos é isso o que reflete “Brasil Afora”, novo disco d’Os Paralamas do Sucesso, bem mais alegre que seus dois antecessores, “Longo Caminho” (2002) e “Hoje” (2005), os primeiros lançados após o acidente sofrido por Herbert e sua mulher, em 2001, quando o cantor sofreu danos cerebrais e perdeu a companheira em uma queda de ultraleve.

Gravado em Salvador e no Rio de Janeiro, “Brasil Afora” é o primeiro disco de canções inéditas da banda em quatro anos. O álbum deixa de lado o rock mais soturno dos dois anteriores e redescobre o reggae, o ska e outros ritmos bons para a pista de dança. O CD tem a participação de Carlinhos Brown, que colabora com duas canções – “Sem Mais Adeus”, com Alair Tavares, e “Quanto ao Tempo”, com Sullivan –, e de Zé Ramalho, que divide os vocais com Herbert em “Mormaço”. Também participam o produtor Liminha e Arnaldo Antunes, com “A Lhe Esperar”.

Lançado primeiro para down-load na internet, o disco oferece para os internautas a bônus track “O Palhaço”. O Scream & Yell conversou com o baterista João Barone.

Parte do disco foi gravada em Salvador e ele tem participações de Carlinhos Brown e Zé Ramalho. Isso se deve a uma procura pela “nordestinidade”?

Não, somos amigos e fãs do Zé de longa data. O Herbert sempre mostrou sua origem, bom paraibano que é. Inclusive, eu e Bi somos cidadãos paraibanos honorários, homenagem que recebemos do governo estadual. O Brown é parceiro do Herbert de uma das nossas canções mais conhecidas, “Uma Brasileira”. Então, já “achamos” o nordeste faz muuuito tempo! (Risos)

“Brasil Afora” foi recebido pela crítica como a volta do Paralamas mais festeiro, mais alegre, em comparação com os últimos discos, mais soturnos. Isso reflete o atual momento da banda?

Sim, reflete de maneira sutil, pois o processo de gravação e composição das canções não buscava esse resultado. Foi acontecendo naturalmente.

Hoje é possível dizer que as feridas abertas com o acidente de Herbert estão definitivamente fechadas?

Não, nunca estarão. Talvez as feridas tenham fechado, mas as marcas não sumirão nunca. Mas conseguimos ir em frente.

O disco foi lançado primeiro na internet e quem baixá-lo tem direito até a faixa-bônus. A rede está deixando de ser inimiga pra ser uma aliada dos artistas?

Acho que nunca foi inimiga, ao menos nós consideramos assim. A internet deixou de ser um fenômeno para ser parte da vida das pessoas. É irrefreável.

Ao que consta, após a seleção das músicas que entraram em “Brasil Afora”, sobrou material suficiente para gravar um novo disco. Procede? E de onde vem tanta produtividade?

De fato, ainda temos um saldo de composições para quem sabe lançar um outro álbum num intervalo mais curto. O Herbert escreve compulsivamente novo material.

Há bandas dos anos 80 que se moldaram para conquistar novas gerações, como o Capital, e outras que se mantém na ativa mais em função dos antigos fãs, como o Titãs. Onde o Paralamas se encaixa?

Somos um misto disso, mas não deixamos esse tipo de coisa atrapalhar nossa célula interna.

Aliás, como está o fôlego da banda? Ainda há a mesma motivação que fez dos Paralamas um dos ícones do rock nacional?

Certamente que sim, e agora com o desafio de preparar um novo show para uma nova turnê.

E a turnê de “Brasil Afora”, como será?

Opressiva!

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Marcos Paulino é jornalista e editor do caderno PLUG do jornal Gazeta de Limeira

“Brasil Afora”, Os Paralamas do Sucesso (EMI)
Por Marcelo Costa

O décimo segundo disco do trio comandado por Herbert Vianna serve para acalmar aqueles que temeram que a turnê de 25 anos de carreira ao lado dos Titãs em 2008 fosse o começo de um namoro com o passado que pudesse atrapalhar o futuro. Não atrapalhou. “Brasil Afora” soa um inspirado e maduro álbum de pop rock de um trio experiente que sabe como construir uma boa canção e conhece como ninguém as manhas de estúdio.

Gravado no Candeal, em Salvador, “Brasil Afora” é o melhor álbum dos Paralamas pós acidente de Herbert em 2001. A sonoridade abraça o Brasil com muito chamego e leva o país para dançar com calma em um animado salão de bailes. Começa com “Meu Sonho”, um baião que remete a Tim Maia e faz o corpo suingar. O rock “Sem Mais Adeus” traz assinatura de Carlinhos Brown e certa semelhança com “Uma Brasileira”.

De Arnaldo Antunes e Liminha, “A Lhe Esperar” poderia fácil fazer parte do álbum “Bora Bora” (1988) com seu clima de praia do Havaí. A baladinha light “El Amor”, versão de Herbert para o original do argentino Fito Paez, e o reggaezinho “Quanto ao Tempo” (outra de Carlinhos Brown, desta vez em parceria com Michael Sullivan e citação atravessada de “Detalhes”, do Rei Roberto) dão uma acalmada nos ânimos.

“Aposte em Mim” é uma balada rock tipicamente Paralamas e abre o caminho para a segunda metade do álbum (compostas apenas de canções do trio), cujo ápice se dá em “Mormaço”, a melhor canção do álbum, uma modinha arrepiante que sonha viver “de amor e palavra” e conta com a participação de Zé Ramalho e sugere um choque da classe de  “Severino” (1994) com o lado romântico de “Bora Bora”.

“Taubaté ou Santos” tem um clima agradável e uma refrão que gruda fácil, fácil. Já a faixa título, apesar da melodia vocal totalmente paralamica, é um rock barulhento como poucas fases o trio ousou fazer, e funciona. O órgão Hammond de João Fera dá um toque Doors á melodia da boa “Tempero Zen”, cujo começo quase discursivo novamente remete a “Severino”. As guitarras voltam a arder em “Tão Bela”, que fecha o álbum com estilo.

Entre baladas, reggaes, baiões, rocks e repentes, “Brasil Afora” mostra um Paralamas inspirado e inspirando-se em seus melhores trabalhos. É um disco suave cheio de possíveis hits para ser saboreado com calma. Não vai mudar o mundo, mas quem quer (ou pode) mudar o mundo aos 26 anos de carreira? Em “Brasil Afora”, o Paralamas concentra-se naquilo que sabe fazer melhor: tocar boas canções pop.

Nota: 8
Preço em média: R$ 25

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