Blog do Editor: A bicicleta da Lili

por MacSábado de madrugada, três da manhã, uma dezena (talvez mais) de doses de cachaça, muitas risadas e uma discussão da relevância de Beatles e Ramones para a história do rock sacodem a casa de um amigo na “zona” do Baixo Higienópolis. Só consigo pensar quando uma carona me deixa em casa: “Vou dormir o domingo inteiro”. Acordo quase às 11h da manhã, e Lili está toda sorridente com algum plano maquiavélico que eu ainda não percebi. Na primeira brecha da conversa sobre o que fazer à tarde, ela emenda: “Eu quero andar de bicicleta no Ibirapuera”.

Ela passou a semana inteira questionando o popular ditado “é como andar de bicicleta: a gente nunca esquece”, e está animada pois sua bike chegou debaixo de uma chuva torrencial na noite de sábado, trazida pela irmã Jeanne. A cunhada está bastante envolvida na história, e a reportagem que ela escreveu para a Época São Paulo (do ótimo título “Diários de Bicicleta” – leia aqui) explica mais sobre todo o assunto. O fato é que Lili queria descobrir se conseguia andar de bicicleta. E alguém teria que levar a bike até o Ibirapuera. Já sabe para quem sobrou, né.

Lili foi de ônibus enquanto eu descia a Bela Cintra, entrava na Antônia de Queiroz, subia a Augusta e a Peixoto Gomide, adentrava a Paulista (ah, se todos os dias fossem como domingo, sem tantos carros na Paulista), cortava pela Pamplona e Alameda Santos, e descia a toda a Brigadeiro Luiz Antônio em direção ao Ibirapuera. Cheguei “morto” uns 15 minutos antes dela, e não lembro direito a última vez que havia andado de bicicleta. Acho que faz uns 20 anos, talvez mais. E foi extremamente divertido. E cansativo, mas valeu a pena.

Porém, nada mais bonito do que ver o sorriso dela ao sentar na bicicleta e sair pedalando – toda dura, mas sem cair – pelo parque. Lili parecia uma criança, e fiquei rindo enquanto ela quase causava alguns pequenos acidentes, mas descobria que a gente nunca esquece como andar de bicicleta. Mudei o roteiro na volta seguindo pela Brasil, subindo a 9 de Julho e entrando na Barata Ribeiro. Cheguei 20 minutos antes dela, o que me deu tempo de tomar um banho, deixar o episódio semanal de Lost prontinho para assistirmos e ainda baixar algumas coisas.

Pedalar em São Paulo é um desafio. A regra é não se intimidar perante os carros, mas quem diz que a gente consegue (na primeira vez)? No entanto, nada como sair da monotonia do ônibus lotado e descer um morro com o vento no rosto. Como a Jeanne escreve na reportagem da Época, ”a sua relação com a cidade muda. Você passa para a escala humana. Nota um monumento que nunca viu, um prédio bonito.  Você contribui para uma cidade melhor, com menos carros, menos poluição, menos barulho e menos trânsito”. A prefeitura de Paris aluga bicicletas para aliviar o trânsito. Vale muito pensar sobre o assunto.

Leia também:
– Prefeitura de Paris aluga bicicletas para aliviar o trânsito (aqui)
– Parisienses e turistas adotam novo serviço de bicicletas (aqui)

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