Móveis e Fino Coletivo ao vivo em SP

Texto por Marcelo Costa
Fotos por Liliane Callegari

Na entrada do Sesc Pompeia uma placa avisa: “Ingressos esgotados para Fino Coletivo e Móveis Coloniais de Acaju”. Na longa fila para entrar na Choperia do Sesc, um casal de amigos conversa com um terceiro. O primeiro vira e diz: “Conheci uma banda muito legal essa semana: Radiohead”. O outro dá de ombros: “Acho que já ouvi, mas não gostei”. A namorada do primeiro olha um cartaz e diz animada para seu par: “Vai ter Vanguart em uma noite folk”. O rapaz que acha que não gostou de Radiohead não perdoa a banda cuiabana: “Vanguart é chato”.

O diálogo descrito no primeiro parágrafo serve para ambientar tudo que vem pela frente. E tem mais um ouvido no meio da pista, quando um amigo promete para o outro: “Esse ano eu vejo um show do Teatro Mágico”. Apesar da promessa, não é o Teatro Mágico que está no palco, e sim o Fino Coletivo, combo carioca/alagoano que abre a noite trazendo nos bolsos as canções de seu magnífico álbum de estreia, de 2007, e algumas inéditas de seu aguardado segundo álbum. A casa ainda não está totalmente lotada, mas um bom número de pessoas samba ao som charmoso do sexteto carioca.

“Hortelã” abre a noite com suingue e boa participação do recém contratado Donatinho, nos teclados e efeitos. O samba sai forte pelas caixas de som com Alvinho Cabral despejando estilo no violão com wah-wah. “Tarja Preta/Fafa”, o grande hit, vem na seqüência, trazendo consigo mais algumas pérolas do compositor Wado como “Se Vacilar o Jacaré Abraça”, “Uma Raiz e Uma Flor” e “Dragão”, que por mais que sejam parcerias divididas, trazem um cuidado poético que soa brilhante no trabalho solo do curitibano radicado em Alagoas, e que podem fazer muita falta no segundo disco do Fino.

Das inéditas, a boa “Samba do Príncipe” segue no nível da estréia enquanto “Lycra, Limão”, de Lucas Santtana, em arranjo reggae, parece não soar bem resolvida ainda. E uma terceira, de temática machista, que fala da imensa felicidade do rapaz em saber que é o primeiro de sua amada. Resta descobrir se a banda tem a mesma opinião do lado contrário, que o rapaz se guarde para a sua primeira, e provavelmente teremos uma ótima canção para ser tema de uma campanha anti-aids. O Ministério da Saúde deve aprovar.

Com um intervalo rápido e a Choperia do Sesc já bastante tomada, o Móveis Coloniais de Acaju subiu ao palco para apresentar o show mais divertido do país e fazer dançar e cantar o cara que descobriu Radiohead na semana passada, sua namorada que gosta de Vanguart, aquele que não gosta nem de um e nem de outro, e o quarto que prepara sua alma para um show do Teatro Mágico. E não só estes quatro personagens, casualmente dançando um ao lado do outro no centro da pista, mas mais 700 pessoas dispostas a chacoalhar diante da musicalidade contagiante dos candangos.

A força do Móveis ao vivo chega a impressionar. O som é potente e o grupo é extremamente entrosado. O vocal de André é forte, mas soa embolado boa parte da noite. Pouco dá para entender do que ele canta, mas o público não se importa, pois já sabe as letras de cor, e elas não fazem nenhum sentido mesmo. A boa da noite é dançar, dançar e dançar, e o som do Móveis ao vivo não consegue deixar ninguém parado. A banda apresenta algumas canções inéditas do segundo álbum, produzido por Carlos Eduardo Miranda, e que estará para download gratuito em março, abre a sua tradicional roda no meio do público e deixa todo mundo suado. Cita “Glory Box” do Portishead em uma faixa, e é “obrigado” a voltar ao palco para um bis consagrador.

Na volta para casa caraminholo ideias com o amigo e jornalista Tiago Agostini e com a namorada e fotógrafa Lili Callegari. Que caminho fez um ouvinte que não conhece Radiohead, mas sabe todas as canções do Móveis de cor? Qual o público de Móveis, Mombojó e Teatro Mágico, três bandas totalmente distintas, mas que têm um público fiel que provavelmente conhece mais canções dessas bandas do que Beatles? O que acontece com a grande mídia que não consegue absorver esses fenômenos culturais que poderiam tomar a massa, caso fosse bem divulgados? O público brasileiro presta atenção em letras? Se presta, qual o motivo do Creu e derivados fazerem sucesso? As questões são muitas. Deixo você responde-las enquanto troco minha camisa suada, ok.

– Marcelo Costa (@screamyell) edita o Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne
– Liliane Callegari (@licallegari) é fotógrafa e arquiteta. Veja galeria de fotos dos shows aqui

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