Nokia Trends 1 x 2 Calor

por Marcelo Costa

O Nokia Trends encerrou, na noite de sábado (ou, como alguns brincaram, na manhã de domingo) o calendário mais caótico de shows que este país já assistiu em um ano. O festival já saiu perdendo em termos de escalação em comparação com sua própria edição de 2006 (com Soulwax, Hot Hot Heat, We Are Scientists e Bravery), e se tivesse mantido a belíssima estrutura já seria um grande ponto a favor frente ao fiasco do Tim Festival SP deste ano.

Porém, a adaptação do palco no Memorial da América Latina apresentou alguns problemas, cujos principais foram os poucos banheiros disponíveis e, principalmente, o ar-condicionado insuficiente para a quantidade de gente que lotou o festival. A quantidade de caixas e bares foi satisfatória, com um único defeito a ser ressaltado: os caixas só vendiam cartelas de R$ 10 com cinco fichas de R$ 2. Ou seja, se você quisesse comprar um refrigerante, que estava custando R$ 4, teria que comprar a cartela de R$ 10 e “morrer” com os outros R$ 6 (eu voltei com R$ 2 pra casa).

E a música?, pergunta o leitor que entrou aqui para saber disso: Artificial, projeto do Kassin, é uma piada de mau gosto; para falar do Underground Resistence vou usar a frase de um amigo: “Só falta entrar a Gloria Estefan cantando”; não lembro do Van She, um pouco por causa da mistura de vodka e gin, e também porque eles são esquecíveis mesmo; o Phoenix foi bem bom. “Consolation Prizes”, a única música deles que permaneceu no meu computador, ficou muito boa ao vivo. Não que eles valham uma noite, mas são competentes e isso basta; e o She Wants Revenge foi? fraquinho.

Ok, estou sendo exigente demais. O She Wants Revenge é datadaço e não deveria estar tocando naquele local, uma tenda quente hiper-maxi-iluminada cheio de gente estilosa e/ou tentando mostrar algum estilo. O som do She Wants Revenge não casa com a proposta do lugar. Eles precisam de um ambiente menor, mais escuro, mais dark, mais gótico, mais tudo. Não dá para ouvir a voz a la Sisters of Mercy do vocalista do She Wants Revenge com o sol nascendo. Vampiros não podem com o sol. É tão primário.

Na verdade, a escalação de todos os grandes festivais pecou, e muito, em 2007. Tudo o que o marketing tentou vender neste ano foi por água a baixo pelo que se viu no palco. Killers não tem nada a ver com o Tim Festival. Kasabian não é uma banda de porte para fechar um festival tão bacana quanto o Planeta Terra. E She Wants Revenge não pode tocar com o dia clareando. Fica parecendo que, antigamente, os curadores destes festivais iam atrás daquilo que achavam melhor, mas agora pegam o que está dando sopa no mercado de shows. Algo tipo: “Temos essas 20 bandas querendo tocar na América do Sul, qual delas você quer?”.

Trocamos a curadoria pela facilidade (e economia) do que já está no circuito de shows. Para que um curador vai se preocupar em trazer algo novidadeiro se o Killers está dando sopa na América do Sul, não é mesmo? Acontece que a roda não deveria girar desse jeito. Para o Tim Festival, que vende o slogan “música sem fronteiras” e aposta em nomes pouco conhecidos do grande público, o Killers é mega e estaria perfeitamente encaixado como headliner do Terra (iria ser perfeito). E isso abriria para o Tim investir em nomes como Calexico (que estava rodando a América do Sul meses atrás), Beirut (top ten em dezenas de listas de melhores do ano) ou até apostar num Twilight Singers e Soulsavers, garantia de shows inesquecíveis e bom investimento pop.

Dos três grandes festivais deste ano (vamos combinar que o Motomix não existiu, ok), o Nokia Trends foi o que errou menos. O Planeta Terra foi perfeito na estrutura, mas faltou arriscar mais num grande nome que pudesse dar suporte ao evento. Quando se fala mais do quão a estrutura de uma festival foi legal estamos sinalizando que a música ficou em segundo plano. O Tim Festival SP teve alguns dos melhores shows do ano, mas foi terrivelmente frustrante no quesito produção. E o Nokia Trends desceu uns degraus no quesito produção e line-up, mas continuou na mesma vibe dos anos anteriores (nomes pequenos, produção cuidadosa, boa festa). Num mundo ideal, os erros cometidos neste ano deveriam servir de aprendizado para o ano que vem, mas não vou ficar surpreso se todo esse cenário se repetir. Mesmo.

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– Marcelo Costa (@screamyell) edita o Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne

7 thoughts on “Nokia Trends 1 x 2 Calor

  1. Marcelo, parabéns! Perfeitos os seus comentários! Tive a oportunidade de ir aos três eventos e concordo com absolutamente tudo que vc disse! Só incluiria uma coisa: decepção total para o Tim Festival… apesar de eu ter gostado demais do show do Killers, achei MUITA falta de respeito com o público, não só o atraso de quatro horas para começar o último show, mas a falta de organização do evento… lamentável…

  2. e ae cara, primeira vez q entro nesse blog.
    Olha, concordo com bastante coisa que vc falow. Tpo, o Nokia esteve bem aquém do festival no ano passado, o Tim de produção/organização foi um lixo pra variar, mas acho q o Terra mandou bem. É estranho que o Terra já tenha trazido Pearl Jam pra ca e agora tenha ficado com medo de arriscar alguém maior pra encerrar o festival. De qquer forma a rodada de shows desse semestre foi mto boa. Espero que tenha um Muse no “mercado de shows” do ano que vem.

  3. cara, concordo em tudo o q vc escreveu, o Van She não tocaria nem na Funhouse, o SWR eu comentei com alguém na pista, só não falam mal pq não sabem de quem falar bem, o UR foi ao menos diferente, o Phoenix razoável demais, não teve nada q prestasse, o Van She Tech conseguiu a proeza de tocar os clichês da e-music, ouvir Tiga foi de doer, sua resenha é mto boa, mas vc perde a razão qdo fala “mistura de vodka e gin”, devemos pensar q vc estava bêbado?

  4. Fala Mac,

    ótimo comentário. O melhor dos shows foi o do Killers no rio. o do Rapture no terra tb gostei. queria muito ver Spoon e My Morning Jacket! Será que algum dia??

  5. Quer dizer que o Calexico estava dando sopa por aqui? Ia ser massa uma show deles e, quem sabe, com o Iron & Wine no mesmo festival, pra rolar uma participação especial. Beirut também seria uma excelente presença, o cd novo é realmente %!@$&@#

    Além disso, podiam ter ido atrás do Arcade Fire e do White Stripes ( e daí que já vieram? Os discos novos são muito bons!).

    E, por que ainda não trouxeram o Sufjan Stevens?!! Ou o Patrick Wolf? Tanta coisa boa por aí… Espero que em 2008 eles caprichem mais.

    Ah! E, como sempre, na espera pelo Radiohead (como eu faço há muitos anos).

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