Teorias do Mestre Opala
série em 07 capítulos por Eduardo Palandi
20/10/2001

Capítulo 04
O que (até agora) houve de bom em 2001

Nesse ano de 2001, não está dando pra reclamar de bons lançamentos musicais. E olha que eu sou turrão quanto a isso. Mesmo com o fim do Napster como o conhecemos em 2000, programas como Audiogalaxy e Morpheus ainda fazem a alegria da galera, operando num caráter de suruba quando o assunto é arquivos mp3. Mas nada ainda é capaz de fazer com que o velho hábito de entrar numa loja e comprar discos com encarte e que tocam em qualquer aparelho, até mesmo nos da CCE, seja superado. Durante o ano, os artistas andaram, de uma forma geral, caprichando no conteúdo de seus disquinhos platinados, fazendo a turminha indie (sim, é você) delirar em frente às caixas de som. Destaco agora algumas boas surpresas audiófilas do ano:


1. "Rings Around the World", Super Furry Animals
. Os galeses movidos a chá de cogumelo não fizeram aqui algo hermético e gostoso como Guerilla nem tão rockão quanto Fuzzy Logic. Mas seu disco novo é, acreditem, tropical pra dedéu. A primeira música de trabalho, Juxtaposed with U, poderia vir a ser hit em Fortaleza. Destaco ainda (A) Touch Sensitive, Drawing Rings Around The World e Sidewalk Serfer Girl. Estamos na metade de outubro e, ao andar da carruagem, é disco de ano. Para os bodinhos ingleses, a alegria é maior: saiu por lá um DVD com curtas-metragens que acompanham o disco. A Sony brasileira, que já mostrou parte do flanco galês ao lançar os dois últimos dos Manic Street Preachers, bem que poderia nos agraciar com esse novo trabalho dos Super Animais Peludos.



2. "No More Shall We Part", Nick Cave & the Bad Seeds.
Grande Nick Cave, hein? Depois de um disco inteiro dedicado ao pé-na-bunda que tomou da deusa PJ Harvey, o soturno australiano, cultuado da Vila Madalena à Vila Nova Cachoeirinha, voltou com um disco bastante religioso (o que fez uma amiga minha, atéia como eu, doar sua cópia à empregada crente), mas cheio de sentimentos perdidos e de arranjos impecáveis. Se houver uma imagem que pode definir o, erm, "clima" do disco, é o título de uma das faixas: 15 pés (4 metros e meio) de pura neve branca. Nota 10 com louvor, te vejo na colação de grau.



3. "The Director's Cut", Fantômas.
Acho que não preciso apresentar o ogro Mike Patton a ninguém, né? Em todo caso, depois de findo o Faith no More, além de tocar seu projeto Mr. Bungle, o pitoresco americano decidiu fazer uma banda de "black metal burro". E conseguiu. Nesse segundo disco, escoltado por gente que já estrelou as fileiras de Melvins, Slayer e outros grupinhos seminais da vida, o Fantômas regurgita em cima de faixas clássicas que foram compostas para filmes. Existem versões para o tema de O Poderoso Chefão, O Bebê de Rosemary, Cidadão Kane e Twin Peaks, dentre outros. Deixe a preguiça de lado e baixe agora mesmo a melhor faixa, Der Golem Kampf Golem und Floriano endet mit dem Tod Florianos, trilha de algum filme alemão que eu ainda não vi. Mas de tanto que me "arrupiei" ouvindo essa aqui, vou procurar no Instituto Goethe mais perto da minha casa.



4. "Hot Shots II", Beta Band.
Vamos lá: no começo a Beta Band pra mim era uma merda. Modorrenta, mediana, banda pra publicitário que fuma Marlboro. Mas esse disco aqui é jóia. Desde a primeira faixa, a charmosa Squares, que parece recriação de tema dos musicais com o Gene Kelly, até as três penúltimas faixas, Quiet, Alleged e Gone. Por falar nisso, é impressionante como a Beta Band adora nomes curtinhos de músicas: o maior nome de canção neste Hot Shots II é o de Human Being, a graciosa faixa 3. Se você se livrou de algum grande pesadelo, aflição ou coisa do tipo, e quiser uma sensação de relaxamento total, deite-se no chão e coloque esse disco.



5. "Free All Angels", Ash.
Esse disco aqui me surpreendeu ainda mais: eu adoro o Ash, mas duvidava que eles ainda estavam por fazer seu melhor disco. O primeiro single, Shining Light, é apenas mediano, apesar de, vá lá, bonitinho. Mas essa impressão é esquecida à primeira audição de Free All Angels. Aqui, senhoras e senhores, temos uma porrada de powerpop, que não deixa nada nem ninguém parado. Um disco de rock and roll em pleno ano 2001 (confesso que em 1993, depois que eu ouvi 4 non blondes, achei que o rock morreria em dois anos, o que, ainda bem, não aconteceu). Burn Baby Burn é porrada pura (e o lado B do single é nada mais nada menos do que uma versão pra Teenage Kicks, clássico dos avós do Ash, os Undertones). Infelizmente esse disco não teve sequer edição americana (por dedução, nem brasileira), então vá pra internet e baixe-o todinho numa ferramenta de busca.



6. "The Invisible Band", Travis. O editor deste site, Marcelo Costa, já deu seu veredicto quanto ao terceiro disco dos escoceses melódicos: é culpado de fazer o mundo pior. Sabe que eu não achei? E nem é porque eu nasci na década de 80. Pra mim, é o melhor disco do Travis, tranqüilo. Além das figurinhas fáceis Sing (cujo clipe é amável) e Side (breve na MTV mais próxima de você), o disco ainda tem Flowers in the Window, Dear Diary e muitas outras coisinhas amáveis. Esse Fran Healy é um "djênio" da melodia, e isso sem falar nas belas letras e na maravilhosa foto de capa. Única ressalva: depois de fazer versões para Ronettes, The Band, Britney Spears e Joni Mitchell, agora o Travis enche os lados B de seus singles com covers de Queen, Bob Dylan e David Bowie. Ok, eu gosto de covers e as versões são ótimas... mas não seria o caso logo de lançar um disco dedicado à elas, algo na linha "Travis interpreta"?



7. "Sings... Jonathan David", Belle & Sebastian.
Não é um disco, é apenas um single. Melhor dizendo, é apenas o ("o", artigo definido) single. Disparada a melhor música do ano, totalmente sixtie e com uma letra deliciosa sobre um triângulo amoroso, todo mundo está roxo de saber. Pianinho, paradinha de bateria, vocais dobrados, refrão: pra que mais? Melhor de tudo, o Free Jazz está aí. E se você quer mais, pare de ler esse texto e vá ouvir Sigur Rós, Godspeed you black emperor e aquelas coisolas prolixas de que eu não quero saber.



8. "Gorillaz", Gorillaz.
Os indies adoram descer o sarrafo nos pobres Gorillaz; eu mesmo odiava Clint Eastwood no começo. De tanto ficar com aquele refrão na minha cachola, não deu outra: Gorillaz é muito bom, a despeito do que a gente chata do Mogwai venha a dizer. Tem Tomorrow Comes Today, 19-2000, só coisas boas no disco. E os clipes, hein? Esse ano não tem clipe melhor e é bem capaz que eles abocanhem prêmios pra caramba. Só espero que o próximo disco do Blur venha com essa mesma empolgação e eles me convençam de que o 13 foi um (enorme) acidente de percurso.


9. "Is This It", The Strokes. Não dava pra fugir do hype (no sentido brasileiro, como diz o Álvaro Pereira Júnior, a voz brasileira de São Francisco) criado em torno desses nova-iorquinos. O disco é bom, mas eu sinto que a BMG (ou RCA, se você mora lá em cima) deu umas aparadas no som da banda. Parece que originalmente as músicas seriam mais aceleradas, impressão que é confirmada pela comparação das versões compacto e álbum de The Modern Age. Ainda assim, não dá pra não resistir a New York City Cops e à melhor música do disco, Take It or Live It. Aliás, por que é que cada um aponta uma música do disco como a melhor, dá pra me explicar?



10. "Amnesiac", Radiohead.
A maior banda do mundo, e tenho dito. Seis meses atrás eu já dizia que o "Amnesiac" era o Kid B e o OK Computer 3. Mas isso é bom, oras! Nosso querido e atormentado Thomas Edward Yorke cansou de tocar Vegetable ao vivo e foi compor algo que a princípio seria menos palatável para as massas (mas que criou uma horda de fãs fiéis que cresce a cada instante). Knives Out tem uma guitarrinha delírio, já prestaram atenção? Fora You And Whose Army, com uma linda performance vocal do senhor Yorke. E pra quem ainda não se cansou da banda, dia 12 de novembro sai o disco novo, I Might Be Wrong – Live, com três do Amnesiac, quatro do Kid A e mais True Love Waits, a melhor inédita do Radiohead, em versões ao vivo.


Eduardo Palandi, 19 anos e alguns meses, pode mudar de idéia até 31 de dezembro, mas nunca vai mudar de opinião:
Tubaina é melhor que coca-cola e guaraná antartica, juntos!!!