Polly
Jean Harvey - Stories From The City, Stories From The Sea
por Marcelo Silva Costa
Especial para a revista Rock Press
maccosta@hotmail.com
O
mundo pop tem dessas coisas. Eu já tinha preparado a
minha listinha definitiva de melhores álbuns de 2000
quando um amigo me diz que o novo álbum da PJ Harvey
é simplesmente sensacional.
O ceticismo habitual sorriu, mas não é que Stories
From The City, Stories From The Sea é sensacional
mesmo? O novo álbum de Polly Jean Harvey é um
encanto matador apaixonado entre o barulhento e o intimista.
Polly
Jean Harvey retorna feliz (das trevas, diriam alguns) deixando
para traz as experimentações que marcaram seu
álbum anterior, Is this Desire?, e se apoiando
com joelhos, cotovelos e voz gritada em rocks ultra-básicos.
Resumindo: barulho e letras que valem a pena.
Logo de cara, na lata, Stories From The City, Stories From
The Sea já vale a pena. É Big Exit,
faixa 1, rock dos bons. Uma guitarra limpa e ruidosa carrega
a voz de Polly que clama por uma pistola, tentando entender
o sofrimento humano. [I wanna pistol/ In my hand/ I wanna go
to/ A different land]. Sua Fender Telecaster 1967 soa raivosa,
como alguém que range os dentes, mais por proteção
que por ataque.
O
álbum foi gravado em Dorset na Inglaterra e em Nova York,
nos Estados Unidos. Essas são as histórias da
cidade e as histórias do mar que PJ vem nos contar. PJ
vive, desde o nascimento (ela está com 31 anos) em Dorset,
cidade inglesa beira-mar em que nada acontece além das
ondas quebrarem na praia. Quando começou a preparar o
repertório para o novo álbum sentiu que as canções
estavam com muito clima de maresia. A saída foi um refúgio
em Nova York, contraponto perfeito. A escolha reflete no clima
do álbum, que fica entre asfalto e água, entre
peixes e ratos, entre barulhos de sirenes e ondas que se quebram
em rochas, entre helicópteros e pássaros. Sobre
tudo isso a bela voz de Polly Jean Harvey cantando com as unhas
no coração do ouvinte.
O
principal reflexo de Stories é que parece que
o mundo começa a sorrir para Polly. Nada parece confirmar
os boatos de que ela, que ficou dois anos sem gravar, estivesse
drogada, anoréxica, louca. Se esteve já faz parte
do passado.
Agora
cavalos estão livres em seus sonhos (Horses In My
Dreams) e ela até se sente à vontade para
destilar poesia suave em baladas lentas. Eu acho o disco feliz.
Ela, em entrevistas, diz que feliz é exagerado demais.
Prefere o termo positivo.
Em
Good Fortune diz que sente a inocência de uma criança
e na seguinte (A Place Called Home) até acredita
que, com seu amor, achará um lugar de esperança.
Em One Line declama, sobre o backing de Thon Yorke do
Radiohead (que toca teclado em outra e canta This is Mess
We're In), "And I draw a line/ To your heart today/
To your heart from mine/ A line to keep us safe". O amor.
O amor que é segredo sujo em This Is Love e que
a faz flutuar em We Float, faixa que encerra um álbum
matador.
O
mundo pop tem dessas coisas. Mulheres que fazem a gente sonhar
e mudar tudo de uma outra para outra. Deixem-me mudar a minha
lista de melhores 2000: Stories, o melhor álbum
do ano.
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