Teorias
do Mestre Opala
série
em 07 capítulos por Eduardo Palandi 02/09/2001
Capítulo
02 BANDAS
BOAS MAS NÃO A PONTO DE MUDAR VIDAS
Desde
que Elvis Presley pagou quatro doletas pra gravar seu primeiro
compacto, nos idos de 1953, o rock and roll é uma entidade
que tem um crescimento assustador. Mesmo hoje, início
de outro século, quando com tantos *N'Syncs e Ricky
Martins por aí, você se pergunta se isso é
verdade. É sim. Pode acreditar que, seja num subúrbio
de Edimburgo, numa garagem de Tacoma, num moquifo podre de Calgary
ou no quintal do teu vizinho, você pode vir a encontrar
um bando de moleques tocando rock and roll. Isso é cliché,
né não? Eu sei disso.
Mas
enfim, o rock só cresce. E nesse crescimento, é
evidente que muita porcaria vem junto. E muitas bandas medíocres
(como diria meu amigo Márcio Porto, é "medíocre
no sentido de médio, tá?"), que lançam
bons discos, tem carreiras relativamente bem-sucedidas mas,
verdade seja dita, nada revolucionário nem pessoal: nada
que mude a vida de ninguém.
Nos
anos noventa, terminados há menos de um ano, existiram
várias delas. Fizeram bons discos, que venderam bem,
emplacaram hits esporádicos, lotaram tournées.
Mas as fórmulas sonoras delas, embora diferentes entre
si, coincidem no resultado: "legal, mas e daí?".
Esse
texto é dedicado a falar de três dessas bandas;
provavelmente você conhece as três, talvez você
discorde de mim, mas enfim, vamos lá.
WEEZER
- Em primeiro lugar: falar mal do Weezer está na moda.
Mas aqui o "falar mal" não significa exatamente descer
o sarrafo. Eu gosto do Weezer, tenho os dois primeiros discos,
além das mp3 do trabalho mais recente, inspiradamente
chamado Weezer. Surgida em 1993 e com o primeiro disco
saído um ano depois, o Weezer faz um pop com guitarras
com uma certa qualidade. O primeiro disco podia ter sido bem
melhor, mas possui três músicas constrangedoras:
Buddy Holly (muito melhor na versão em português
da Bidê ou Balde,
mas muito melhor mesmo), Undone - The Sweater Song (essa
acho que nem deus salva) e Holiday (que vem a ser a música
de onde saíram todas as músicas do Loser Manos,
ops, Los Hermanos).
Coincidentemente,
Marcelo Camelo, vocalista do Los Hermanos, disse que esse foi
o disco que mudou sua vida. Talvez isso explique porque o primeiro
disco de sua banda seja tão médio, com ecos das
convenções do PSDB (onde nada se decide) e dessa
indecisão do primeiro do Weezer. O segundo, Pinkerton,
é bem melhor, e apontava caminhos para uma evolução
natural do quarteto liderado pelo geek Rivers Cuomo, mas ele
preferiu terminar a faculdade. Pena que não foi seguido
pelos fãs do conjunto, que apenas fizeram a fama do Weezer
crescer sem lançar nada após o EP Good Life,
de 1997. Esse terceiro disco também é bom mas,
assim como o Nine inch nails, parece deslocado no tempo. Se
tivesse saído em 1998 ou 1999, talvez hoje o Weezer fosse
a grande banda que os fãs acham que é.
PAVEMENT
- O recém-defunto Pavement (para Fábio Bianchini,
escritor pop, apenas "Pavê") é outra dessas bandas
cujo culto é bem maior do que a real importância.
Tenho uma certa simpatia pelo vocalista Stephen
Malkmus e pelo não-sei-o-quê Bob Nastanovich.
Aliás, a única coisa revolucionária de
verdade na banda era ele. Organista, segundo baterista, backing
vocal que limitava-se a gritar, dançarino: o Bez que
nem o próprio Bez, do Happy Mondays, foi.
É
certo que o Pavement acumulou boas músicas, especialmente
as rainhas do escracho Cut Your Hair, Stereo e
Range Life. Mas todas elas parecem ser bolas na trave:
faltou um "quê" a mais. A maior parte do que o Pavement
fez nos anos 1990 foi feito pelo The Fall desde que este surgiu,
por volta de 1976. Rock lo-fi, mal-tocado de propósito
(Mark E. Smith, líder da banda, exigia que seus recrutas
não soubessem tocar e, quando estes aprendiam, eram sumariamente
expulsos da banda, o que fez com que o Fall tivesse, no fim
das contas, um membro novo a cada 20 segundos), com letras que
sacaneassem pessoas famosas e uma experimentação
moderada. Mas nada que marcasse época, novamente. Resta
torcer pela carreira de Stephen Malkmus como solista, e pra
que mais bandas tenham loucos no palco como o Pavement teve,
mas que não foi o bastante.
BLUR
- Os ex-queridinhos da ilha. Das três bandas citadas,
a que mais se aproximou de ser uma banda de primeiro escalão,
coisa que seus rivais do Oasis conseguiram. Damon Albarn, Dave
Rowntree, Graham Coxon e Alex James quase, mas quase mesmo chegaram
lá. Fizeram um disco maravilhoso, "The great escape",
em 1995, muito melhor do que o superestimado e não tão
bom Parklife, de um ano antes. Emplacaram diversos compactos
de qualidade nas paradas Girls and Boys, Beetlebum, There's
no Other Way, e só não emplacaram mais porque
escolheram mal algumas músicas de trabalho (eu não
tenho dúvidas que Fade Away e Globe Alone
seriam sucessos maiores do que Country House e Stereotypes).
O
Blur tinha muito talento musical, sabiam experimentar e compor
refrões ao mesmo tempo. Mas se esqueceram de algo fundamental:
atitude. Liam e Noel Gallagher, do Oasis, foram os garotos maus
do pop inglês na década passada; Brett Anderson,
do Suede, era o tarado,
que sempre fazia pensar em sexo. Jarvis Cocker fazia o papel
do cronista social. Enquanto isso, o que Damon Albarn fazia?
Era o bom moço, inocente até a medula, que fazia
os "nanananananananana" cretinos de Charmless Man, uma
ótima música com uma idéia errada por trás.
Um amigo disse que a culpa do Coldplay
ser chorão está no fato de que Chris Martin
e seus asseclas ouviram Smiths ao invés de Kiss. Eu já
acho que o problema deles foi querer imitar a atitude do Blur.
E de nada adiantou o Damon Albarn dizer "eu não tomo
drogas, mas o Brett Anderson cheira pó" e "se o mundo
fosse cheio de bandas como o Travis,
seria um lugar bem mais chato de se viver"; já é
tarde demais e, pra piorar, o Blur ainda lançou um disco
como o 13 dois anos atrás.
Eduardo
Palandi, 19 anos, tem um disco do Pavement, dois do Weezer e
seis do Blur. Mas gosta mesmo é de um Suedão "irado,
maníaco, posudo, visceral", segundo ele.
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