Faixa
- a - Faixa: Se sexo é o que importa, só o rock é
sobre amor (Bidê ou Balde)
por
Marcelo Silva Costa
Eles
são amigos do Beck (risos) que, inclusive, sugeriu o nome da banda
(mais risos). Dave Grohl (muito mais risos) é outro que ficou entusiasmado
com esse grupo gaúcho, principalmente após saber da homenagem
escrita para sua atual namorada, Melissa (hahahaha). Eles pretendem ainda
criar o Império da Lã, para dominar o planeta. No meio de
toda essa palhaçada, e outras mais, está a Bidê ou
Balde.
Depois de anos tendo que aturar centenas
de bandas ruins no Brasil (a lista é infinita), surge uma banda
do caralho, pronta para fazer o país inteiro cantar, das Guianas
até a Patagônia. Com vocês, a BoB e seu Se
sexo é o que importa, só o rock é sobre amor.
1) Melissa
– A canção chiclete que fez um grande sucesso em Porto Alegre
no ano passado, ainda em versão demo. Uma guitarra zumbindo, outra
fazendo efeitos e o refrão antológico com pinta de declaração
de amor – se tu quiser que eu te leve, eu aprendo
a dirigir – que ganhou até um comentário
bacana do escritor pop André Takeda, que segue como apêndice
no final.
2) Buddy
Holly – Versão fidelíssima para o pequeno clássico
do não menos clássico primeiro álbum do Weezer. Ficou
tão bacana que o próprio Rivers Cuomo aprovou. Uh-Ih-Uh
eu pareço Buddy Holly...
3) Tudo bem
– Baladinha rocker bacana de fim de relacionamento com meia
citação do Rei Roberto Carlos.
4) E
porque não? – Lolitagem. O cara viu a garota
nascer, deve ter a pego no colo, mas agora declara: eu estou
amando a minha menina. A guitarra é efeitos e o baixo
carrega essa canção de amor. Canção
de amor? E porque não?
5) Sr. Promotor
– Um riff matador e mais uma garota surge: Heloísa. Outro
riff que gruda na cabeça, um teclado manero e os backings geniais
de Katia e Vivi para contar a história de um promotor que não
sabe que a gatinha dele está saindo... com outra.
6) (Eu te
amo) Lucinda – Balada bluezy de boteco que se declama para mais
uma garota, a Lucinda.
7) Me envergonha
– O baixo na frente, novamente, carrega uma letra cheia de citações
que culmina com, nos teclados... Luiz Schiavon! Canção
chinela demais.
8) Spaceball
– Outro grande momento do álbum que funciona bem demais
ao vivo, com seu corinho PA PA RA PAPAPA RA. Na letra, uma visita a uma
festa com a família (Kim) Gordon (Thurston) Moore em que todo
mundo que chegava tocava nas quase 12 guitarras. Dez.
9) Gerson
– Genial. A garota se foi e deixou o filho, Gerson. E é
só olhar para o Gerson e lembrar dela... Rock song lenta e divertida
com uma guitarra preguiçosa e tosca até não poder
mais.
10) Vamos
para uma excursão – Essa tem tudo para virar hino de
festa. O refrão é para pular abraçado com os amigos
e jogar cerveja pra cima, numa letra que ainda acha espaço para
elogiar o Fábio Jr. No fim, e sempre, eu só sei
que tudo que eu quero é te abraçar...
11) K7
– A declaração de amor na canção mais pesada
do CD não é para uma garota e sim para uma fita cassete,
afinal, o auto-falante que ele amava o deixou! Citação de
Flaming Lips, letra comédia declamada no meio, backings no talo
e muita, mas muita festa.
12) Back
to quinze – A faixa final é tola como “Rock Around The
Clock” ou “Tutti Frutti”. Serve-se da frase bacana eu não como
mais biscoito, agora eu só como você para arrancar sorrisos
e pulos do público. E assim termina o primeiro grande álbum
do rock brasileiro do ano.
O Homem Pop é a coluna semanal
que o escritor pop André Takeda escreve na revista eletrônica
London Burning. Nessa coluna, em especial, Takeda traduzia tudo que um
simples refrão traz de bom:
O Homem
Pop
por André
Takeda
Você dirige por quem?
Está aberta a temporada de
caça ao hit do verão. E o meu palpite (se as rádios
colaborarem, claro) é "Melissa" dos gaúchos da Bidê
ou Balde. Sucesso absoluto em Porto Alegre, esta pop song com ecos de Weezer
e Rentals tem tudo para conquistar o Brasil. É o exemplo do pop
perfeito: tem punch, tem melodia, tem refrão. E que refrão.
E é justamente por causa de
seu refrão que "Melissa" aparece no Homem Pop desta semana. "Se
tu quiser que eu te leve, eu aprendo a dirigir" é, além de
uma belíssima declaração de amor (nos mesmos moldes
de "eu roubo um carro pra te levar pra casa" do Teenage Fanclub), uma pequena
amostra do papel masculino nos dias de hoje. Você acha que estou
ficando louco? Então acompanhe meu raciocínio e veja que
o rock sempre tem resposta para tudo.
Até bem pouco tempo atrás,
homem de verdade tinha que gostar de duas coisas: futebol e carros. A primeira
perdeu um pouco de sua força devido às péssimas atuações
da Seleção Brasileira, mas nunca perdeu seu status de paixão
nacional. Com muito marketing e dezenas de campeonatos por ano, os clubes
conseguiram formar um exército de torcedores que lota estádios
e consome de camisetas a balas com as cores de seus times. E os carros?
Bem, os carros nascem na cabeça
dos meninos como objetos de obsessão durante a infância. No
entanto, durante a adolescência existem três caminhos a seguir:
1. continuar obcecado por carros; 2. ver os carros como algo essencial
para sair com as meninas; 3. não dar a mínima para carros,
afinal de contas, são apenas um meio de locomoção.
A conclusão que temos ao ouvir o refrão de "Melissa" é
que aqueles que optaram pelo caminho número 3 já estão
deixando a vergonha de lado. Veja, por exemplo, este que vos escreve. Eu
não gosto de carros. Eu não dirijo. E eu morria de vergonha
por causa disso. Acredito que no início dos meus vinte anos deixei
de sair com diversas (vá lá, algumas) meninas porque não
tinha carro. Mas nada era pior do que ouvir minha família me olhando
como se eu fosse um anormal. E hoje eu não dou bola. Nem me arrependo
de ter tido uma vida sexual menos intensa devido à falta da carta
de motorista em minha carteira.
Carlinhos, o vocalista e frontman
da Bidê ou Balde, canta o refrão de "Melissa" com tanta sinceridade
que você consegue perceber que ele não dá a mínima
ao fato de não saber dirigir. O único problema é que
Melissa está sem carona. Veja bem, ele não quer aprender
a dirigir porque gosta de carros ou porque quer se dar bem com as garotas.
Não são garotas. É a garota. Por ela, vale a pena
sentar atrás do volante. Lindo isso, não?
Você deve estar perguntado se
eu já senti vontade de aprender a dirigir por causa de uma mulher
em especial. E quer saber mesmo? A resposta é não. Até
porque todas as mulheres por quem eu faria este esforço sobre-humano
tinham carro. Não sei não, mas acho que o destino quer que
eu passe a vida inteira no banco do carona.
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André
Takeda, é editor da revista literária TXTmagazine.com e escrevia
ficção para a London Burning em sua extinta coluna "Soundtracks".
Com "O Homem Pop", sua nova coluna semanal no site LB, está empenhado
em dissecar o papel do homem no próximo milênio. |
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www.londonburning.cjb.net
www.txtmagazine.com |
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