Entrevista: Zeca Baleiro fala do novo disco, “Mambo Só”, de Chico César, Portugal e de como “estamos todos um pouco bipolares”

entrevista por Pedro Salgado, especial de Lisboa

No ano em que comemora 26 anos de edições discográficas, um percurso que se iniciou com o disco “Por Onde Andará Stephen Fry?” (1997), mas que se traduz em quase 40 anos de carreira, Zeca Baleiro tem mantido uma atividade intensa e estabelecido diversas colaborações musicais. Recentemente, Zeca cantou o pop tranquilo de “Tão Distraídos” com o músico Gabriel Elias, dividiu o microfone com a cantora Rosana na balada pop soul “Setembro” (uma música composta por Zeca e Wado) e aceitou um convite do seu amigo Edy Star para participar da gravação de “Cabras Pastando”, uma faixa de 1976 de Sérgio Sampaio, que figurou no álbum de Edy “Meu amigo Sérgio Sampaio” (2023), como também gravou com Bruna Caram, Luiz Felipe Gama, Laksmi, Hecto, Patricia Ahmaral e Mazzan.

Contudo, na animada entrevista, por Whatsapp, que me concede, o assunto com que começamos é seu álbum mais recente, “Mambo Só” (2023), o sucessor de “Canções D´Além Mar” (2020), disco em que Zeca interpretou compositores portugueses. O novo disco autoral tinha sido pensado inicialmente como um EP e Zeca Baleiro elaborou um plano com a sua equipe para apresentar uma sequência de cinco singles e acabou por lançar um single a cada semana, que resultou bem. Como tinha muitas canções guardadas, isso levou-o a acelerar o processo e a fazer um álbum com 10 músicas e quatro vinhetas. Embora improvisado e sem muita pretensão, “Mambo Só” revela um apreciável frescor sonoro e variedade musical, versando temáticas atuais como o refúgio, as redes sociais e a tecnologia com perspicácia e sentido crítico.

Quando o questiono sobre o patamar em que coloca “Mambo Só” relativamente a álbuns clássicos como “Vô Imbolá” (1999), “Líricas” (2000) ou “Pet Shop Mundo Cão” (2003), Zeca Baleiro admite a menor cotação dos lançamentos no contexto presente, mas defende a qualidade do trabalho: “Acho que o valor da edição de um disco está muito relativizado e até subvalorizado pela própria natureza que o mercado tem hoje. Os trabalhos que você citou são de uma época em que o álbum era muito reconhecido, em que saía uma resenha no jornal ou passava num programa de auditório popular na televisão, como no programa do Jô Soares, havia uma entrevista e tocavam-se as canções. É um tempo que acabou e se o disco não for divulgado nas redes sociais pouca gente ouve falar dele. Está tudo bastante disperso e pulverizado. Se este trabalho tivesse sido lançado há 20 anos, provavelmente teria um status de álbum clássico, porque é muito diverso e cheio de ironia. Ele aborda o tempo presente com humor e graça e tem questões sérias versadas com algum lirismo. Nesse sentido, ‘Mambo Só’ talvez esteja na lista dos discos que você falou, mas hoje é apenas mais um e infelizmente é assim”.

Uma das iniciativas interessantes, dentro do pacote comemorativo dos 26 anos de trajeto, refere-se à edição do livro de pequenas memórias, “Nomes e Coisas”, em que Baleiro recorda alguns parceiros e ídolos musicais e as várias experiências que viveu com esses artistas. “O que me despertou verdadeiramente para escrever o livro foram as duas biografias do Belchior que eu li. No ano de 2013 fiz um show com a Orquestra de Câmara da Ulbra, em Porto Alegre, e sabia que ele morava meio escondido numa cidade local. Alguns amigos disseram-me para o procurar. Eu encontrei-o no interior do Rio Grande do Sul, por acaso. Tomámos um vinho, conversamos e reparei que Belchior estava um pouco abatido. Ele viria a falecer quatro anos mais tarde. Quando li as várias versões do encontro, que apareceram nos livros, percebi que cada uma era contada de modo diferente. No entanto, há uma história curiosa por detrás disso, porque nós éramos colegas, conhecíamo-nos, encontrávamo-nos, ele sempre foi gentil comigo e tentamos combinar algumas reuniões e jantares. Por isso, eu quis contar esse episódio tal como aconteceu. Eram relatos curtos de duas ou três laudas e a partir daí vieram textos que eu escrevi, por encomenda para jornais, sobre a morte de Luiz Melodia e Moraes Moreira e a importância do Raul Seixas. Eu fui compilando essas coisas e escrevendo outras relativas à minha relação com Fagner e Itamar Assumpção, bem como brigas, desentendimentos e tudo isso. Juntei as histórias todas, mas só conseguirei lançar o livro no próximo ano”, explica.

Zeca Baleiro é muitas vezes apontado como o artista ‘mainstream’ mais alternativo do Brasil, uma definição que o convido a comentar e que aceita sem reservas: “Tanto eu como o Chico César participávamos em programas de televisão populares, mas éramos cultuados por pessoas mais alternativas, inteligentes e universitárias. Reconheço que ficamos nesse meio lugar. É uma posição confortável, porque eu posso fazer um disco de samba agora e se ninguém o ouvir não é problemático. Também poderão escutá-lo por curiosidade e pelo fato de eu não ser um compositor especializado no samba e ter-me aventurado por aí. Sinto que criamos uma certa liberdade e autonomia que nos permite fazer qualquer coisa. Isso é bacana”.

Ao longo do seu percurso artístico, Zeca Baleiro assinou vários álbuns e colaborações musicais, enveredou por áreas culturais diversas como o teatro, cinema e literatura ou a dança e ganhou em 2021 o Grammy Latino de Melhor Álbum de Música Popular Brasileira (MPB) com o disco “Canções d’Além Mar”. Por essa ordem de razões, o desejo de empreender novos projetos e a motivação para os concretizar é uma questão em aberto e que se justifica colocar em função das várias facetas que compõem a sua identidade. “Eu gostaria de me aventurar pelo cinema e fazer alguma coisa ligada à área documental, que é um segmento que aprecio bastante e, em particular, documentários históricos e biográficos. Existem três personalidades que estão na casa dos 70, 80 anos, das quais pretendo produzir algo nesse patamar até ao final do ano, sempre com a parceria de alguém com mais experiência. Tenho boas ideias para roteiros e quero levar a cabo esses projetos. No teatro, agradava-me igualmente exercer funções de direção, no futuro. É uma arte que eu gosto muito e trabalho com teatro desde os meus 17 anos, por isso tenho muita intimidade. Também vejo com bons olhos a possibilidade de fazer uma ópera, mas quando estiver velhinho eu tento (risos)”, conclui.

De São Paulo para Lisboa, Zeca Baleiro conversou com o Scream & Yell. Confira:

O seu álbum mais recente, “Mambo Só” (2023) tem duas músicas que revelam emoções particularmente diferentes. O single “Vento de Outono” exibe um sabor de reggae adocicado e parece conter uma mensagem apaixonada em contraste com o cruzamento de mambo e bolero da faixa-título que aborda a solidão. Qual destes estados de espírito o definem melhor em 2023?
Ótimo (risos). Boa pergunta. Acho que estamos todos um pouco bipolares, atualmente. Num dia acordamos felizes e queremos levar flores ao vizinho e noutro dia sentimo-nos deprimidos e desolados. As pessoas estão muito instáveis. Acaba por ser aquilo que o pensador polonês Zygmunt Bauman definiu como “tempos e amores líquidos”. Esse conceito é muito preciso, porque vivemos uma era em que nada é palpável ou definitivo e tudo é provisório. Na realidade, pessoas como eu e você ou de outras gerações já passaram por outros tempos, em que havia mais vida comunitária, vida de bairro e sociabilidade e este período traz muita instabilidade emocional. Como compositor e cronista que sou vou falando de todos os assuntos. O personagem da faixa “Mambo Só” é uma figura muito solitária, dentro da solidão urbana e contemporânea, e que vai ao Starbucks para ouvir o nome dele e não se sentir tão só. Já o sujeito de “Vento de Outono” é uma personagem saudosa, andando pelas ruas. Como a minha rua tem muitas árvores, na pós-pandemia ficou um tapete de folhas secas no chão e isso inspirou-me a fazer uma canção amorosa. Em cada dia há um estado de espírito diferente que me leva a compor uma música nova e isso é bom.

Para além de “Mambo Só”, você também planeja lançar um disco autoral de sambas (produzido por Swami Jr.) e um álbum em parceria com Chico César. Gostaria que me falasse um pouco desses trabalhos e me dissesse se o álbum com Chico César seguirá a positividade e os caminhos da soul, do reggae, ska e das baladas que os singles duplos editados anteriormente evidenciaram.
O disco de sambas vai chamar-se “O Samba Não é De Ninguém” e a capa foi o último trabalho que o Elifas Andreato fez sob encomenda, porque ele morreu no ano passado. Ele foi o autor de capas clássicas de Paulinho da Viola, Chico Buarque, Martinho da Vila, Clara Nunes e Elis Regina. O Elifas fez muitos álbuns de samba e nós vamos lançar esse disco em vinil. Relativamente ao trabalho com o Chico César, ele está em fase de finalização. As composições com o Chico foram feitas bem no momento da pandemia que para nós (brasileiros) foi mais sofrida do que para vocês (portugueses). Nesse período tivemos o surto propriamente dito e a crise política que foi terrível para o Brasil. Era um tempo de muita angústia, desespero e solidão. Mas, as canções são de esperança e louvam a resiliência. Todas elas têm esse tom com exceção de uma ou outra mais melancólica. As músicas são de um período crítico, mas exibem confiança. O disco com o Chico César tem o nome provisório de “Ao Arrepio da Lei”, que é a música de abertura do álbum. É um trabalho com muita variedade e tem canções étnicas, líricas, samba e forró. O nosso modo de compor é mesmo assim porque buscamos a diversidade. Escolhemos 11 canções, das 20 que fizemos, para integrar um álbum enxuto e pequeno, porque hoje ninguém tem mais tempo para ouvir demasiadas músicas. Ele deve ser lançado entre Janeiro e Fevereiro de 2024 para podermos editá-lo em vinil. Acho que é um acontecimento que se justifica, por se tratar de uma união de dois colegas de carreira e geração e é algo raro de suceder. Mas, quando acontece, vira um ato histórico e mediático como Jorge Palma e Sérgio Godinho ou Gilberto Gil e Milton Nascimento. Pretendemos fazer alguns concertos e temos alguns agendados para o início do próximo ano e o que será só Deus sabe (risos).

Que memórias guarda dos shows que fez em Portugal e o que podemos esperar do seu espetáculo, “Na Ponta da Língua”, que passará por Coimbra (12 Outubro), Lisboa (13 Outubro) e Porto (14 Outubro)?
Eu tenho memórias de muitos espetáculos interessantes que fiz em Portugal. Desde o Centro Cultural de Belém, em Lisboa, ou o Coliseu do Porto, que já lotqmos duas vezes. Mas, a maior recordação que eu guardo é a dos grandes concertos, como por exemplo a apresentação com o Sérgio Godinho na Festa do Avante (2000) e depois com o Jorge Palma no Rock In Rio Lisboa (2010), que foi um show sensacional. Também estive no interior mais remoto do país, em atuações que às vezes resultavam de estratégias dos promotores locais para otimizar o tempo e isso daria para escrever um livro porque aconteceram histórias incríveis. Recordo-me de duas pessoas a assistirem ao show e as outras bebendo e comendo numa determinada festa popular. Isso tem muito a ver conosco, porque às vezes tocamos no Brasil profundo e não conhecem o nosso trabalho e noutras ocasiões surpreendem-nos e cantam as canções. É um fenômeno típico do interior profundo dos países. Relativamente ao espetáculo “Na Ponta da Língua”, o título partiu de uma sugestão do José Manuel Diogo que preside à Associação Portugal-Brasil 200 anos e se tornou meu amigo. É uma forma de associar o show e a música com a causa que eles estão a defender que é a cidadania da língua e vai inclusivamente haver a inauguração de uma casa em Coimbra. Eu considero que se trata de um bom projeto e espero que dê resultados concretos e não fique só no plano teórico. Tem que haver ação, uma aproximação de verdade e uma interação criativa, econômica e humana, porque a relação entre um país colonizador e um país colonizado é sempre de conflito. Hoje, o contingente de brasileiros em Portugal é muito grande e o processo tem de se tornar harmonioso. A arte pode ser um agente decisivo nessa união, mesmo que não seja completa, porque a vida é complexa. Achei o convite interessante e fiquei bastante feliz por levar o meu trabalho a Portugal. Faz cinco anos que eu atuei com a Zélia Duncan, por isso pretendo trazer o meu trabalho autoral e tocar pelo menos quatro ou cinco músicas do “Canções D´Além Mar”. Em Lisboa devemos ter a participação da nova formação do Ala dos Namorados e do Manuel Paulo (ex-integrante da Ala dos Namorados) que também fará uma parceria. A Susana Travassos (cantora da região do Algarve, sul de Portugal), que já morou no Brasil e é muito interessante, embora pouco conhecida em Portugal, deverá igualmente cantar uma canção. Eu convidei A Garota Não (nome artístico da cantora e compositora setubalense Cátia Oliveira) e ela ficou interessada, mas estava com a agenda muito preenchida e acabou por declinar com bastante pena. Mas, ainda estamos a tentar que mais algum artista português entre no concerto. O Caetano Veloso atuou em Portugal recentemente, a Carminho participou no show dele e essas coisas aproximam-nos, mesmo que sejamos muito próximos e igualmente muito diferentes. Isso possibilita a agregação de valores e a integração da língua. Vamos aprendendo a falar o vosso português e vocês o nosso e avançamos na relação. Por isso, voltando ao alinhamento do show, tocarei metade do repertório autoral, de que o público tem saudades, e um terço do concerto será composto por músicas portuguesas.

Já pensou na possibilidade de avançar com um segundo volume de “Canções D’Além Mar” (2020) e sobre novos compositores portugueses que gostaria de reler?
Eu tenho pensado na possibilidade de fazer um novo volume e alguns amigos mais jovens de Portugal têm-me cobrado isso. Mas, como já falei, em primeiro lugar precisava de pagar o tributo aos compositores dessa geração que me fizeram conhecer a música portuguesa contemporânea. Estou a falar, por exemplo, do Fausto que seria o equivalente na MPB ao Chico Buarque, Milton Nascimento, Caetano Veloso e Jorge Ben Jor, etc. Eu também tenho escutado as novas gerações e músicos como Salvador Sobral, Samuel Úria e Tiago Bettencourt. Acho que o trabalho deles é bastante valioso. Foi uma transição lenta, com algumas coisas no meio do caminho, mas agora há muita gente a fazer música interessante em Portugal. E fazem-no reverenciando os mais velhos, o que não é comum. No Brasil, temos artistas como Jards Macalé, que tem 80 anos, a lotar teatros com público de 25 e 30 anos. Pelo que me parece à distância, a cena portuguesa está incrível. Eu gostaria que houvesse alguma aproximação e quem sabe fazer um documentário, um disco, uma troca musical ou tocarmos juntos. No momento, estou a equacionar esse trabalho.

“Telegrama” continua a ser um tema-chave no seu repertório e uma canção com a qual o público o identifica. Qual é a explicação que atribui para a transversalidade da música?
Cara, nem eu sei (risos). Acho que ela merece uma tese acadêmica, porque é uma música estranha. É simples musicalmente, mas tem uma letra provocadora e há um amigo meu que diz que ela é perigosa e está no limite da incorreção. A estrofe “Mais sem graça que a top model magrela na passarela” se tivesse sido escrita hoje talvez eu fosse cancelado. E as frases “Tava mais bobo que banda de rock” e “Mais solitário que paulistano” revelam que existem imensas provocações. É intencional mesmo. No fundo, é uma brincadeira e a prova disso é que eu não emprego um tom beligerante ou belicoso. Também tenho outro amigo que diz que a canção traça o perfil de um bipolar, já que no final da música o sujeito explode de alegria e quer levar flores ao delegado. A mim surpreende-me e eu canto-a agora como se fosse de outro compositor e não minha, uma vez que se tornou tão popular e distante. No Spotify tem quase 100 milhões de streamings e cantam-na à noite em bares, tal como fazem os músicos de rua e do metrô. É uma loucura e extrapolou o meu trabalho. Mas, eu não quero só ser lembrado como o autor de “Telegrama” (risos). O mais curioso é que a comunicação postal já era obsoleta na época em que eu a compus e hoje então nem se fala. E mesmo assim as pessoas cantam-na a plenos pulmões. É uma faixa que merece uma investigação, mas também é muito bom ter um sucesso dessa magnitude e ele às vezes salva um show. A canção tem versões em sertanejo, samba, forró ou reggae e continua a ser uma loucura. Gostaria de recordar igualmente que participei recentemente num evento na Casa de Portugal, em São Paulo, fazendo um debate pela integração da língua nos países lusófonos, e alguém me perguntou se a música tenderia a ficar obsoleta porque o português com bigodão da padaria já não existe mais. No entanto, é preciso referir uma coisa: eu moro há 30 anos em São Paulo e esse personagem é paulistano e nem é de Portugal. Se eu cantasse sobre um espanhol da padaria, que existem alguns, eu não seria tão verosímil como o português da padaria. Em cada esquina há uma padaria e geralmente são mesmo de famílias portuguesas. Por isso, é uma instituição mais paulistana do que lusitana (risos).

Quando o entrevistei há três anos, você referiu que o Brasil atravessava um momento difícil e que a cultura estava muito demonizada. Como vê o quadro atual e que perspectivas antevê para os artistas brasileiros no futuro?
Há problemas estruturais que estão na origem da discussão da própria cultura e não estão relacionados com nenhum político. Naturalmente, o governo Bolsonaro foi desastroso ao nível cultural. Muitas pessoas, artistas e técnicos passaram fome, que no fundo representou uma cadeia produtiva imensa. Existe uma demonização da Lei Rouanet, que é uma lei de mecenato, e até existe em países ricos e cito o exemplo da Dinamarca. Não se trata de saber se houve corrupção, isso é outro assunto, porque a lei é importante e necessária. A música é uma arte que se sustenta mais a nível de mercado, mas a dança e o teatro se não forem incentivadas por leis dessa natureza não acontecem. Porque são artes sem garantia de público. A música popular e o cinema são mais mercantis. Quando os artistas se colocam no lado certo da história e da democracia, as pessoas acham que eles são “mamata” e estão a mamar nas tetas da Lei Rouanet. Mas, ela é complexa e deve existir um enquadramento semelhante em Portugal, uma lei de isenção de impostos em que há uma averiguação minuciosa dos projetos. Por isso, não passa por o artista aparecer e jogarem dinheiro na janela. Os idiotas da extrema-direita acham que é assim e usam esse argumento para desqualificar e desmoralizar os criativos. Eu considero-me um artista de mercado e nunca fiz uso dessa lei nem acho que deva fazer. Mas, é justo que outros em estágios de carreira diferentes o façam. Também é razoável que as empresas sejam isentas de 4% de imposto de renda para poderem investir, embora seja muito pouco. Há ajustes que são feitos, dado que todas as leis têm de ser atualizadas, mas existem outras regulamentações estaduais e regionais. Quando o Bolsonaro saiu de cena e o Lula entrou o panorama mudou logo. Ele nomeou para ministra da cultura uma artista, preta, baiana, com uma certa história de militância e simbolicamente já alterou tudo. Agora falta mudar na prática, porque o Brasil tem muita gente a produzir cultura. Ela é o nosso grande patrimônio. O dinheiro que a cultura e o turismo movem no Brasil é algo absurdo. Se não pelo aspeto intelectual e cultural que seja pela ótica econômica. É uma coisa que traz muitas divisas para o país. Mas, é um processo lento, porque os cofres públicos ficaram devastados pelo governo do Bolsonaro.

– Pedro Salgado (siga @woorman) é jornalista, reside em Lisboa e colabora com o Scream & Yell desde 2010 contando novidades da música de Portugal. Veja outras entrevistas de Pedro Salgado aqui.

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