Boteco: 12 cervejas nacionais

por Marcelo Costa

Abrindo mais uma sequencia de cervejarias com a Blondine, de Itupeva, no interior de São Paulo, que retorna ao site com uma de suas Catharina Sours frutadas, a Tropical Jabuticaba, uma cerveja de coloração avermelhada e creme branco de baixa formação, mas boa retenção. No nariz, percepção suave de acidez, frutado tendendo ao cítrico e também a frutas vermelhas (mais morango do que jabuticaba, algo que também acontece na Dogma Samba Sauce). Na boca, porém, há mais jabuticaba no primeiro toque do que em todo o aroma, e ainda sobra um pouco pra sequencia, ainda que a acidez distraia o bebedor. Não há amargor, o azedinho é bem leve e a acidez, moderada. A textura é frisante leve e, dai pra frente, surge uma Catharina Sour perfeita para o verão, com álcool baixo (3.8%) e muita refrescancia. No final, frutado e adstringência suave. No retrogosto, morango, jabuticaba e frescor.

Produzida pela Cervejaria Imigração (da linha Roleta Russa) especialmente para o Grupo Pão de Açúcar, a linha Fábrica 1959 chegou aos supermercados da marca no segundo semestre de 2019 com quatro estilos: Pilsen, Weiss, Witbier e essa IPA, uma cerveja de coloração dourada translucida com creme branco de ótima formação e retenção. No nariz, um aroma delicioso que combina notas florais, cítricas e, principalmente, herbais, com leve remissão a pinho, que se destaca. Há, ainda, percepção suave de doçura maltada. Na boca, doçura herbal suave no primeiro toque abrindo com delicada presença de pinho, um toque sutil de ervas e um amargor limpo e equilibrado, 58 IBUs que soam a metade disso. A textura é suave, com discreta picância. Dai pra frente, o lúpulo herbal brilha numa receita simples e muito deliciosa, um custo beneficio incrível. No final, pinho e amarguinho. No retrogosto, refrescancia.

Voltando a São Paulo, mais precisamente para Várzea Paulista, casa da Dádiva, local onde a Cervejaria Treze produziu essa Mata, uma Milkshake Sour IPA com cereja do mato, lactose e baunilha. De coloração amarela meio dourada translucida com creme branco de média formação e retenção, a Treze Mata apresenta um aroma que combina delicada sugestão de fruta (cereja do mato com um pouco de lichia, de abacaxi maduro e maçã verde) com um suave azedinho e doçura. Na boca, frutado com leve acidez cítrica no primeiro toque abrindo para sugestões frutadas que vão cereja do mato a pêssego passando por lichia e abacaxi maduro. Não há percepção de amargor, e o perfil de azedume é moderado. Já a textura é suave e levemente picante. Dai pra frente, uma Milkshake Sour que não soa tão Milkshake, mas entrega com delicadeza atributos dos dois estilos, com doçura e textura bastante suave, e acidez moderada. No final, frutadinho cítrico tirado do pé. No retrogosto, doçura, azedinho e refrescancia.

De São Paulo para Curitiba com mais uma Morada Cia. Etílica, desta vez uma NE Fruit IPA chamada Mangossaurus cuja receita recebe adição de polpa de manga. De coloração amarela, turva, juicy como um suco, e creme branco de boa formação e retenção, a Morada Mangossaurus apresenta um aroma com suaves notas frutadas sugerindo manga e, também, abacaxi e pêssego além de leve sugestão dos 6% de álcool. Na boca, as frutas aparecem novamente no primeiro toque com a manga, claro, em destaque, mas também com presença de sugestão de abacaxi maduro e pêssego. O amargor é médio, 42 IBUs interessantes. Já a textura é suave, sedosa, como manda o estilo. Dai pra frente, a sensação de suco de frutas amarelas aumenta, a percepção de álcool diminuiu, e vence a refrescância, com um leve traço de amargor resinoso no final. No retrogosto, resina, amargor leve e frutas.

Mantendo-se no Sul do país, mas saindo do Paraná para o Rio Grande do Sul, mais precisamente Campo Bom, com mais uma cerveja da linha Barbarella Fruit Beer, dessa vez a que recebe adição de suco de pomelo, a fruta que combinada com a laranja resultou na toranja. De coloração amarela turva tal qual um suco concentrado e creme branco de média formação e rápida dispersão, a Barbarella Pomelo exibe um aroma com percepção de doçura intensão e sugestão impactante de pêssego em calda. Na boca, muito pêssego em calda no primeiro toque seguido de doçura acentuada, mais pêssego e nadica de amargor (são 8 IBUs, mas poderia ser -8 IBUs). A textura é suave com o suco fazendo a festa sobre a língua. Dai pra frente, uma cerveja refrescante e com presença exagerada de suco, que acaba encobrindo o perfil de malte, levedura e lúpulo. No final, pêssego e doçura. No retrogosto, calda de pêssego.

Do Sul para o interior de São Paulo, Ribeirão Preto, que retorna ao site com mais uma receita da série Brasil com S, a número 8, uma Amber Lager com castanha de baru. De coloração âmbar translucida com creme bege clarinho de boa formação e retenção, a Colorado Brasil com S – Amber Lager com castanha de baru apresenta um aroma maltadíssimo, com sugestão caprichada de malte tostado, caramelo tostado e leve remissão a frutas escuras. Na boca, a percepção do malte tostado assume o primeiro toque e, dai em diante, continua dando as cartas acrescentando ainda frutado e leve percepção do baru – as notas de tosta não abrem as portas facilmente. Quase não há amargor (11 IBUs) e a textura é leve com sutil cremosidade. Dai pra frente, uma Amber Lager bem tradicional, com o malte tostado dando as cartas e o baru acrescentando delicada profundidade nas notas frutadas. No final, tosta. No retrogosto, frutas escuras sutis.

De Ribeirão Preto para Curitiba com uma colaborativa internacional da Bodebrown, a The Trooper Brasil IPA, uma Session IPA que combina os lúpulos Sorachi Ace, Amarillo e Sabro com adição de nibs de cacau da cidade de Ilhéus numa receita que acaba se aproximando (demais, inclusive) de um dos hits da casa, a Cacau IPA. De coloração âmbar translucida com creme bege clarinho de média formação e rápida dispersão, a Bodebrown The The Trooper Brasil IPA apresenta um aroma com intensa presença de cacau ao lado de sugestões de baunilha e sutil presença cítrica. Na boca, cacau intenso no primeiro toque permitindo, na sequencia, uma leve presença cítrica que remete tanto a laranja quanto a manga. São 21 IBUs adiantados pela casa, mas parecem 10 – talvez menos. Já a textura é leve desejando ser suave. Dai pra frente, a sensação é de que essa The Trooper é uma versão Session da Cacau IPA, mas que não mantém o mesmo nível. No final, cacau e guaraná. No retrogosto, laranja, cacau e guaraná.

Ainda no Sul do país, mas saindo de Curitiba para Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul, com mais uma cerveja da Heilige a passar por aqui, dessa vez a Belgian Saison da casa, uma cerveja de coloração âmbar translucida com creme bege claro de média formação e retenção. No nariz, notas frutadas com leve remissão a frutas escuras (algo meio raro no estilo), caramelo, leve sugestão de uva verde e de especiarias. Na boca, doçura frutada no primeiro toque seguida de percepção de uva branca, frutas cristalizadas, caramelo e especiarias bastante sutis, mas presentes. O amargor é bem baixo (não deve passar dos 20 IBUs) e a textura é suave e delicadamente picante. Dai pra frente, uma Belgian Saison meio torta, mas interessante com caramelo e uva verde brilhando. No final, doçura maltada, caramelo e até madeira. No retrogosto, caramelo, uva verde e doçura.

Saindo do Sul para a capital paulista primeiramente com uma cerveja da Dogma, produzida no taproom da marca, no bairro de Santa Cecilia. Trata-se da New Dope, Uma Double India Pale Ale (Dipa) com lactose. De coloração dourada, turva, com creme branco espesso de boa formação e retenção, a Dogma New Dope apresenta um aroma que junta doçura cítrica com fruta em calda e percepção alcoólica (8.8% na cara do bebedor). Na boca, doçura no primeiro toque seguida de frutado cítrico e fruta em calda (lichia e laranja) além da potência alcoólica, com os 8.8% pinicando a língua e incomodando o trajeto. O amargor é intenso, o álcool dançando sobre a língua também, e a lactose, citada, não consegue ajudar a equilibrar tudo isso, resultando em um conjunto interessante, ainda que o álcool tome a dianteira de maneira desproporcional, e acaba desequilibrando todo o conjunto. No final, picância alcoólica. No retrogosto, amargor e álcool.

Permanecendo na capital paulista, mas saindo da Santa Cecília em direção a Perdizes com mais uma cerveja produzida no taproom da Trilha, desta vez a Flower Power II, uma colab entre os paulistanos e Salvador Brewing Co. (RS), Koala San Brew (MG) e 5 Elementos (CE) com lúpulo em flor direto da fazenda, 15 dias após a colheita. Trata-se de uma American IPA de coloração amarela, levemente juicy, como um suco de laranja, com creme branco de média formação e retenção. No nariz, uma pancada incrível de frutas tropicais com sugestão intensa de maracujá à frente além de limão e de percepção flor. Na boca, o primeiro toque reforça o predomínio do maracujá enquanto a sequencia equilibra levemente com sugestão de limão, de floral e um toque sutil herbal que remete a capim limão. O amargor é comportado (uns 50 IBUs), os 7% de álcool não aparecem nada e a textura levemente picante. Dai pra frente, uma American IPA saborosíssima, com toque de maracujá e floral incríveis. No final, maracujá e amargor leve. No retrogosto, refrescancia e maracujá. Uou.

Saindo da capital e indo para o interior, mais precisamente para Várzea Paulista, local em que a Dádiva produz suas receitas, como a dessa colaborativa com os cearenses da 5 Elementos, a Silk Mass, uma English Barleywine de 12.2% de álcool que recebe adição de cacau, baunilha e chocolate. De coloração âmbar e creme branco de média formação e rápida dispersão, a Silk Mass apresenta um aroma adocicado que remete diretamente a chocolate branco. Ainda é possível perceber a baunilha com nitidez e, sutilmente, a cacetada de álcool. Na boca, doçura caramelada no primeiro toque seguida de forte presença de baunilha e uma aproximação com chocolate branco aliada a leve picância de pimenta branca. Como se deve imaginar, amargor não tem vez aqui. A textura, por sua vez, é sedosa. Dai pra frente, uma Barleywine bastante interessante e provocante, que merece atenção (principalmente dos chocólatras). No final, chocolate branco. No retrogosto, chocolate branco.

Blondine Tropical Jabuticaba
– Produto: Catharina Sour
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 3.8%
– Nota: 3.40/5

Fabrica 1959 IPA
– Produto: India Pale Ale
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5.6%
– Nota: 3.46/5

Treze Mata
– Produto: Milkshake IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 6%
– Nota: 3.44/5

Morada Mangossaurus
– Produto: Fruit New England IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 6%
– Nota: 3.45/5

Barbarella Pomelo
– Produto: Fruit Beer
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 3.7%
– Nota: 2.42/5

Colorado Brasil com S – Amber Lager com Baru
– Produto: Amber Lager
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 4.8%
– Nota: 3.00/5

Bodebrown The Trooper Brasil IPA
– Produto: Session IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 3.19/5

Heilige Belgian Saison
– Produto: Belgian Saison
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 7.4%
– Nota: 3.14/5

Dogma New Dope
– Produto: Double IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 8.8%
– Nota: 3.29/

Trilha Flower Power II
– Produto: American IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 7%
– Nota: 3.93/5

Dádiva e 5 Elementos Silk Mass
– Produto: Barleywine
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 12.2%
– Nota: 4.00/5

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– Top 2001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
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