Três CDs: Ricardo Gaspa, Bidê, Lulu

por Marcelo Costa

“The Bass Player”, Ricardo Gaspa (PPam)
Após a separação do grupo Ira!, o vocalista Nasi seguiu com sua carreira solo enquanto o guitarrista Edgard Scandurra envolveu-se com a nova geração trabalhando nos bons discos de Karina Buhr, Marcelo Jeneci e Barbara Eugênia, entre outros. Após dois projetos, um de surf music (Os Alquimistas) e outro de rockabilly (Black Sheeps), o baixista Ricardo Gaspa surge com “The Bass Player”, lançado em 2012, uma curiosa coleção de velhas canções em novos arranjos, a maioria não arranhando o status das versões originais, mas intrigando o ouvinte. Marcelo Nova canta a sua “Outubro de 65” (uma “Simca Chambord 2” muito melhor apresentada em seu álbum “O Galope do Tempo”, de 2005) e divide os vocais com Gaspa numa versão infeliz de “Tanto Quanto Eu”, do clássico segundo disco do Ira!, “Vivendo e Não Aprendendo” (1986). Wander Wildner canta “Eu Não Consigo Ser Alegre o Tempo Inteiro” (também inferior à versão original) e “O Tolo dos Tolos”, muito mais bonita na voz de Edgard no álbum “Meninos da Rua Paulo” (1991). Há ainda versões para “Mistério” (Flavio Landau não alcança Nasi, mas não compromete) e “Tarde Vazia” (em interessante arranjo bluesy, embora a mixagem não ajude) num disco indicado para fãs do Ira!, e só para eles.

Nota: 5,5
Preço: R$ 15 (http://gaspathebassplayer.mercadoshops.com.br/)
Ouça o disco: https://soundcloud.com/gaspa-the-bass-player

Leia também:
– Entrevista: Nasi -> Sempre tive uma postura bem aberta sobre minha vida (aqui)
– “Ao Vivo”, Edgard Scandurra -> Guilherme Arantes rouba a noite (aqui)

“Eles São Assim, E Assim Por Diante”, Bidê ou Balde (Ame o Rock)
Treze anos depois de um festejado álbum de estreia, “Se Sexo É o Que Importa, Só o Rock é Sobre Amor”, de 2000, a Bidê ou Balde chega ao quarto disco com uma maturidade que valoriza um insuspeito acento regional aliado à paixão eterna da banda pela new wave (efeitos dominam a climática “Eu Quero Morar em Marte” e a balada adulta “Ontem Percebi Que Te Amo Ainda”, entre outras) sem tirar a força das canções que perpetuam os shows bombásticos e dos hits instantâneos (“+Q1 Amigo”, “Lucinha” e “Me Deixa Desafinar”, esta última, carro chefe do EP “Adeus, Segunda-Feira Triste!”, de 2010, que consolidou o retorno do grupo à mídia). Isso tudo somado à participação de Serginho “Papas da Língua” Moah (na irônica “João da Silva”, com acordeom marcante de Borghettinho) e Frank Jorge (em “Tudo Funcionando Direito” e “Melhores Veteranos”) e à grande balada (e faixa bônus) “Mesmo Que Mude”, em comovente arranjo gaudério, mostram uma banda coesa e definitivamente a fim de “reconquistar você” (de “Mesma Cidade”, uma das grandes canções do disco). Dê uma chance. É sempre amor.

Nota: 7,5
Preço: R$ 30 (http://www.stereophonica.com.br/artistas/bide-ou-balde.html)

Leia também:
– Saiba como foi o show de lançamento de “Eles São Assim, e Assim Por Diante” em SP (aqui)

“Lulu canta & toca Roberto e Erasmo”, Lulu Santos (Sony Music)
Um dos maiores hitmakers da música brasileira no século passado, Lulu Santos passou o anos 00 sob a sombra do brilho daquela época, e as excelentes vendas dos dois “Acústico MTV”, 2000 e 2010, mais um “MTV ao Vivo”, de 2004, apenas reforçam a tese. Embora sua carreira siga nos trilhos com “bons álbuns medianos” de inéditas, nenhum hit absoluto conheceu as paradas no novo milênio, o que torna a opção por recorrer ao repertório de Roberto & Erasmo fácil e óbvia, afinal, seja em versão axé, funk carioca ou reduzida a pandeiro e caixinha de fósforos, as canções da dupla são hinos grudados no inconsciente coletivo. Lulu já tinha gravado “Se Você Pensa”, que seria o carro chefe do tributo “Rei”, em 1994, mas causou uma pendenga entre gravadoras e acabou entrando no platinado “Eu e Memê, Memê e Eu” (1995), e, desta vez, separa 13 canções (ahh, o TOC do Rei), recria os arranjos de forma classuda e caprichada renovando pérolas como “As Curvas da Estrada de Santos”, ”Sou Uma Criança, Não Entendo Nada”, “Não Vou Ficar” e “Quando”. Até “Festa de Arromba”, um retrato empoeirado de época, ganha sobrevida em um álbum feito com um olho no cifrão e outro nos bons arranjos. Muitas emoções.

Nota: 8
Preço em média: R$ 24

Leia também:
– 10 canções esquecidas de Lulu Santos, por Fernando Silva (aqui)

– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne

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