CD: The Final Frontier, Iron Maiden

por Renato Beolchi

“Existem três que bandas nunca vão mudar seu estilo musical: Ramones, Slayer e Motörhead.” Quem disse isso? Talvez Lemmy Kilmister, talvez algum anônimo. O autor da frase na verdade não importa muito, mas daria pra incluir mais algumas bandas nessa lista, a começar pelo Iron Maiden: 15 discos de estúdio e pouquíssimas inovações musicais. Foi com esse pensamento que o novo registro do Maiden, “The Final Frontier”, chegou aos ouvidos. Resenhar o disco para o Scream & Yell não parecia tarefa muito complexa.

A empáfia pessoal levou uma rasteira logo nos primeiros segundos de “Satellite 15…”, a faixa de abertura do CD. A primeira impressão foi: “Que p… é essa?”. Indignação totalmente positiva. Acusados de velhos, acabados, decrépitos, o Maiden abre o CD de forma surpreendente: pesado, psicodélico, tenso. Uma mistura de viagens de Jeff Beck com guitarradas do thrash metal oitentista. Uma música sem o RG que a Donzela costuma colocar em toda composição. Nem o vocal inconfundível de Bruce Dickinson muda isso.

As mãos começaram a suar. Seria esse disco um retumbante e ácido “cala a boca” a todos os críticos mais cínicos e cruéis da banda? E faixa evolui, fica cada vez mais crua. O baterista Nicko McBrain surra a parte grave de seu kit. E então, com pouco mais de 4 minutos, faz-se o silêncio. E o sonho acaba: o Maiden volta a ser simplesmente o Maiden.

O complemento é a faixa-título do disco e primeira música de trabalho do lançamento. Toda a surpresa conquistada é desperdiçada. Em linhas gerais, “The Final Frontier” não é um disco ruim, e está longe de figurar entre os piores lançamentos do Maiden.  Mas, um CD que começa de forma tão arrebatadora, acaba fazendo o resto parecer bem pior do que de fato é. Ainda que, tecnicamente, seja apenas mais do mesmo.

A broxada musical contamina ainda as duas faixas seguintes: “El Dorado” (que já virou single) e “Mother Of Mercy”. Nada novo aqui: as guitarras galopantes do trio Adrian Smith, Dave Murray e Janick Gers soam iguais. O destaque fica por conta do desempenho de Dickinson. Mas na música seguinte, o jogo vira. “Coming Home” é a primeira baladinha do disco. Daquelas com refrão que grudam. Obra prima do álbum e canção digna dos anos dourados do Iron.

Talvez por isso, o vocal nessa faixa deixe mais aparente a idade de Dickinson. Sem o mesmo vigor de 15 anos atrás, o vocalista apela ao falsete para alcançar certas notas. O resultado é forçado e frustrante. “Não é vergonha não cantar como antes”, alguém pode dizer. Certamente não, mas a performance de Dickinson em outras músicas não estica tanto as notas e nem por isso deixa de ser marcante. Diferente, não limitado.

A mesma coisa acontece na faixa seguinte, “The Alchemist”. Essa é mais uma daquelas músicas que o Maiden usa para contar alguma historinha. No caso, a de John Dee, astrônomo e alquimista que viveu no século XVI e foi conselheiro da rainha Elizabeth. Musicalmente impecável para os (altos) padrões do chefão e baixista Steve Harris, é o vocal que novamente volta a denunciar a idade dos roqueiros, todos cinqüentões.

Mas música não é só técnica. Tem também feeling. E parece que é exatamente isso que falta na seqüência musical a seguir. “Isle Of Avalon”, “Starblind”, “The Talisman” e “The Man Who Would Be King” seguem uma fórmula batida: começo lento com vocal suave; miolo acelerado com vocais mais altos; solos de guitarra; e arremate com peso.

O encerramento, com “When The Wild Wind Blows”, quebra essa seqüência. Não que ela desobedeça totalmente o modelo anterior, mas o riff marcante na primeira parte e uma quebra atraente no meio da canção faz da faixa – a mais longa do disco diga-se de passagem (11 minutos) – um dos melhores momentos do repertório. Pena que apenas na última faixa.

O saldo não foge muito de mais uma crítica cínica e cruel: o novo disco do Iron Maiden tem apenas 4 minutos de novidade. O resto, com raríssimas exceções, é apenas uma paródia do que a banda já fez nesses 30 anos de vida. Às vezes, parece que o Iron Maiden é uma banda que anda – há alguns anos – fazendo não muito além de covers de sua própria trajetória. Nada mais justo do que ela entrar no rol das bandas citadas no primeiro parágrafo, não é mesmo. “Poderiam ao menos coverizar os melhores momentos”, alguém vai falar, corretamente. Ramones, Slayer e Motörhead conseguiram isso. Quem sabe no próximo, Donzela.

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