Entrevista: Negra Li

por Marcos Paulino

Liliane de Carvalho se interessou pela música desde cedo. Moradora da Zona Norte da capital paulista, começou cantando hinos evangélicos e gostava de imitar divas norte-americanas, como Whitney Houston. Mas foi no rap que, já na adolescência, ela se encontrou. Adotou o nome artístico de Negra Li e teve passagens por alguns grupos, até se lançar na carreira solo com o disco “Negra Livre”, em 2006, um ano depois de sua estreia no mundo fonográfico, com “Guerreiro, Guerreira”, em parceria com o rapper Helião.

Desde então, Negra Li, hoje com 32 anos, diversificou, e muito, as vertentes para as quais empresta sua voz de contralto. De Caetano Veloso a NX Zero, de Martinho da Vila a Pitty, passando por Charlie Brown Jr., Skank, Jeito Moleque e vários outros, foram inúmeros os artistas com quem trabalhou. Também fez uma aposta bem-sucedida na carreira de atriz, estrelando, em 2006, o filme “Antônia”, que no ano seguinte viraria um seriado homônimo na TV Globo. Voltou ao cinema em 2009, em “400 contra 1: A História do Comando Vermelho”

Agora, divide-se entre suas duas paixões, e enquanto ensaia para a estreia de uma peça infantil, lança “Tudo de Novo”, disco no qual interpreta, “para variar”, canções de autores de vários ritmos (a romântica “Posso Morrer de Amor” é de Leandro Lehart enquanto “Mais que um Olhar” traz a assinatura de Di Ferrero, do NX Zero). Sobre este momento de sua carreira, Negra Li conversou com o PLUG, parceiro do Scream & Yell.

Entre os autores das músicas que você gravou para este disco, tem gente de diversos gêneros musicais. Como foi a escolha desse repertório?
O (produtor) Rick Bonadio pediu músicas para algumas dessas pessoas, com quem ele já tinha trabalhado. Pedimos canções de música brasileira, para trabalharmos com a sonoridade na produção. O Sérgio Britto, por exemplo, apesar de ser do Titãs, tem dois discos solos com estilos diferentes do da banda, uma coisa mais música popular. Ele mandou três músicas e todas entraram (entre elas “Como Iguais” e “Vai Passar”). Já o Edgard Scandurra ficou sabendo do CD e mandou uma música (“Culto de Amor”) porque achou que ficaria boa na minha voz.

Antes deste disco, você já tinha gravado com artistas desde Charlie Brown até Jeito Moleque, passando por Caetano Veloso e vários outros. Você realmente curte esse ecletismo?
Sim, sempre gostei de tudo. E as participações nesses trabalhos me fizeram gostar ainda mais de gravar qualquer coisa, de ter essa versatilidade. Sempre fui bem aceita em todos os estilos. Essa culpa é do povo (risos). Os convites chegavam e eu topava, e isso me fez ficar popular. Mas sempre com minha essência, a música brasileira, que é riquíssima, junto com o soul, a música negra que me inspira.

No início da sua carreira, você tinha uma ligação forte com o rap. Essa passagem para um universo musical mais variado foi planejada ou aconteceu de forma natural?
De forma natural, principalmente quando entrei no coral da USP, em 2000. Lá, era do erudito ao popular. Aquilo foi abrindo meus horizontes e me apaixonei por outras vertentes.

Cantando tantos ritmos, você deve ter alcançado muitos tipos de ouvido. Você consegue identificar um público cativo seu entre esses ouvintes?
Meu público é muito variado. Até pouco tempo atrás, eu estava cantando bastante em baladas e shows de hip hop. De um tempo pra cá, fui convidada pra fazer muito show em praças, com vários tipos de pessoas. Assim, vai agradando a todo mundo. Acho que isso faz com que mais gente tenha a curiosidade de conhecer o novo disco.

Você já teve várias experiências com músicos jovens. Como consequência, acredita que são os jovens a maior fatia do público que consome seu trabalho?
Acho que sim, até pela minha história. Nos meus primeiros trabalhos, eu era muito jovem. Quando escuto meus primeiros discos, percebo minha transformação na maneira de cantar, no timbre de voz. Acho que daqui pra frente vou continuar com os jovens, mas agregando também os mais velhos.

Apesar das limitações do mercado fonográfico hoje, você vem de dois discos com boas vendagens. Esse resultado faz com que você se sinta pressionada a ter o mesmo desempenho com o terceiro CD?
A gente sempre sente. O título “Tudo de Novo” se deve a isso. Decidi esse nome numa conversa com um amigo, que queria saber como estava o novo CD. Respondi: “Ai, tudo de novo!”. É um desgaste emocional, uma ansiedade. É como um parto. Então existe a pressão que a gente mesmo faz. Mas o disco está sendo bem recebido, o que me deixa mais calma.

Você teve algumas incursões bem-sucedidas como atriz. Vai dar pra conciliar as duas carreiras?
Você não sabe o que estou aprontando (risos). Estou fazendo parte do musical infantil “Chapeleiro Maluco”, que vai estrear em agosto, assim como o show de lançamento do CD. Estou me dividindo entre os dois. Se você gosta de atuar, não consegue deixar de fazer. Os musicais estão crescendo muito no Brasil e essa é uma grande oportunidade.

Você vai ter tempo para se dividir entre os dois palcos?
Tenho uma atriz substituta, que na minha falta fará o meu papel. Eles queriam uma Rainha Branca negra e essa atriz se parece muito comigo. Mas vai ser muito divertido, porque trabalhar com crianças é muito bom, elas são muito verdadeiras. E pra minha filha, a peça está aprovadíssima (risos).

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Marcos Paulino é jornalista e editor do caderno Plug, do jornal Gazeta de Limeira

One thought on “Entrevista: Negra Li

  1. Escutando o tema “Tudo De Novo”, paira a sensação de uma soul leve e agradável de escutar. Se o CD manter essa pegada, com alguns pontos altos, Negra Li terá alcançado um patamar em que o comercialismo e a qualidade se equilibram. De resto, a sensualidade da cantora paulista já me tinha impressionado durante a performance de “Ainda Gosto Dela”, com o Skank.

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