Crítica: Metric lança “Formentera II” e tem tudo para ser o grande easter egg do Primavera Sound São Paulo 2023

texto por Fernando Yokota

Dentro da programação do Primavera Sound São Paulo 2023 um fato saltou aos olhos: os canadenses do Metric constam na programação do Primavera na Cidade (01/12 no Cine Joia), mas não foram incluídos no line-up do festival de fato. Problemas logísticos ou agenda apertada? O que importa mesmo é que um dos shows mais bacanas da programação do evento talvez passe despercebido pelo público brasileiro.

“Formentera” (2022/2023), oitavo disco do Metric, um projeto em duas partes, teve sua segunda metade lançada recentemente e consolida uma mudança estilística que dava seus primeiros sinais em “Art Of Doubt”, de 2018. O clima garageiro e os timbres saturados de bateria que jogaram a banda na prateleira de indie rock dão lugar a arranjos mais trabalhados e brilhosos, esparramando o trabalho por diversos estilos. Teclados e sintetizadores, que de alguma forma sempre estiveram presentes, agora são lançados ao primeiro plano e tornam-se protagonistas.

Assim como na primeira parte lançada em julho de 2022, “Formentera II” (que foi liberado em 13 de outubro) tem como seu pontos forte e fraco a mesma característica: a variedade de estilos pode ser sinal de falta de foco para alguns enquanto para outros significaria o espírito exploratório de uma banda que se preocupa menos em servir um público de determinado gênero, apostando naquilo que serve melhor a cada canção.

A segunda parte do projeto não dispõe de um tour de force como foi o caso de “Formentera I” e “Doomscroller”, com seus dez minutos que vão de um “Prodigy versão speakeasy” ao Coldplay de “Parachutes”, mas esteticamente situa-se longe de álbuns do passado como “Synthetica” ou “Old World Underground, Where Are You Know?”.

Indubitavelmente é a voz inconfundível de Emily Haines (alta em açúcar adicionado, um daqueles casos em que você ama ou odeia) que dá a “cara de Metric” ao álbum, mas vale ressaltar o trabalho árduo que Joshua Winstead faz na parte de baixo do equalizador, com linhas que pavimentam o caminhão de timbres e instrumentos que passam por cima. As duas faixas iniciais, “Detour Up” (um chiclete que gruda mais que glitter de carnaval) e “Just The Once”, uma disco inescrupulosamente deliciosa, são exemplos do trabalho de base do baixista rendendo frutos.

“Formentera II” também conta com pérolas como “Days Of Oblivion” que, por meio de posts nas redes sociais, é possível deduzir que se trata de uma das favoritas da banda. Sai o clima disco do baixo com linhas oitavadas e entra algo que poderia ter sido produzido por Nigel Godrich no fim dos anos 90, um Travis do “Invisible Band” misturado com Radiohead do período pré-pernóstico.

A influência da cool britannia (e sua posterior decadência) também é percebida na tradicional levada de bateria ao estilo Amen Brother, ou em “Descendants”, que de partida traz uma rápida menção a “Doomscroller” antes de cair em algo que, preguiçosamente, lembra em partes um “Radiohead em tom maior”.

Insistindo na temática britânica, é possível perceber empréstimos mccartneyianos no baixo de”Go Ahead And Cry” ou notas de Pink Floyd em “Stone Window” (que numa anotação na primeira audição para este texto foi descrito como “Hatsune Miku faz uma versão de ‘One Of These Days’ com vocais”).

Com o lancamento da segunda parte, o Metric tem na dupla “Formentera” o seu “Mellon Collie And The Infinite Sadness”, um caminhão de ideias que serve a vários gostos, empacotadas em faixas cujo esmero e cuidado em sua concepção são inegáveis.

Fica, portanto, a dica daquele que tem tudo para ser o grande easter egg do Primavera Sound São Paulo 2023.

– Fernando Yokota é fotógrafo de shows e de rua. Conheça seu trabalho: instagram.com/fernandoyokota/

One thought on “Crítica: Metric lança “Formentera II” e tem tudo para ser o grande easter egg do Primavera Sound São Paulo 2023

  1. É MUITO INJUSTO A POUCA DIVULGAÇÃO DO GRUPO METRIC NO BRASIL. TENHO CERTEZA QUE O BRASILEIRO QUE GOSTA DE BOAS MUSICAS E ARTISTAS DE VERDADE, ADORARIAM O METRIC E SUA HISTÓRIA MUSICAL. ALÉM DO TALENTO E BELEZA FISICA E HUMANA DE EMILY HAINES.

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