Mojo Book 001: “Black Celebration”, do Depeche Mode, por Danilo Corci

por Marcelo Costa

15 anos atrás, dois grandes amigos meus, Danilo Corci e Ricardo Giassetti, decidiram fazer uma pergunta: e se um disco virasse literatura? Nascia a Mojo Books, primeira editora 100% digital do Brasil, que de dezembro de 2006 até dezembro de 2012 explorou de maneira diversificada essa possibilidade, primeiro com e-books sobre discos, depois uma série especial sobre Singles, estendendo-se para Comix, Specials e Mojo+, cada categoria com uma proposta especial (que se desdobrou depois no Instituto Mojo de Comunicação Intercultural).

Dentro da série Mojo Books foram mais de 130 publicações e 200 singles lançados nesse período, com uma característica particular: os livros eram liberados via download gratuito, mas cada volume tinha uma tiragem que, assim que alcançada, fazia com que o e-book “esgotasse” e se tornasse um livro raro. Com isso, muitos leitores não tiveram acesso a alguns dos títulos da Mojo, o que, nos 15 anos da editora, completados em dezembro, nos trouxe a ideia: vamos republicar tudo novamente e tentar manter o acervo online.

Assim, toda segunda no Scream & Yell teremos um Mojo Book novo (os apressadinhos podem ir ao site da Mojo atrás dos primeiros 10 volumes) abrindo com o fundador Danilo Corci escrevendo sobre “Black Celebration”, álbum de 1986 do Depeche Mode. Na época do lançamento da Mojo, fiz algumas perguntinhas aos primeiros autores da série, e Danilo falou o seguinte sobre esse lançamento:

– Por que você escolheu esse disco?
Danilo Corci: Porque ele é, de certa maneira, um disco absurdamente histérico, quase uma declaração literária.

– Como foi o processo de transformar música em literatura?
Danilo Corci: Simples e complicado. Mas, claro, para mim, o disco fala absolutamente tudo o que escrevi, em cada nuance, em cada detalhe. Se você prestar bem atenção poderá ver até os ecos de sons particulares de cada músicas escorrendo nas sentenças do livro.

– Com qual canção do álbum você falaria para o leitor iniciar seu conto?
Danilo Corci: Resposta fácil: “Fly on the Windscreen”. Se você ler o primeiro parágrafo, vai entender logo de cara.

Bora ler?

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“Ter mais de trinta e ser alfabetizado no convívio social do esprit levam a degenerações, levam a Ivan. No pós-tudo vivido entre as décadas de 1980 e 1990, uma geração de novos losers se formou. Losers no sentido Bukowski e Hunter Thompson, veja bem, no sentido pós-desbunde chatinho. Uma geração cética até a raiz dos cabelos, com a cara blasé comprada na loja de 1,99, tão convincente quanto a máscara de Nixon usada para assaltos em filme B. Dá vontade de rir, dá raiva, e acabamos nos metendo na mesma enrascada de Ivan. Na falta do que fazer, nos rendemos à mãe de todos os clichês: surge a velha cara blasé.

Ivan tem sentimentos, é um romântico de carteirinha, mas desenvolveu coberturas e mais coberturas, cascas sobre cascas sobre cascas e, agora que o mormaço bateu na nuca, já não sabe onde enfiou a camiseta confortável de viver.

Danilo Corci, neste primeiro livro da MOJO, faz o retrato de uma geração especialista em generalidades, que finge ter perdido o bonde do romantismo em listas hornybinianas, mas esconde esqueletos de rosas bregas no armário.

Texto para ler sozinho e acompanhado de uma antropologia de botequim, que nos é cara, que faz os desavisados acreditarem. Texto para ler aos goles e devagarinho, para perceber as brincadeiras lingüísticas finas, as referências escondidas como Wallyes listrados no meio do emaranhado da narrativa bem amarrada.

Texto para ler como quem ouve música dirigindo à noite. Quando se É (do verbo SER, caixa alta) simplesmente. Quando só os acordes bastam para respirar uma solidão inteiriça e, por que não dizer, reconfortante.”

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