Faixa a faixa: “Suíte Bipolar em Dó Maior”, de Dario Julio & Os Franciscanos

introdução por Marcelo Costa
faixa a faixa por Dary Esteves Jr.

Dary Esteves Jr. é um velho conhecido do Scream & Yell. Seja com a badalada Terminal Guadalupe (que está de volta a ativa preparando disco novo), a banda de entressafra Rosablanca (que lançou um raro EP, disponível no site) ou com um de seus vários projetos atuais, a Dario Julio & Os Franciscanos (um projeto solo com nome de banda que debutou aqui entorpecendo de guitarras teenagefanclubianas uma melodia de Belchior), Dary tem espaço garantido no Scream & Yell por ser um dos raros escritores de música pop atualmente que ainda consegue escrever sobre o Brasil (e sobre ele mesmo) sem soar piegas, panfletário ou populista, um mérito e tanto numa terra que já pariu grandes letristas, mas anda em débito com a força da palavra escrita.

Essa verve delicada e, ao mesmo tempo, afiada pode ser conferida em “Suíte Bipolar em Dó Maior“, novo EP da Dario Julio & Os Franciscanos, que chega às plataformas digitais, onde já estão dois singles com faixas-bônus, no próximo dia 16 de julho, mas que a partir de hoje, porém, já está no Bandcamp – “quem baixar por lá me ajuda a cobrir os custos de gravação e recebe brindes virtuais”, avisa Dary. “O tema surgiu no enfrentamento das crises provocadas pelo transtorno da minha mãe. Fé, desencanto, resistência, tragédia, resiliência, é um morde-e-assopra que dialoga com a realidade brasileira em tom de esperança”, ele continua. “Sim, esperança, a despeito da falsa simetria que permeia o debate sobre a polarização política no Brasil. Sabemos que há extremos, mas só um é abertamente fascista e contra a democracia, embora a narrativa pró-terceira via insista em dissimulação.

Apesar de unidas por um acorde, as canções de “Suíte Bipolar em Dó Maior” funcionam isoladas. Se o álbum de estreia, “O Menino Velho da Fronteira” (2019), trazia reminiscências elogiosas a Odair José em sua sonoridade (“um clima de radinho de pilha, bem setentista, algo brega de butique”, explica Dary), o novo EP aposta na sonoridade pós-punk entre o fim dos anos 80 e começo dos 90, “com referências claras a The Smiths, The Housemartins e R.E.M., por exemplo”, enumera Dary. “Suíte Bipolar em Dó Maior” foi gravado no Nico’s Studio, em Curitiba (PR), com produção de Bruno Sguissardi (Anacrônica) e Francisco Desalvo na engenharia de som, e tudo foi mixado e masterizado por Fábio Della (Aerocirco, Monocine) em seu estúdio, o DellaProd, em Belo Horizonte (MG). Abaixo, Dary comenta, faixa a faixa, seu novo trabalho. Acompanhe ouvindo aqui.

01) Provérbios 18: 4-7
É um mantra folk sobre liberdade com mensagem nem tão cifrada assim.

02) Democracia Gourmet (Contém Ironia)
A letra veio primeiro. Como fica evidente, foi inspirada na votação do afastamento de Dilma Roussef. Inicialmente, se chamaria “Declaração de Voto”. É uma espécie de guia do novo cidadão de bem. A sonoridade reafirma as minhas devoções.

03) É Preciso Coragem
Foi como quis tratar negacionismo e ilusão de controle com moldura de Teenage Fanclub e David Bowie. Reitera a influência do mais importante escritor curitibano, Jamil Snege (1939-2003), sobre o meu trabalho. Os versos do coro feminino no final da canção são adaptações de suas ideias.

04) Profissão de Fé
Resgata a música original de Allan Yokohama (Terminal Guadalupe, Yokohama Café) para uma letra que já teve duas harmonias diferentes e das quais igualmente me orgulho. Agora, de volta à melodia para a qual foi composta, marca a retomada da parceria com o Japa. Ficou bem alt-country.

05) O Tempo Não Apaga O Que É Amor
Talvez a canção mais bonita e pessoal da suíte, é baseada em histórias reais. Minha maior crítica ❤ aprovou, mas fãs de Bruce Springsteen também devem gostar.

06) Alerta de Gatilho
A vinheta de encerramento lembra as estruturas das músicas de Sérgio Britto, dos Titãs. Fecha a suíte e acena para os futuros álbuns de Esteves & Nadal e Terminal Guadalupe.


Ficha técnica
Produzido por Bruno Sguissardi.

Voz: Dary Esteves Jr.
Vocais: Sandra Piola, Ju Liana Morais e Bruno Sguissardi
Violão, guitarras, teclado e baixo: Bruno Sguissardi
Bateria: Ivan Rodrigues
Gaita e slide guitar: Tiago Martins

Todas as canções são de autoria de Dary Esteves Jr., exceto “Profissão de Fé” (música de Allan Yokohama com letra de Dary).

Gravado no Nico’s Studio, em Curitiba (PR) no outono de 2021, por Francisco Desalvo.

Mixado e masterizado por Fábio Della do estúdio DellaProd, em Belo Horizonte (MG).

Fotos: Leticia Tullio
Arte da capa: Kassio da Rocha

– Marcelo Costa (@screamyell) edita o Scream & Yell desde 2000 e assina a Calmantes com Champagne.

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