Duda Beat mistura amores e ritmos em “Te amo lá fora”, e passa na prova do 2º disco

texto por Renan Guerra

Em 2018, quando do lançamento de “Sinto Muito”, disco de estreia de Duda Beat, abrimos sua entrevista aqui no Scream & Yell falando o seguinte: “habitando num universo extremamente pop, ‘Sinto Muito’ tem potencial para ser a paixão dos alternativos em 2018”. Erramos em proporção: Duda foi bem além dos alternativos e correu o Brasil com sua mistura romântica de ritmos.

De forma meteórica, em 2019 vimos ela nos palcos de diversos festivais, como o Cultura Inglesa e o Lollapalooza Brasil e acompanhamos de perto suas experiências sonoras e comerciais. Entre 2018 e 2021 foram diferentes singles lançados e muitas parcerias questionáveis – algumas pelo caráter esquecível das canções, outras pelo tom de “artistas entre o médio e o ruim querendo surfar no sucesso de Duda”.

Enfim, essas andanças da artista deixaram o cenário um pouco nebuloso para seu segundo disco. E sabemos como o segundo disco tem esse caráter simbólico, ainda mais para um nome como o de Duda, que cresceu de forma rápida e conquistou espaços amplos de forma independente. “Te amo lá fora” chegou às plataformas digitais numa terça-feira (dia pouco usual em tempos de streaming) e gerou buzz na internet, já que todos queriam saber o que ela preparou nesse segundo trabalho.

Com produção de Lux & Tróia (aka Lux Ferreira e Tomás Tróia), “Te amo lá fora” expande e muito o leque sonoro de Duda Beat, casando synthpop com pagodão baiano, pisadinha, trap, ecos de reggae e até um flerte final com a house music. É um caldeirão e tanto, mas tudo é amarrado pelo universo lírico da artista, que compõe novamente sobre seus amores, suas desilusões e sua sofrência. É basicamente o clássico “música de corno” relida para ser dançada na pista.

Detratores foram rápidos em dizer que Duda Beat está se repetindo, que sua lírica é apenas um “Sinto Muito 2.0”. Pode ser um argumento plausível: há repetições temáticas, há universos que se colidem, mas isso é ruim? De maneira alguma, uma vez que as canções são bem amarradas, divertidas e construídas com versos sinceros. É inegável a beleza de uma canção como “Melô da Ilusão”, em que ela pede “Eu vou entrar nessa história com você / Mas não deixa eu me perder de mim”.

Além disso, é interessantíssimo como ela cria imagens e situações muito verossímeis, que causam essa identificação com o ouvinte. Em “Meu Pisêro” ela canta “Às 8 e 15 decidi não te ligar / Às 8 e meia apaguei o seu celular / Mas me dei conta que eu já tinha ele decorado / Passou três horas, te excluí das redes sociais / Logo depois, adicionei porque eu não fui capaz”. Há aqui uma narrativa muito bem amarrada e que casa bem demais com as nuances sonoras da faixa. Outro exemplo é “GAME”, em que ela canta “E você passa por mim, e eu finjo até não te ver / Pego um dos seus amigos pra te fazer um ciúme / Mostro que tá tudo bem e assim você não me assume”.

É possível que essencialmente alguém desgoste da estilística de Duda, porém dentro do que ela se propõe, ela é sim uma grande letrista. É divertido ver suas paixões, sua intensidade e seu olhar sobre os relacionamentos – e isso cresce quando sabemos que ela e Tomás Tróia estão há anos em um relacionamento estável, então praticamente tudo que está no disco vem desse olhar atento dela sobre o outro e sobre as relações modernas.

Há, ainda, críticas que colocam em destaque a produção de Lux & Troia como se isso fosse algo a parte de Duda Beat. A produção da dupla há de ser celebrada, mas esse é um trabalho de equipe. Lux & Troia fazem o que fazem porque contam com a força e a mão de Duda e vice-versa. É um terreno bastante complexo esse e sabemos bem que isso pode esbarrar em leituras bem machistas que vira e mexe acabam atingindo artistas femininas, que são sempre vistas como menores perante produtores ou arranjadores homens.

Esse é um disco de Duda Beat e vemos essa presença dela em tudo. Nas composições, nas misturas sonoras e nas escolhas estéticas. É perceptível o quanto ela constrói um universo particular interessantíssimo. Lux & Tróia são seus parceiros dentro desse universo e é bonito ver como ela troca e cria com eles.

“Te amo lá fora” foi produzido de forma independente por Duda, porém não deixa de ser um trabalho extremamente pop, pois prova que é possível casar de forma interessantíssima criação livre artística com intenções comerciais. Esse é um disco para tocar nas rádios, para ser cantado em uníssono em grandes festivais e para ser compartilhado e isso só mostra que o pop nacional tem sido uma seara cada vez mais interessante e vibrante em sua heterogeneidade.

No final das contas, esse lançamento mostra que Duda Beat passou sim no teste do segundo disco e firma ainda mais seu nome enquanto estrela pop.

– Renan Guerra é jornalista e escreve para o Scream & Yell desde 2014. Também colabora com o Monkeybuzz.

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