Entrevista: Ana Camelo

por Marcos Paulino

Marcelo Camelo é bem conhecido como líder do Los Hermanos e mais recentemente pela Banda do Mar, na qual tem a companhia de sua mulher, Mallu Magalhães. Mas se engana quem pensa que ele é o único artista da família Camelo. Prova disso é o recém-lançado “Acalanto”, combo de livro e disco, projeto no qual Marcelo atuou como produtor. O livro traz pinturas e poemas de autoria de sua mãe, Ana Camelo. Isso mesmo!

“Acalanto” reúne os textos de Ana musicados por seu irmão Luís Otávio. Matemática de formação, Ana trabalhou com finanças até decidir, aos 50 anos, que queria se dedicar exclusivamente à pintura, que até então era um hobby. “Exclusivamente” em parte, porque a poesia, uma descoberta mais recente, também toma um quinhão de seu tempo. Agora, com “Acalanto”, passeia pela música.

O álbum é um trabalho totalmente familiar. “Gravamos, eu, meu irmão e minha cunhada, Thaís, voz e violão, e mandamos pro estúdio do Marcelo em Portugal, pra ele fazer os arranjos”, conta Ana sobre “Acalanto”, que ainda traz a participação de Mallu Magalhães. Segundo Ana, sua grande vantagem foi “estar cercada de familiares ligados à arte”. Confira a entrevista concedida ao PLUG, parceiro do Scream & Yell:

Antes de se descobrir artista, você já trabalhava em algo ligado à arte?
Não, sou formada em matemática. Dei aula durante algum tempo e fui ser diretora financeira de algumas empresas. A pintura sempre existiu na minha vida, pinto desde jovem, mas por lazer. Por volta dos 50 anos, comecei a produzir muito, até que recebi um convite pra expor no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio. A partir daí, achei que o lazer poderia se transformar em ofício.

E aos poucos você foi se descobrindo poeta também?
Apesar de desde jovem também escrever algumas coisas, não era nada sério, tanto que não tenho nada guardado. As poesias que estão no livro, mais outras tantas que não entraram, comecei a escrever há uns sete ou oito anos. E é um trabalho parecido com o dos quadros, em ambos falo dos meus sentimentos, é uma observação do que está acontecendo à minha volta. A poesia também serve pra preencher uma lacuna, porque nem sempre dá pra dizer o que se quer com quadros. A ideia inicial era fazer um livro onde quadros e poesias dialogassem.

E como surgiu a ideia de colocar músicas nesse projeto?
Um dia, meu irmão Luís Otávio viu uns poemas que eu tinha guardados e perguntou se poderia musicar alguns deles. Ele escolheu os ritmos e fez 12 músicas. Então mostrei pro Marcelo, meu filho, que achou lindo. Gravamos, eu, meu irmão e minha cunhada, Thaís, voz e violão, e mandamos pro estúdio do Marcelo em Portugal, pra ele fazer os arranjos.

Você opinou sobre o aspecto musical também ou essa parte ficou a cargo apenas do seu irmão?
Em relação às composições do meu irmão, foi ele quem intuiu o caminho. Ele me disse que minhas pinturas remetem aos trópicos, então quis usar os ritmos brasileiros, baião, xote, samba. Como não sou da área de música, não dei muito palpite. Mas, como o Marcelo conhece bastante a mim e a meu irmão, ele dirigiu muito bem, teve um olhar muito generoso sobre minha obra e sobre a obra do meu irmão também.

Você, que veio da área de exatas, imaginou que um dia trabalharia num projeto ligado a tantas frentes de humanas, incluindo a pintura, a poesia e a música?
A vida tem caminhos que você escolhe. Agora, aos 66 anos, lanço um livro com todas essas artes reunidas. É um projeto que idealizei, não surgiu do nada. A minha grande vantagem é estar cercada de familiares ligados à arte. O “Acalanto” foi um fluir da vida. Acho que mais jovem eu não percebia esse dom pras artes.

Como tem sido este momento, em que, em vez de ser a “mãe do Marcelo”, ele que é o “filho da Ana”?
Tranquilo, sem nenhum problema. Eu e Marcelo temos essa relação de mãe e filho antes de qualquer coisa. Tenho admiração pelo trabalho dele e ele, pelo meu. Mas fico no meu canto, é um trabalho mais solitário, que não aparece muito.

Já havia passado pela sua cabeça que um dia poderia fazer um trabalho junto com o Marcelo?
Sempre me passou pela cabeça fazer um projeto de pintura, que é minha atividade principal. Mas de música não, nunca tinha pensado nisso. Por acaso, como é um projeto familiar e todos temos dons artísticos, pudemos reunir tudo isso.

Ficou o gostinho de querer fazer outros projetos como o “Acalanto”?
Com certeza. Tenho muitos quadros e poemas que não entraram neste trabalho. Então é claro que existe a vontade de fazer outro projeto, mas como será ainda não sei. Quero ver antes a aceitação do “Acalanto” pra saber que caminhos tomar.

Marcos Paulino é editor do caderno Plug (www.mundoplug.com), da Gazeta de Limeira. A foto que abre o texto é uma reprodução do Facebook

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