Entrevista: Daniel Groove

por Daniel Tavares

Músico cearense radicado há alguns anos na capital paulista e com dois álbuns na discografia que levam seu nome (“Giramundo”, de 2013, e “Romance pra Depois”, de 2016) além de diversas produções (como o recém-lançado “Eu”, de Héloa), Daniel Saraiva Costa (o Groove vem do nome de sua primeira banda) é um “garoto criado no rock e que em algum momento se apaixonou loucamente pela música brasileira”, segundo definição própria.

Integrante ativo de um combo genial de músicos independentes que fez da cidade de São Paulo sua casa (entre os nomes próximos estão artistas como Bruno Souto, Nevilton, João Vasconcellos, Los Porongas e Saulo Duarte), Daniel Groove conta com que faz “parte de uma geração que está construindo o seu caminho a margem da indústria”. Segundo ele observa na entrevista abaixo, “há uma geração muito especial que tá acontecendo agora no Brasil”.

Um dos nomes nacionais de destaque presentes na edição 2017 do Lollapalooza Brasil, Daniel Groove segue tocando a vida com a delicadeza de quem encara o palco de um grande festival do mesmo jeito que de uma casa norturna na Vila Madalena ou de um festival independente em Porto Velho: com paixão. “Eu espero seguir fazendo o que a gente gosta que é tocando, viajando tocando e fazendo nossos discos”, avisa. Confira o bate papo!

Para quem ainda não o conhece, como você definiria o som que você faz?
Na verdade não perco muito tempo pensando nisso, e gosto de ouvir o que as pessoas trazem de retorno sobre o que elas sentem sobre o meu som e acho isso tudo uma grande viagem. Mas entendo que é chato deixar isso tão no vazio, então se eu for facilitar as coisas, pra quem quer conhecer o que a gente faz, eu sou um garoto criado no rock e que em algum momento me apaixonei loucamente pela música brasileira. Acho que de resto, é só ouvir o som e cada um pensa o que quiser.

A boa música brasileira tornou-se coisa de nicho, em meio a tanto ritmo universitário mas que prende-se aos temas balada e infidelidade. Você concorda com essa afirmação? Como você vê a música brasileira hoje?
Não. Porque a música brasileira nem agora nem antes nunca se tornou nada. Ela é algo importante dentro da nossa cultura. E de tempos em tempos ela é mais lembrada e fortalecida pela competência de algumas gerações. Eu acho que tem uma geração muito especial que tá acontecendo agora no Brasil. E acho que as pessoas estão com vontade de conhecer essas coisas, e isso me deixa feliz. Ao mesmo tempo em que me deixa triste e até deprimido por saber que houveram outras gerações bem aqui próximas da gente e com algo a dizer e que passaram em branco. Por circunstâncias mercadológicas que sabe lá Deus quem define. Mas a gente segue tocando.

Como é fazer um som de qualidade no Ceará, quando 80%, 90% das pessoas está mais interessada em música de fácil consumo e fácil esquecimento como a que é feita pelas bandas de forró?
Eu não sei se as pessoas estão mais interessadas em “música de fácil consumo e fácil esquecimento como a que é feita pelas bandas de forró”. Sistematicamente o oferecido para a grande parte da população brasileira é o comercio das músicas de “fácil esquecimento” que você sugere. Então seria preciso dar acesso a todas ou mais vertentes para podermos julgar o público de preferir certos tipos de sons impostos pela mídia.

Pra você, o quão importante é representar o estado nesta edição do Lollapalooza?
Pra mim é sempre importante representar a minha cidade e o meu estado onde quer que eu vá e em qualquer show que eu faça. Ser cearense é boa parte do que a gente faz. No Lolla não vai ser diferente. A gente tá se preparando há muito tempo pra esse show e a gente vai levar ao palco com certeza o melhor que a gente tem. Ficaremos muito felizes de ter a moçada no palco junto e esperamos sempre o melhor!

Como surgiu o convite para tocar no Lolla? O que você espera que aconteça após o festival?
O Paulo André, meu produtor, tinha indicado alguns nomes a pedido da produção do Lolla e os caras gostaram do nosso som e entraram em contato com a gente pra tentar confirmar nossa presença no festival. Eu espero seguir fazendo o que a gente gosta que é tocando, viajando tocando e fazendo nossos discos. Tocando a vida.

Além de você e dos Selvagens a Procura de Lei, que já tocaram em uma edição anterior do festival, você consegue citar cinco nomes de bandas cearenses que deveriam/poderiam ser convidadas para tocar no festival?
Conseguiria citar 20. Não vou fazer pra não cometer o erro de esquecer de alguém. Sou fã da música e do momento que vive a arte cearense.

E, como fã, das bandas que vão se apresentar no domingo, qual você está mais ansioso pra ver? Alguma que você não veria de jeito nenhum?
Pra te falar a verdade eu não sou um cara muito antenado nos sons que estão na crista da onda. Então vou sem expectativas e de peito aberto para absorver o que tiver de bacana.

Sobre novos discos, você já está compondo ou gravando o sucessor de “Romance pra Depois”? Com as mudanças na indústria da música, com os streamings, legais e ilegais, ainda compensa lançar discos físicos?
Na verdade a gente nunca para de compor e sempre é hora de pensar em um novo disco. Eu acho que a gente grava o próximo ainda esse ano, mas vamos deixar o lançamento para o início de 2018. Quanto às mudanças na indústria da música, eu vivi minha vida inteira na música independente, então eu nunca fui afetado por esse tipo de coisa. Faço parte de uma geração que está construindo o seu caminho a margem da indústria.

– Daniel Tavares (Facebook) é jornalista e mora em Fortaleza.

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