Entrevista: Sabonetes

por Marcos Paulino

Sabe aquela história de quatro garotos que se encontram na faculdade e resolvem montar uma banda de rock? Pois a Sabonetes, quarteto de Curitiba saudado como uma boa notícia pela crítica, se encaixa perfeitamente nesse perfil.

O vocalista e guitarrista Artur, o guitarrista Wonder, o baixista João e o baterista Alexandre descobriram que tocar nas festas da faculdade de comunicação da UFPR (Universidade Federal do Paraná) era uma maneira de entrar sem pagar e ainda descolar cervas grátis.

Mas a coisa extrapolou as baladas das repúblicas e foi ganhando corpo na internet. Até que despertou interesse em uma gravadora, que propôs o lançamento do disco homônimo da banda.

Nele, os curitibanos mostram suas influências, que vão da MPB ao punk, passando obrigatoriamente pelos clássicos do rock. Sobre esse trabalho, Artur conversou com o PLUG, parceiro do Scream & Yell.

A banda teve o começo clássico: colegas de faculdade que se reúnem pra tocar por farra e a coisa fica mais séria. Confere?
A gente se conheceu na faculdade de comunicação, que tinha mais festas que aulas (Risos). Na época, éramos um pouco mais pés-rapados do que somos hoje. A banda nasceu pra gente poder entrar nas festas sem pagar nada e beber de graça. Tocávamos em outras bandas, mas fomos vendo que nos dávamos bem juntos e que tinha algo mais que só a diversão das festas. Meio por acaso, começamos a compor e a gravar. No nosso caso, foi realmente verdade a história de quatro amigos que se encontram na faculdade e formam uma banda.

O caminho natural depois de formar a banda foi lançar algo na internet, como faz todo mundo hoje?
Exatamente. Foi quando vimos que, além dos nossos amigos, mais gente gostava do que a gente fazia.

Vocês têm outras fontes de renda além da banda?
Não. Eu vivo de música há quase 10 anos. Com a Sabonetes, desde 2007 que a gente vive só disso também. A gente se mudou pra São Paulo e vamos pagando as contas com os cachês dos shows.

Vocês mesmos cuidam da administração da banda?
Isso não foi opção, foi necessidade. Hoje, a maioria das bandas lida com o negócio da música, tem que marcar show, tem que se virar como pode. Tem pouca grana envolvida nesse meio, e esse pouco é concentrado. Mas agora esta-mos relançando o disco com uma estrutura um pouco maior e isso melhorou. Uma diferença é que você me ligou e não o contrário. (Risos) Hoje temos mais gente trabalhando conosco pra ajudar.

O disco da Sabonetes, que mistura várias influências, foi bem recebido por boa parte da crítica. Como vocês encaram isso?
Ficamos muito felizes. Sabemos que a imprensa e as pessoas precisam de uma referência, de alguma coisa pra comparar. Gostam de dizer que tal banda é um novo não-sei-o-quê. No nosso caso, cada meio de comunicação ou pessoa que escuta fala uma coisa diferente. Isso deixou a gente realizado, porque quanto mais confusão causarmos, mais original é o nosso som. Muita gente nos compara com bandas que nem escutamos. Mas não damos muita bola pra isso, o importante é que escutaram e se preocuparam em comparar com alguma coisa, o que é sinal de que ouviram com algum cuidado.

Como é o esquema de composição pra levar em conta as influências de cada integrante?
A gente sempre tem aquelas coisas em comum. Todo roqueiro da nossa geração ouviu Beatles, tem uma formação musical que vem dos anos 70, Led Zeppelin, Jimi Hendrix, os clássicos. Mas talvez o que transpareça mais no nosso som seja Clash, que não é uma referência direta, mas eles também faziam um som dançante, pop, mas que é rock na essência. Também ouvimos muito rock brasileiro, o que nos fez levantar essa bandeira de compor em português. A gente admira muitas bandas da nossa geração que compõem em inglês, e isso não é nenhum problema. Mas, por termos escutado muito rock brasileiro dos anos 80, a gente quis cantar em bom português. Muita gente sente falta disso.

Ainda é necessário vir pra São Paulo pra ter mais visibilidade?
Depende. A gente optou pra ir pra São Paulo não só por uma questão de visibilidade, mas pra conviver com gente igual a gente. A gente produz muito, está sempre inventando coisas novas. Em São Paulo, convivemos com gente assim do Brasil inteiro. Também é pela grana e pela visibilidade, mas o que mais conta é esse contato com músicos e com artistas que a gente sempre admirou e que hoje em dia estão mais próximos. Muitas vezes compomos com essa galera, saímos juntos, estamos sempre conhecendo gente nova. O legal é viver esse meio, e não estar isolado em seu quarto e lançando música pela internet.

Vocês estão aparecendo mais numa época em que há um outro estilo de rock em evidência, aquele feito por bandas voltadas aos mais novos. Fazer um som diferente torna mais fácil ou mais complicado conseguir espaço?
A crítica e o público, no Brasil, infelizmente não conversam. Normalmente, quando você faz sucesso com a crítica, o público não entende, e quando você faz sucesso com o público, a crítica ignora. A gente não tenta concorrer com esse tipo de banda, que tem outra proposta musical. A gente procura fazer música do jeito que gostamos, e se um dia tivermos que parar de fazer isso, mudar o nosso som ou o modo de nos vestir, provavelmente não faremos mais música.

Você identifica qual é o público da Sabonetes?
Antes, a gente tentava direcionar nossa divulgação pra um certo público, mas vimos que não é bem assim que funciona. Você não tem controle sobre o público. Tem gente que gosta da banda, vai aos shows, que nunca achei que iria gostar da gente. Até agora não conseguimos definir um perfil. Agradamos tanto a pessoa que escuta esse rock mais novo quanto quem não ouve rock. Por isso, acho que nos encaixamos melhor como uma banda pop, porque atingimos vários tipos de pessoas.

A Sabonetes tem aparecido mais em São Paulo. Pensam em investir também no interior?
Queremos muito. As poucas vezes que tocamos no interior foram muito boas. É uma galera igual a gente, que escuta rock, mas está meio carente de bandas novas, que fazem um som que você não tem vergonha de dizer que ouve. Queremos entrar muito nesse circuito, mas é difícil, porque precisa de uma divulgação maior pra conseguir marcar show. Também queremos ir pro Nordeste, porque sabemos que temos um público legal lá. Mas é difícil, porque não temos essa coisa da grande mídia, então não vale a pena o contratante chamar a gente. Mas estamos nessa luta.

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Marcos Paulino é jornalista e editor do caderno Plug, do jornal Gazeta de Limeira

7 thoughts on “Entrevista: Sabonetes

  1. comentários acima, vocês não sabem o que tão dizendo, sem noção
    os caras tem talento de sobra, ainda bem que eles não dependem da aprovação de vocês
    pra serem bem sucedidos, entendam de música depois comentem alguma coisa em qualquer lugar que seja.

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