“Heróis”, de Paul MacGuigan

Por André Azenha

Seres humanos superpoderosos precisam fugir de uma agência do governo dos EUA – que deseja utilizá-los para a criação de um exército invencível – e de organizações que também querem tirar proveito desses poderes. A trama descrita lembra um gibi do X-Men. Ou ainda, um de seus tantos derivados, principalmente a série de TV “Heroes”, se pensarmos que os protagonistas não usam uniformes coloridos no seriado. Até novela – tosca – brasileira aproveitou o filão. Mas a cara-de-pau de alguns produtores é tamanha que “Heróis” (“Jump”, 2009) é a cópia da cópia da cópia do gênero, e ainda chupa a idéia de um filme ruim: “Jumper”, que também tinha uma organização – cujo líder (como aqui) é negro – caçadora de pessoas “especiais”.

O pior de tudo é que o novo longa, realizado pelo escocês Paul MacGuigan (“Xeque-Mate”), se leva à sério. Fosse uma paródia das obras já citadas (há ainda ecos de trilogias descoladas, como o visual meio ”Matrix” de alguns personagens e a câmera tremida dos longas de Jason Bourne) talvez fosse menos complicado de ser digerido.

Dois jovens americanos (Chris Evans e Dakota Fanning), respectivamente com poderes de telepatia e clarividência, tentam escapar de uma agência clandestina do governo americano. Nessa empreitada, vão parar na China, e ainda precisam lidar com uma família local de bandidos.  Todos buscam encontrar uma garota (Camilla Belle, de “10.000 A.C”), a única a ter sobrevivido à injeção com uma substância que aumenta os poderes dessas pessoas.

O diretor até tenta imprimir um ritmo ágil à trama, mas tudo soa deslocado. A trilha sonora é exagerada, os efeitos especiais não são dos melhores e o roteiro é banal. Mesmo se “Heróis” fosse uma obra original, não passaria de uma história de perseguição canastra, que jamais tenta aprofundar o drama de seus personagens, alguns extremamente caricatos.

Até atores simpáticos acabam sendo prejudicados. Dakota Fanning, que apesar de pouca idade comprovara seu talento ao dividir a tela com gente consagrada como Sean Penn (“Uma Lição de Amor”), Robert De Niro (“O Amigo Oculto”), Denzel Washington (“Chamas da Vingança”) e Tom Cruise (“Guerra dos Mundos”), não faz mais do que dar alguns gritos e derramar poucas lágrimas.

Chris Evans, o Tocha Humana nos dois filmes do “Quarteto Fantástico”, mesmo com as irregularidades daquelas produções, era capaz de cativar a platéia com seu jeitão meio debochado, mas em “Heróis” está sem graça, insosso. Até  Djimon Hounsou (“Diamante de Sangue”), que faz o vilão, está irreconhecível. O elenco coadjuvante também não ajuda.

”Heróis” é o tipo de produção que não pode ser considerada meramente influenciada, inspirada ou uma homenagem às histórias dos personagens mutantes da Marvel. É caso de cópia deslavada. Tinha que pagar direito autoral. Até os poderes são imitados. A telecinese, o sujeito que manipula a mente das pessoas, e até aquele (s)que emite (m) berros supersônicos (poder que, no gibi “X-Men”, pertencia ao personagem Banshee) estão presentes. Difícil gastar uma boa grana no cinema para conferir algo que já vimos tantas outras vezes por aí.

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André Azenha é jornalista e editor do Cine Zen Cultural.

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