Faixa a faixa: “confusodifusoemparafuso”, novo álbum de The Wxlker, “tem uma temática levemente soturna e reflexiva…”

introdução por Diego Albuquerque
Faixa a faixa por The Wxlker

The Wxlker começou a ter interesse por criar beats antes mesmo da pandemia, mas foi nela, preso em casa e tentando não pirar, que o projeto criou vida e o beatmaker começou a soltar seus trabalhos. Desde então já são alguns EPs, dois álbuns (um deles, aqui) e vários singles. Agora The Wxlker apresenta seu terceiro trabalho cheio, “confusodifusoemparafuso” (2023), a síntese sonora do ciclo do interesse sentimental de um indivíduo.

“Já se interessou por algo de um certo jeito, até se dar conta do quanto ordinário aquilo era e só largar mão depois? O álbum tenta ilustrar musicalmente este processo, desde a curiosidade, indo ao conhecimento, ao descontentamento, passando pela confusão e, por fim, chegando ao momento em que nos perguntamos por que que eu gostava disso mesmo?”, explica o beatmaker. “Este conceito plenamente abstrato é reflexo de uma experiência sonora que tenta remeter a esta ideia central, ainda que talvez ela seja a própria experiência, se analisarmos bem”, complementa.

Ao longo de oito faixas curtas que, reunidas, não chegam a 20 minutos, The Wxlker se utiliza de samples de video games, sons retrôs e beats um tanto darks em meio a synths tristes num álbum que, segundo ele, tem “uma temática levemente soturna e reflexiva. Talvez até triste. Eu culparia os sintetizadores e padrões rítmicos simplificados, mas pode só ser o geral mesmo”, provoca. O álbum “confusodifusoemparafuso” é mais um lançamento do Hominis Canidae REC e está disponível no Bandcamp do selo assim como em todos os portais de streaming. Abaixo você confere um faixa a faixa exclusivo assinado pelo artista.

01) pó – Uma referência às drogas? Claro que não. Ou talvez. Mas não intencionalmente. Já reparou que se há interesse por algo empoeirado, a primeira coisa que fazemos é limpar a poeira? Um belo motivo para esta ser a faixa introdutória e o primeiro single lançado para promover o trabalho. Destaque especial para o sample de harpa que, pasmem, veio de um jogo de videogame. Esta foi a primeira mixagem que me deixou satisfeito, apesar de ainda sentir que há um enorme espaço para melhora neste ponto. Tal qual coisas empoeiradas também têm um potencial escondido aos primeiros olhares.

02) not much – Custou muito aceitar que meus sons, apesar de (erroneamente) classificados como study beats, são músicas tristes. Ou que tentam evocar este sentimento, apesar de tentarem desesperadamente sair deste lugar. “not Much” abraça um clichê de nomear em inglês algo que eu talvez nem quisesse entrar em contato, apesar de ficar evidente a cada faixa. Meu som é triste, soturno, tosco, mas envolvente em alguma medida. Pretensão travestida de falsa genialidade é sempre muito bem recebida pelo público. Sinceridade, por outro lado, não. Não muito!

03) tasukete – Como já referido aos entendedores básicos de japonês, este é um pedido de ajuda, cujo sample remete a algo abandonado, como uma ilha, ou uma casa vazia em uma chuva torrencial. Representa o sentimento de se estar perdido em algo novo, após a referida curiosidade e antecedendo o aprofundamento naquilo que é interessante. Evidente que é apenas uma tentativa de evocar tais sentimentos, mas, modéstia à parte, executada de forma peculiar, seja nos tons menores do teclado ou mesmo em um drumkit feito de latas, caixas e botas sobrepostas.

04) se(parado) – Nem toda música sobre amor é romântica. Algumas têm a ver com algo maior. Saber largar de mão. E algumas nem vão ter letra. Se vira com seu sentimento aí. Supera. Faça terapia.
05) poça – Talvez a melhor tentativa de fazer um som que é delicado, singelo, com toques sutis de melodias suaves e um barulhinho de água que também conforta. Ou te deixa ainda mais apertado pra dar um mijão. Pouco importa o lado, ele expande, mas sem ser grandioso. Percebe o efeito shimmer? Adorei quando fiz. Mas não muito.

06) nevermore – Uma faixa dramática. Gosto de representar drama de formas bem convencionais. Drama é isso. Previsível, meloso, enjoativo, indigesto. Nem sempre arte é sobre despertar os melhores e mais puros sentimentos. Percebeu como o piano é um sample que vai e volta? A progressão é simples, mas o fato de ir e voltar é o que dá o tom melancólico. Tipo aquele sentimento pelo ex, que vai e volta quando você sair para beber no mesmo bar que você o conheceu. Pois é, gatilhos.

07) humilhão – Acho que esse foi o pior nome que eu pude dar para uma faixa. Por isso insisti neste nome. Nem tudo é sobre o melhor que você pode fazer. Às vezes é sobre o quanto presunçoso pode se tentar ser, a fim de que algo ruim se torne a melhor ideia que você já teve. Mas também é sobre fracassar, se sentir humilhado pela própria soberba. Muitos já devem ter se deparado com este tipo de sentimento, e eu sou só mais um. Percebeu como o baixo tem um efeito leve de volume aumentando gradativamente, quase como se ele fosse uma professora do Charlie Brown? Uooon. Pois é, gostei disso.

08) desinteresse – Para uma última faixa, a que talvez menos remeta ao final. Será que é culpa do fade out no fim? Nem todo desinteresse vem anunciado, o que torna as coisas mais abruptas ou são semi angustiantes. Sintetizadores e teclados que evocam uma tentativa de fuga silenciosa, ou somente fechadas em uma melodia que parece incompleta, repetida, cansativa ou só angustiante. Desinteressante, para as más línguas.

Capa de “confusodifusoemparafuso”, de The Wxlker

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