Boteco: 12 cervejas nacionais

por Marcelo Costa

Abrindo uma nova série com duas Smoothie New England IPA da Japas Cervejaria, que levam o nome de Kawaii (um adjetivo da língua japonesa que quer dizer fofo, bonito, adorável, cute cute). A primeira delas combina os lúpulos Mosaic, Galaxy e Enigma com a adição de amora e framboesa. O resultado é uma cerveja de coloração rosa e creme branco de excelente formação e retenção. No nariz, a Japas Kawaii apresenta um aroma intensamente frutado, ainda que a sugestão principal seja laranja e toranja com amora e framboesa mais delicadas, na base. Há, ainda, percepção discreta de doçura no aroma. Na boca, a framboesa aparece de maneira bastante leve no primeiro toque seguida de amora, doçura, leve cítrico que sugestiona toranja e um amargor bastante comportado. A textura fica no meio do caminho entre o leve e o suave e, dai pra frente, elas entregam o que prometem: uma Smoothie New England IPA com frutas vermelhas que surpreende. No final, doçura e framboesa (com um tiquinho de pêssego). No retrogosto, frutas vermelhas e refrescancia. Uou!

A segunda New England IPA Kawaii da Japas Cervejaria surge na versão Purple e recebe adição de mirtilo e de jabuticaba. De coloração rosa avermelhada com creme branco de excelente formação e retenção, a Japas Kawaii Purple apresenta um aroma bastante frutado puxando para toranja, mas com acréscimo de maçã, romã e goiaba branca bem leve. Na boca, o mirtilo se destaca no primeiro toque com a jabuticaba surgindo suave na sequencia e sendo totalmente encoberta por outras frutas (toranja e romã em destaque) e, também, por um amargor interessante, um tiquinho acima do que o estilo está acostumado a aceitar, mas muito saboroso. A textura é suave e, dai pra frente, a Japas Kawaii Purple fica devendo a sua companheira, pois o conjunto que se segue parece tender mais ao amargor advindo da lupulagem do que ao sabor das frutas adicionadas, que acentuam essa sensação, deixando a pegada Smoothie levemente apagada. No final, jabuticaba (muita). No retrogosto, amargor e frutadinho.

Permanecendo em São Paulo com duas cervejas da série Small Lagers, da Avós, da Vila Ipojuca, na capital paulista. A primeira é a Granny Feelings #02 – Amber Galaxy, que combina malte caramelo com os lúpulos Tettnang (Alemanha) e com Galaxy (USA). De coloração âmbar caramelada com creme branco de boa formação e retenção, a Avós Amber Galaxy apresenta um aroma com sensação outonal de folhas caindo, herbal bastante sutil remetendo a ervas (capim cidreira) e um sutil frutado cítrico (maracujá e laranja). Na boca, a sensação de chazinho bate ponto no primeiro toque seguindo com leve presença frutada (maracujá), casca de pão, biscoito e herbalzinho. O amargor é baixo, o álcool também (apenas 2.3%). A textura é leve. Dai pra frente, um chazinho bastante leve e refrescante. No final, ervas. No retrogosto, mais ervas e leve cítrico. Interessante.

A segunda Small Lager da Avós é a Before Noon, que recebe adição do café Catuaí Amarelo, da Cafeína Records. De coloração marrom escura translucida com creme bege clarinho, quase branco, de média formação e retenção, a Avós Granny Feelings #03 – Before Noon apresenta um aroma que traz o café em destaque, remetendo ainda a Cold Brew. Há também percepção de malte torrados na base. Na boca, malte torrado no primeiro toque com acentuação de café na sequencia, com bastante sutileza e personalidade. O amargor é baixo, a textura é leve e, dai pra frente, a sensação é de uma American Light Lager bastante leve, refrescante e saborosa, com o café trazendo um grande diferencial para o conjunto. No final, malte torrado e leve café. No retrogosto, mais torra e mais café. Gostosa!

Mantendo-se ainda na capital paulista, mas saindo da Vila Ipojuca para a vizinha Pompeia com duas cervejas da Trilha. A primeira é a All Together, uma colaborativa mundial em apoio aos profissionais de hospitalidade (hotéis, restaurantes, cafés, bares, entre outros) impactados pela pandemia do COVID19. Elaborada pela Other Half Brewing, de Nova York, e disponível em duas versões – uma New England IPA e outra West Coast IPA – as receitas estão abertas ao público e o objetivo é que cervejarias, no mundo inteiro, fabriquem a All Together e doem parte dos recursos gerados pelas vendas. Essa é a versão da Trilha, uma Juicy IPA de coloração amarela, turva, juicy tal qual um suco de laranja, e creme branco de boa formação e retenção. No nariz, abacaxi, laranja, tangerina, leve maracujá. Na boca, frutado intenso desde o primeiro toque com sugestão de abacaxi, laranja docinha e tangerina. O amargor é leve, mas há leve percepção resinosa. A textura é suave. Dai em diante, uma Juicy IPA caprichada e deliciosa, por uma baita causa. No final, resina suave e muito abacaxi. No retrogosto, refrescancia e muitas frutas.

A segunda da Trilha é uma das cervejas do clube Ultrafresco do mês de agosto, a Fantasy, uma Juicy IPA com os lúpulos Azacca, El Dorado, Citra e Hull Melon. De coloração amarela, turva, juicy tal qual um suco de laranja, com creme branco de ótima formação e longa retenção, a Trilha Fantasy apresenta um aroma intensamente frutado, com muita sugestão de melão, laranja, abacaxi, manga e leve coco. Há, ainda leve condimentado e sugestão de doçura. Na boca, uma pancada de melão no primeiro toque seguida de discreto condimentado e mais melão, um pouquinho de melão, um tiquinho de melão e também laranja e abacaxi docinho, bem leve. O amargor é suave, na casa dos 40 IBUs, bem equilibrado com o conjunto. A textura é suave. Dai pra frente, uma New England IPA caprichada, alto nível, padrão Trilha. No final, melão e leve doçura. No retrogosto, amarguinho leve, melão e doçura. Baita!

Da capital paulista para o Rio de Janeiro, ainda que a planta da cervejaria carioca Hocus Pocus se localize em Matias Barbosa, Minas Gerais. Abrindo primeiramente com a Alma, uma Oat Lager (com 70% de aveia!) de coloração com um dourado querendo se transformar em amarelo palha, levemente turva, com creme branco de ótima formação e retenção. No nariz, cereais se destacam levemente – a cervejaria buscou um equilíbrio que não destacasse esse ou aquele ingrediente, e conseguiu – ao lado de floral e cítrico sutis. Na boca, leveza de cereais no primeiro toque seguida de floral, cítrico sutis e refrescancia intensa e deliciosa. O amargor é baixo e a textura, leve. Dai em diante, uma daquelas Lagers para se curtir bebendo o dia todo, sem enjoar, se refrescando. No final, refrescancia e cereais. No retrogosto, leveza e refrescancia.

A segunda dos cariocas da Hocus Pocus é a Pineapple Express, uma American IPA cuja receita destaca o uso do lúpulo norte-americano Mosaic e de uma “quantidade imensa de abacaxi”, resultando em uma cerveja de coloração dourada levemente turva com creme branco de excelente formação e média alta retenção. No nariz, abacaxi, abacaxi e mais abacaxi. Há, ainda, sugestão de goiaba branca, laranja, mel e leve hortelã. Na boca, doçura de abacaxi madurinho no primeiro toque seguindo com frutas tropicais, algo de laranja, doçura de mel e amargor comportado (com remissão a abacaxi – até ele). A textura é suavezinha e, dai pra frente, segue-se uma American IPA deliciosa, intensamente frutada, levemente amarga e com muito, mas muito abacaxi. No final, oras, abacaxi. No retrogosto, mais abacaxi e refrescancia.

Do Rio de Janeiro para Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, casa da Cervejaria Invicta, responsável pela produção das cervejas da banda Velhas Virgens, primeiro com Whitie Dog, uma Witbier elaborada pelo homebrew e baixista da banda, Tuca Paiva, que além da semente de coentro também acrescentou casca de limão cravo na receita. De coloração dourada levemente turva, levemente amarelo palha, com creme branco de ótima formação e retenção, a Witbier das Velhas Virgens cola na versão made in USA da Blue Moon, com bastante sugestão de semente de coentro, que se destaca ao lado da casca de limão cravo, criando uma paleta aromática que sugere refrescancia. Na boca, primeiro surge a semente de coentro, depois a casca de limão cravo assume a dianteira com leve presença de trigo e um amargor bem suave. A textura é leve e, dai pra frente, surge uma Witbier bem executada e bem refrescante, que finaliza levemente condimentada (semente de coentro) pra trazer o limão e mais refrescancia no retrogosto.

A segunda das Velhas Virgens é a Indie Man, uma (Old) American IPA de coloração âmbar acobreada com creme bege bem clarinho, quase branco, de boa formação e retenção. No nariz, uma combinação de doçura caramelada com frutado cítrico (laranja e toranja em destaque e mais intensos do que o melaço) acompanhados de discreto herbal. Na boca, frutado cítrico no primeiro toque puxado para toranja com doçura caramelada discreta na sequencia (ou seja, ela até parece uma Caramel IPA, mas é mais do que isso) e amargor médio, 45 IBUs que batem ponto e riscam levemente a garganta do bebedor (no melhor estilo West Coast IPA). A textura é sedozinha e, dai pra frente, o conjunto sugere uma English IPA mais lupulada do que se costuma fazer nas ilhas britânicas – o que é bem interessante. No final, carameladinho com toranja, sensação que se estende ao retrogosto.

Do interior de São Paulo para Fortaleza, casa da cervejaria cigana Bold, que produziu essas duas latas na fábrica da Dádiva, em Varzea Paulista, no interior de São Paulo. Ambas integram a linha Single Hop NE da casa, e a primeira é a Cashmere Shine, que utiliza o Cashmere, variedade norte-americana criada na Universidade de Washington em 2013. Na taça, a cerveja apresenta uma bela coloração amarela, turva, juicy tal qual um suco, com creme branco espesso de excelente formação e longa retenção. No aroma, desde que a lata é aberta, há notas frutadas cítricas deliciosas remetendo a limão siciliano em primeiro plano com leve sugestão de melão e de kiwi. Na boca, o frutado cítrico já marca presença no primeiro toque com o limão siciliano presente, deliciosamente sutil, nada agressivo, e ainda abrindo espaço com leveza para as sugestões de melão e kiwi. O amargor também é leve, algo na casa dos 30 IBUs, mas que nem se sente. A textura é suave e, dai pra frente, esse suquinho de limão siciliano segue como uma boa surpresa de altíssimo drinkability. No final, limão siciliano e doçurinha. No retrogosto, casca de limão e refrescancia. Uou!

A segunda da série Shine da cearense Bold foca no lúpulo norte-americano Sultana, criado em 2019. Na taça, a cerveja apresenta uma bela coloração amarela levemente alaranjada, turva, juicy tal qual um suco de laranja, com creme branco espesso de excelente formação e longa retenção. No aroma, notas frutadas cítricas que puxam a mesma base da anterior para notas de abacaxi (nada de limão aqui), com uma leve pegada de manga e pinho bem sutil. Na boca, suco de abacaxi no primeiro toque turbinado na sequencia com manga, herbalzinho e um amargor um tiquinho mais presente do que na anterior, com leve traço resinoso (bem leve mesmo), mas, ainda assim, muito bem inserido. A textura é suave e novamente temos uma cerveja de excelente drinkability, muito sabor e notas cítricas um tiquinho mais doces do que na versão com Cashmere, resultando num conjunto mais sedutor. No final, doçurinha de abacaxi. No retrogosto, abacaxi, leve herbal e refrescancia. Delicia

Japas Kawaii
– Produto: New England IPA
– Nacionalidade: São Paulo, SP
– Graduação alcoólica: 6.4%
– Nota: 3.68/5

Japas Kawaii Purple
– Produto: New England IPA
– Nacionalidade: São Paulo, SP
– Graduação alcoólica: 6.4%
– Nota: 3.40/5

Avós Granny Feelings #02 – Amber Galaxy
– Produto: American Light Lager
– Nacionalidade: São Paulo, SP
– Graduação alcoólica: 2.3%
– Nota: 3.19/5

Avós Granny Feelings #03 – Before Noon
– Produto: American Light Lager
– Nacionalidade: São Paulo, SP
– Graduação alcoólica: 2%
– Nota: 3.20/5

Trilha All Together
– Produto: New England IPA
– Nacionalidade: São Paulo, SP
– Graduação alcoólica: 8.7%
– Nota: 4.00/5

Trilha Fantasy
– Produto: New England IPA
– Nacionalidade: São Paulo, SP
– Graduação alcoólica: 7%
– Nota: 4.00/5

Hocus Pocus Alma Oat Lager
– Produto: Pale Lager
– Nacionalidade: Rio de Janeiro, RJ
– Graduação alcoólica: 4.4%
– Nota: 3.40/5

Hocus Pocus Pineapple Express
– Produto: American IPA
– Nacionalidade: Rio de Janeiro, RJ
– Graduação alcoólica: 6.1%
– Nota: 3.55/5

Velhas Virgens Whitie Dog
– Produto: Witbier
– Nacionalidade: Ribeirão Preto, SP
– Graduação alcoólica: 5.2%
– Nota: 3.09/5

Velhas Virgens Indie Man
– Produto: American IPA
– Nacionalidade: Ribeirão Preto, SP
– Graduação alcoólica: 6.5%
– Nota: 3.00/5

Bold Cashmere Shine
– Produto: New England IPA
– Nacionalidade: Fortaleza, CE
– Graduação alcoólica: 6.3%
– Nota: 4.01/5

Bold Sultana Shine
– Produto: New England IPA
– Nacionalidade: Fortaleza, CE
– Graduação alcoólica: 6.3%
– Nota: 4.04/5

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– Top 2001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
– Leia sobre outras cervejas (aqui)

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