Três livros: “O Golpe”, “Vozes de Tchernóbil” e “Lake Success”

Resenhas por Adriano Mello Costa

“O Golpe”, de Christopher Reich (Editora Arqueiro)
Simon Riske vive do jeito que quer e bem entende em Londres. Faz trabalhos esporádicos para bancos, seguradoras e o governo recuperando itens e objetos roubados ou achando pessoas desaparecidas, trabalhos esses que lhe rendem uma grana bem boa no final. Oficialmente possui uma oficina mecânica onde trata da verdadeira paixão, que são os carros. Tudo anda mais ou menos dentro dos conformes até que um agente norte-americano invade seu espaço e chega com uma proposta de trabalho para lá de arriscada: ir atrás de uma pasta roubada de maneira espetacular de um príncipe saudita em plena Paris. Ele não aceita o caso em um primeiro momento, entretanto quando vê que um antigo desafeto está envolvido nesse roubo, parte para a complicada caçada. “O Golpe” (The Take, no original) é uma publicação da editora Arqueiro de novembro de 2019 com 384 páginas e tradução de Marcelo Mendes. O livro do escritor Christopher Reich é um suspense de espionagem com boa quantidade de ação e algumas reviravoltas embutidas lá pelo meio. Situado principalmente em Londres, Paris e Marselha, conta com várias traições e utiliza a política como motivadora dos fatos em uma trama conspiratória envolvendo Rússia, Arábia Saudita e EUA. É um thriller que mistura assaltos, perseguições e espiões na linha de grandes trabalhos do estilo, mas com um brilho bem menos intenso. Contudo esse brilho menos intenso não tira o prazer de uma leitura rápida e sem maiores atribulações para passar o tempo e que nem desagrada aos fãs do estilo

Nota: 6 (leia um trecho)

“Vozes de Tchernóbil – A História Oral do Desastre Nuclear”, de Svetlana Aleksiévitch (Cia das Letras)
Existem livros em que seguir em frente é tarefa árdua, não por ser mal escrito ou tratar de um assunto irrelevante, mas sim por apresentar uma história tão implacável e dolorosa que é impossível ler com rapidez, sendo preciso parar e respirar com frequência depois de algumas páginas. É o caso do “Vozes de Tchernóbil – A História Oral do Desastre Nuclear”, de Svetlana Aleksiévitch, vencedora do prêmio Nobel de Literatura Svetlana Aleksiévitch, publicado em 2016 pela Companhia das Letras com 317 páginas e tradução de Sônia Branco – quando completou 30 anos da catástrofe. A autora bielorussa levou 10 anos para concluir a obra que, originalmente, foi publicada em 1997 e optou por passar pelo fato em si e focar no universo em volta, nas histórias omitidas e na mudança drástica do cotidiano. São relatos de pessoas de diferentes profissões e classes que montam uma fotografia poderosa de uma guerra invisível contra um inimigo de aspecto completamente diferente e que eles não estavam preparados para enfrentar. Paralelamente, Svetlana traça um panorama político e social da época, enquanto aproveita para mostrar toda a inépcia, covardia e egoísmo do governo que escondia a verdade inundado com o medo de perder o poder e fazendo com que o povo sofresse muito e pagasse com a própria vida no decorrer dos anos. É um livro sobre memória, sobre lembranças, sobre pessoas que tiveram o medo ocupando o lugar do amor nos seus corações e que serve como lição para o momento em que passamos hoje no mundo.

Nota: 9 (leia um trecho)

“Lake Success”, de Gary Shteyngart (Editoria Todavia)
O romance mais recente do escritor Gary Shteyngart, intitulado “Lake Success”, que a editora Todavia publicou no Brasil em 2019 com 448 páginas e tradução do André “Cardoso” Czarnobai, é ambientado nos EUA durante o fatídico ano de 2016 – o ano da eleição que levou Donald Trump a presidência. Esse fato, que norteia das desconfianças e receios das primárias até chegar a controversa vitória de Trump é importantíssimo na história e serve como um coadjuvante de destaque de “Lake Success”. O personagem principal é o narcisista, covarde, palerma e milionário Barry Cohen, que administra um fundo multimercado perdendo de modo constante dinheiro de várias pessoas e sendo muito bem recompensado por isso. Acuado por denúncias, decisões profissionais equivocadas, com o FBI de olho, sem saber lidar com o filho pequeno (que é autista) e sem qualquer relação maior de afeto com a esposa, Barry resolve infantilmente jogar tudo para cima e embarcar (quase) sem nada em um ônibus da empresa Greyhound para cruzar o país em uma busca nostálgica e sem sentido que serve para disfarçar o medo. No livro, os EUA é um país que recompensa as piores (e mais imbecis) pessoas e uma sociedade onde os vilões têm mais chance de vencer. Usando de um humor bastante ácido e mordaz em busca de alguma redenção, “Lake Success” narra essa história de egoísmo, abandono, superficialidade, impunidade e amor de maneira interessantíssima, ainda que em determinadas partes a verborragia do protagonista quebre demais o ritmo.

Nota: 8,5

– Adriano Mello Costa assina o blog de cultura Coisa Pop ( http://coisapop.blogspot.com.br ) e colabora com o Scream & Yell desde 2009!

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