Boteco: 10 cervejas nacionais de 5 cervejarias

por Marcelo Costa

Abrindo mais uma sequencia de duas cervejas por cervejaria pela curitibana Morada Cia Etilica, que surge representada primeiramente pela Lupulicia (produzida na fábrica da Maniacs, em Londrina), uma American Pale Ale de coloração dourada cristalina com creme branco de média formação e rápida dispersão. No nariz, uma combinação leve de notas cítricas e herbais com doçura discreta. Na boca, doçura rápida no primeiro toque abrindo-se para um conjunto que primeiramente oferta maracujá e, logo depois, acrescenta um toque de pinho bem sutil. O amargor é baixo, 30 IBUs bem limpos que não chegam a incomodar o bebedor. Já a textura é leve. Dai pra frente, o conjunto aposta em uma APA bem descompromissada, com doçura e maracujá brigando por espaço de destaque, mas sem tanta vontade. No final, doçura e refrescancia. No retrogosto, mais maracujá do que pinho e mais refrescancia. Da Morada a gente sempre espera mais do que isso, mas é uma cerveja ok – ainda que não impressione.

Do Paraná para Lauro Muller, em Santa Catarina, para mais uma cerveja da Lohn Bier, que desta vez marca presença com sua Sour IPA, uma cerveja de coloração amarela, levemente dourada com um pouco de turbidez. O creme é branco e espesso, de boa formação e retenção. No nariz, frutado cítrico médio, mas facilmente perceptível, sugerindo manga e abacaxi (num caráter bem IPA) com leve presença de minerais. Há, ainda, leve sugestão de acidez. Na boca, o primeiro toque traz lichia seguida de acidez moderada (num caráter bastante Sour), que domina o conjunto daqui pra frente. Ainda é possível perceber um pouco de mel e de abacaxi, mas a acidez continua dando as cartas – então, esqueça amargor, aqui não tem vez. A textura é levemente frisante com um tiquinho de suavidade. Dai pra frente, uma Sour IPA mais Sour do que IPA, mas bem refrescante e saborosa, que não decepciona. No final, acidez leve e abacaxi. No retrogosto, abacaxi, acidez e refrescancia.

Do Sul para o Sudeste, mais precisamente o bairro de Santa Cecilia, em São Paulo, casa do taproom da Dogma, que marca presença com uma cerveja produzida no local, a Dasein, uma German Pils de coloração dourada cristalina e creme branco espesso de ótima formação e retenção. No nariz, cereais, doçura mais baixa do que o tradicional e um leve cítrico interessante numa paleta cujo destaque é a sugestão de panificação. Na boca, cereais e um leve metálico seguido de cítrico tímido e de sugestão de casca de pão. O amargor é baixinho, a textura é bem leve e, dai pra frente, uma boa German Pils, levemente prejudicada pelo metálico, mas relendo de maneira agradável um estilo clássico. No final, há um leve toque cítrico em meio ao amargor, que coloca as asinhas de fora, mas não passa de 20 IBUs. Já no retrogosto, cereais e refrescancia.

Ainda na capital, mas mudando do bairro de Santa Cecilia para a Pompeia com mais uma da cervejaria Trilha, e essa bastante especial, pois a Sorte de Principiante foi a primeira receita dos caras, ainda na panela, que eles já haviam replicado para a torneira do taproom e agora repetem a dose nas latas do clube ultrafresco. Trata-se de uma Double West Coast IPA de coloração âmbar acastanhada e creme branco de ótima formação e média alta retenção. No nariz, doçura maltada caramelada em primeiro plano, herbal e percepção da pancada de álcool (9.2%) que virá pela frente. Na boca, doçura melada em primeiro plano e herbal sutil, mas bastante eficiente na busca por disfarçar o sotaque Caramel IPA dessa DIPA porrada. O amargor é poderoso, chuto mais de 70 IBUs. A textura é suave com picância de álcool, que dança e rebola sobre a língua. Dai pra frente, uma Double West Coast IPA caramelada, amarga e alcoólica, que finaliza com amargor e caramelo. No retrogosto, amargor e caramelo.

De São Paulo para Belo Horizonte com duas cervejas do clube MadLab, da Wäls. A primeira é a Beetnik Flower, uma Belgian Tripel Barrel Aged cuja receita blenda duas versões, uma que passou 12 meses em barricas de carvalho francês e outra que abrigou vinho. Há, ainda, adição de beterraba, amora e flor de hibiscos no último mês de maturação. De coloração âmbar avermelhada com creme branco de ótima formação e média alta retenção, a Wäls MadLab Beetnik Flower apresenta um aroma com geleia de amora em destaque, bastante percepção de madeira além de sugestão de baunilha, vinho do Porto discreto e framboesa. Na boca, doçura frutada no primeiro toque (framboesa) entorpecida no segundo seguinte por picância de levedura, madeira marcante, geleia de amora e framboesa mais beterraba (facilmente identificável) e vinho do Porto bastante leve. Não há amargor, mas há muita madeira, doçura média e picância sutil de (9% de) álcool, que aparece principalmente sobre a língua, em meio a uma textura suave. Dai pra frente, uma versão bastante amadeirada, deliciosamente alcoólica e delicadamente frutada. No final, geleia de amora alcoólica. No retrogosto, geleia, madeira e framboesa.

A segunda do clube MadLab da Wäls é a 20-Barrel, uma Flanders Red Ale produzida para festejar os 20 anos da cervejaria mineira, cuja receita resultou do blend de 20 barricas que estavam maturando no barrel room da casa. De coloração âmbar avermelhada com creme bege claro de boa formação e retenção, a Wäls MadLab 20-Barrel apresenta um aroma intenso, com muita presença de madeira, sugestão intensa de vinho do Porto, avinagrado marcante, percepção de acidez, caramelado discreto além de figo, calda de ameixa e banana assada. Na boca, um microssegundo de doçura caramelada soterrada por uma avalanche de notas avinagradas e amadeiradas. Não há amargor, a acidez é baixa, mas o azedume avinagrado é médio alto. A textura é arisca, levemente acética e picante (ainda que os 8% de álcool não apareçam tanto). Dai pra frente, uma cerveja excepcional com azedume e avinagrado em perfeita sintonia com a baixa doçura e o amadeirado marcante. No final, amadeirado e avinagrado. No retrogosto, caramelo, figo, azedume, avinagrado, felicidade.

A segunda da paulistana Trilha é a versão White Oak da Néctar, terceira receita lançada pela cervejaria (depois de Melonrise e Trópicos), que aqui recebe infusão de carvalho branco americano. De coloração amarela, turva e juicy como um suco de laranja, com creme branco de ótima formação e retenção, a Trilha Néctar White Oak apresenta um aroma intenso de frutas tropicais (melão, mamão, laranja lima, abacaxi e mais frutas amarelas) combinadas com presença de madeira e discreta sugestão de coco e percepção de levedura. Na boca, manga no primeiro toque seguido de melão, laranja e amadeirado. O amargor é limpo, sensação de 40 IBUs envolventes. Já a textura é cremosa e levemente picante. Dai pra frente, um conjunto incrível que remete a um suco de laranja lima temperado com notas amadeiradas, deliciosas, e leve picância alcoólica. No final, suco de laranja. No retrogosto, laranja, madeira e felicidade.

A segunda da Dogma é mais uma produzida no taproom da marca, no bairro de Santa Cecilia, em São Paulo. Trata-se da Edge, uma Double New England IPA produzida com os lúpulos Mosaic, Wai-iti e Citra e fermentada com a levedura própria Dogma 001. De coloração amarela turva, juicy tal qual um suco de caju, e creme branco de boa formação e retenção, a Dogma Edge apresenta um aroma com notas tropicais deliciosas sugerindo suco de laranja, leve manga e também abacaxi, esse mais sutil. Há ainda doçura e percepção de levedura, mas nada que entregue os 9.1% de álcool da receita. Na boca, doçura cítrica no primeiro toque abrindo-se rapidamente em suco de laranja exprimido na hora com suave presença de manga. O amargor é alto, na casa dos 60 IBUs. Já a textura é picante e cremosa, sedosa, com leve percepção de álcool. Dai pra frente, uma bela Imperial NE, com muito frutado cítrico, leve doçura e álcool pra mais de metrô, e ainda por cima muito bem escondido. No final, laranja docinha. No retrogosto, leve picância, um tiquinho de álcool e suco de laranja.

A segunda da Lohn Bier é uma Catharina Sour com maçã e hortelã que atende pelo nome de Catharina Dark e é uma cerveja de coloração âmbar escura (remetendo a cor de um chá) com creme bege de média formação e retenção. No nariz, acidez suave com reminiscências de maçã domina a paleta, que ainda traz bastante discreto remetendo a vinagre e pouca coisa de hortelã, que eu achava que iria se destacar com facilidade. Na boca, frutas vermelhas no primeiro toque com leve queda para morango. Na sequencia, a intensidade da sugestão de frutas vermelhas toma conta do paladar trazendo, além de morango, leve cereja. O hortelã aparece timidamente e a maçã dá um leve sumida. Não há sensação de amargor e a acidez é bastante baixa. Já a textura é levemente frisante sobre a língua. Dai pra frente, a sensação é de ponche com maçã e frutas vermelhas buscando a atenção do bebedor. No final, doçura e ponche. No retrogoso, acidez leve, morango, cereja, maçã e ponche.

A segunda da paranaense Morada, fechando o rolê, também foi produzida na fábrica da Maniacs, em Londrina, e é uma Summer Ale chamada Easy Ale que apresenta uma coloração dourada cristalina com creme branco de boa formação e retenção. No nariz, aroma levemente lupulado com notas cítricas leves em destaques sobre uma base maltada bem discreta, que valoriza sugestões (bem distantes) de abacaxi e laranja lima. Na boca, laranja bem suave no primeiro toque seguida de minerabilidade, doçura maltada e bastante refrescancia. O amargor é baixo, 20 IBUs limpos, e a textura é levemente cremosa. Dai pra frente, uma Pale Lager bastante aromática (para o estilo) e muitíssimo refrescante, que cumpre o que promete, com louvor, caprichando na entrega de notas derivadas de lúpulo. No final, amarguinho refrescante. No retrogosto, doçura maltada e refrescancia.

Morada Lupulicia
– Produto: American Pale Ale
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 4.7%
– Nota: 3.01/5

Lohn Bier Sour IPA
– Produto: Sour
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 4.5%
– Nota: 3.33/5

Dogma Dasein
– Produto: German Pils
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 3.21/5

Trilha Sorte de Principiante
– Produto: Imperial IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 9.2%
– Nota: 3.62/5

Wäls Madlab Beetnik Flower
– Produto: Belgian Tripel Barrel Aged
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 9%
– Nota: 3.75/5

Wäls Madlab 20 Barrel
– Produto: Flanders Red Ale
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 8.1%
– Nota: 3.99/5

Trilha Néctar White Oak
– Produto: American IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 7%
– Nota: 4.04/5

Dogma Edge
– Produto: Imperial IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 9.1%
– Nota: 3.91/5

Lohn Bier Catharina Dark
– Produto: Catharina Sour
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 3.5%
– Nota: 3.34/5

Morada Easy Ale
– Produto: Summer Ale
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 4.7%
– Nota: 3.03/5

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