Boteco: Cinco cervejas belgas

por Marcelo Costa

Começando uma série de cinco belgas por Vaux-sur-Sûre, na província de Luxemburgo da Valônia belga, casa da Brasserie de Bastogne, criada em 2008, com sua BPA, a Bastogne Pale Ale, uma Belgian IPA cuja receita que une malte Pils, Pale Ale e trigo espelta além dos lúpulos Warrior, Hallertau Hersbrucker e Cascade. De coloração âmbar com traços de amarelo dourado e creme branco espesso de boa formação e média alta retenção, a Bastogne Pale Ale exibe um aroma que combina intensa presença de mel e caramelo com notas herbais e florais. No paladar, doçura deliciosa de mel no primeiro toque abrindo-se com leve guinada de lúpulo trazendo herbal e picância além de sugestão de cereais. O amargor é médio, e os 40 IBUs que a casa adianta parecem até excessivos (a sensação é de que se chegar a 30 é muito). A textura é leve seguida de cremosidade. Dai pra frente, uma Belgian IPA comportada, nada arisca, e perfeita para dias quentes. No final, amarguinho, herbal e mel. No retrogosto, mais mel e leve floral.

De Vaux-sur-Sûre para Anzegem, cidadezinha de cerca de 14 mil habitantes no Flanders Ocidental (mais próxima da fronteira com a França do que da capital Bruxelas) que abriga a Brouwerij ’t Verzet, que retorna ao site com sua Golden Tricky, uma Belgian IPA Single Hop do lúpulo australiano Ella. Com uma cor meio amarela, meio âmbar, e creme branco majestoso, espesso, de ótima formação e retenção, a T Verzet Golden Tricky apresenta um aroma adocicado, com bastante sugestão de mel – o site oficial orienta a não se enganar com isso, pois o perfil é mais “amargo”, segundo eles. A ver – e também, de picancia moderada (levedura). Na boca, frutado no primeiro toque (pêssego) seguido de mel e de um amargor bastante comportado – pode até ser intenso pra belga, mas quem conhece a escola American IPA sabe que essa lupulagem aqui é “forte” para belgas, alemães e ingleses, apenas. A textura é cremosa e levemente picante. Dai pra frente, doçura de mel, leve presença de cereais e pêssego mais um leve toque cítrico. O final é doce e um tiquinho amargo. No retrogosto, pêssego, caramelo e picancia leve. Impressiona a completa “ausência” dos 7.5%, excelentemente inseridos.

De Anzegem para Melle, cidadezinha de cerca de 10 mil habitantes no Flanders Ocidental próxima de Gent e Bruges que abriga a Brouwerij Huyghe, também conhecida como Brouwerij Delirium Tremens, que já passou por aqui com sua linha clássica e agora retorna com a Argentum, uma Belgian IPA feita para comemorar os 25 anos do lançamento da primeira Delirium Tremens. Na receita, malte Barley, trigo e seis lúpulos made in USA (com direito a dry-hopping). O resultado é uma cerveja de coloração âmbar clara com creme bege de excelente formação e retenção. No nariz, bastante caramelo, leve frutado cítrico (casca de laranja) e destacado herbal resinoso (pinho) além de condimentação e floral. Na boca, doçura caramelada no primeiro toque com frutado cítrico e herbal resinoso buscando a atenção do bebedor numa luta que o segundo vence, com facilidade. Há percepção de condimentação, de amargor comportado (mesmo com os 49 IBUs) e 7.8% de álcool muito bem inseridos no conjunto. A textura começa picante e vai ficando cremosa. Dai pra frente, uma bela Belgian IPA que mesmo com lúpulos americanos mantém sua característica local em destaque. No final, doçura, herbal e condimentação, sensações que se estendem ao retrogosto, delicioso.

Do Flanders Ocidental para a região Brabante Flamenga, mais precisamente a vila de Averbode, na província de Scherpenheuvel-Zichem, a cerca de 50 minutos de Bruxelas, com uma cerveja da Abadia de Averbode, fundada em 1134, mas que recentemente fez parcerias com a Belgomilk e Milcobel para produzir queijo, com o Grupo de Padaria La Lorraine para assar pão, e com a cervejaria Huyghe para reviver a cerveja da abadia (a Huyghe é responsável por, entre outras coisas, a mítica linha Delirium Tremens). De coloração dourada cristalina com creme branco espesso de excelente formação e longa retenção, a Averbode é uma Belgian Strong Ale cujo aroma traz frutas (maçã e pera), doçura açucarada, herbal distante, bubblegum e leve toque de cereais. Na boca, doçura no primeiro toque seguida de sugestão de maçã, pera, herbal e mais doçura. O amargor é baixinho (a doçura, apesar de não soar intensa, domina), a textura é levemente picante e os 7.5% de álcool estão muito bem inseridos. Dai pra frente, uma cerveja deliciosa, que segue o padrão de Strong Ale belga, sem tirar nem por. No final, doçura e maçã. No retrogosto, calorzinho alcoolico, doçura de açúcar, maçã, pera e leve herbal.

Ainda no Flanders Ocidental belga, mas saindo de Averbode para Oedelem, cidadezinha colada em Bruges que abriga a cervejaria Vliegende Paard Brouwers, que encerra este quinteto belga com a sua Préaris Quadrocinno, uma Belgian Quadruppel com adição de café da Costa Rica. De coloração âmbar turva com creme bege espesso de bela formação e longa retenção, a Préaris Quadrocinno apresenta um aroma com sugestão intensa de caramelo, caramelo tostado e leve baunilha. O café aparece de maneira bem suave e agradável no nariz. Na boca, a primeira grande surpresa: o caramelo chega antes no primeiro toque, mas no microssegundo seguinte, o café surge a assume posição de destaque, delicioso, remetendo a cold brew. O amargor é de médio pra baixo e os 10% de álcool estão belamente inseridos no conjunto, de maneira a não incomodar o bebedor. A textura é suave desejando ser sedosa com leve picância. Dai pra frente, uma Quad de personalidade, com o café marcando presença intensa e dividindo as atenções com o caramelo. No final, café. No retrogosto, cold brew, café, caramelo e calor.

Balanço
A Bastogne Pale Ale é uma Belgian IPA comportada, com deliciosa sugestão de mel e leve floral. A T Verzet Golden Tricky segue o mesmo caminho, mas me soou mais bem resolvida. Melhor ainda é a Delirium Tremens Argentus, uma Belgian IPA danada de boa, com condimentação, lupulagem e doçura deliciosamente equilibradas. A Averbode é mais uma boa cerveja belga da Huygue, que não traz nada de novo, mas é uma delicia. Fechando o quinteto com a Préaris Quadrocinno, uma bela Quad com café bastante presente. Delícia!

Bastogne Pale Ale
– Produto: Belgian IPA
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 3.29/5

T Verzet Golden Tricky
– Produto: Belgian IPA
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 7.5%
– Nota: 3.38/5

Delirium Tremens Argentum
– Produto: Belgian IPA
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 7%
– Nota: 3.49/5

Averbode
– Produto: Belgian Strong Ale
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 7.5%
– Nota: 3.39/5

Préaris Quadrocinno
– Produto: Belgian Quadruppel
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 10%
– Nota: 3.60/5

Leia também
– Top 2001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
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