Ao vivo: Luedji Luna e DJ Nyack, no Sesc Pompeia

Texto por Renan Guerra
Fotos por Fernando Yokota

Luedji Luna vem construindo uma carreira e um público bastante sólidos nos últimos anos. A cantora baiana, radicada em São Paulo, não se tornou o hype de uma estação nem nada disso, ela foi galgando seus passos de forma calma e dando tempo ao tempo: em 2017 lançou seu disco de estreia “Um Corpo no Mundo”, produzido através de um financiamento coletivo. De lá pra cá, ela conquistou um público amplo e um respeito de seus pares – Linn da Quebrada e Letrux, por exemplo, são assumidamente fãs. Além disso, Luedji tocou nos mais diversos palcos e tem colocado seu nome em alguns dos mais importantes festivais nacionais – está inclusive escalada para o Popload Festival de 2019, onde tocará ao lado do Ilê Ayiê, e anunciou sua primeira turnê internacional com shows no Canadá, Holanda, Alemanha e Portugal.

Artista atrelada muito fortemente à MPB e aos instrumentos acústicos, Luedji começou a explorar os ritmos eletrônicos no ano passado, ao lado de DJ Nyack, quando os dois lançaram um remix de “Banho de Folhas”, acompanhados do rapper gaúcho Zudizilla. Essa parceria foi start para o que se tornaria o EP “Mundo”, lançado recentemente nas plataformas digitais e que conta com participações diversas de gente como Tássia Reis, Djonga e Rincon Sapiência. É esse novo projeto que foi apresentado no palco da Comedoria do Sesc Pompeia, em dois shows esgotados no primeiro final de semana de junho.

DJ Nyack

Na atividade desde 2003 e parceiro de primeira hora de Emicida, com quem trabalha junto desde 2008, DJ Nyack é figura fundamental para o rap e para a música negra feita em São Paulo nos últimos muitos anos, por isso sua união com Luedji a aproxima ainda mais do rap e traz contornos novos à sonoridade de ambos: em “Mundo” as canções de Luedji são refeitas sob uma ótica mais eletrônica, que remete ao rap, mas que flerta com gêneros diversos como o neo soul, o trip hop e a IDM. No palco, os dois juntos fizeram um grande baile black no Sesc, com direito a participação de Tássia Reis, Rincon Sapiência, Zudizilla, Stefanie e o norte-americano Moe Mocks.

Rincon Sapiência

Luedji passou pelas cinco faixas do EP, contando com a participação ao vivo dos convidados, porém também abriu espaço para que cada um deles cantasse alguma de suas canções, em momentos em que a cantora ficava apenas curtindo no palco ou servindo de backing vocal. Simbólicos estes momentos em que ela chamava esses artistas ao palco e os apresentava com um carinho e uma admiração inegáveis. É extremamente inspirador ver que esse projeto de Luedji e Nyack conseguiu congregar tantos artistas em seu entorno e, mais que isso, os dois se preocuparam em criar um encontro raro, em que todos os artistas presentes se divertiam no palco juntos.

Stefanie

A poesia de Luedji funciona de forma perfeita ao lado das batidas eletrônicas, tanto que ganha contornos classudos em faixas com “Acalanto” ou “Dentro Ali”, mas também conversam de forma singular com o rap nos versos fortes e dolorosos de “Cabô”, por exemplo. Quando ela declama “Iodo + Now Frágil”, o momento forte se torna único: o texto violento e de resistência se torna quase um mantra com a batida eletrônica. Luedji e Nyack ainda apresentaram uma nova versão de “Dentro Ali”, em parceria com Moe Mocks, produzida durante um encontro entre eles no SXSW, em Austin, nos EUA; essa nova versão é o coroamento dessa nova fase de Luedji, flertando com a música eletrônica da melhor forma.

Luedji e Tássia Reis

No final do show, todos os convidados ficaram reunidos no palco, entoando versos diversos de suas canções enquanto Luedji e Nyack comandavam uma espécie de pregação laica, em que a música era o cerne. Nesse final, por exemplo, Luedji cantava o refrão de “Ready or Not”, do Fugees, enquanto os rappers soltavam suas rimas, num daqueles momentos especiais que mereciam ser registrados: sete artistas negros, de diferentes backgrounds, dominando um dos mais importantes palcos de São Paulo e apontando diferentes caminhos para o futuro da música e da cultura negra no país.

Zudizilla

O lançamento ao vivo de “Mundo” representa, claramente, o início de um novo momento na carreira de Luedji, em que ela parece aberta a explorar sua voz e seu canto em possibilidades novas. A MPB, o rap e a música eletrônica aqui convergem para que o discurso e a poesia de Luedji se tornem mais amplos, mais diversos e a resposta do público que lotava o show foi a melhor possível, mostrando que a cantora está em fase ótima e que devemos ficar de ouvidos atentos ao que ele tem a nos mostrar.

– Renan Guerra é jornalista e escreve para o Scream & Yell desde 2014. Também colabora com o Monkeybuzz
– Fernando Yokota é fotógrafo de shows e de rua. Conheça seu trabalho: http://fernandoyokota.com.br/

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