Três discos: Mark Morton, Ashes of Ares e Overkill

Resenhas por Paulo Pontes

“Anesthetic”, Mark Morton (WPP Records/Spinefarm)
Mark Morton, guitarrista da banda Lamb of God, já mereceria ponto positivo por brindar os fãs com “Cross Off”, faixa de abertura de seu primeiro disco solo, “Anesthetic” (2019), pelo fato da música ser a primeira gravação inédita a contar com o vocalista Chester Bennington (Linkin Park) após sua morte, em 20 de julho de 2017. “Cross Off”, que ainda conta com a cozinha do Trivium, formada pelo baixista Paolo Grogoletto e o baterista Alex Bent, é excelente e traz os vocais rasgados de Chester muito bem executados. Mark revelaria em entrevista à Kerrang! que o vocalista estava “animado por fazer algo mais pesado do que estava fazendo com o Linkin Park, e por, principalmente, gritar mais. A música significou muito para ele, foi algo especial”. Não bastasse esse grato presente aos fãs de Chester Bennington, o guitarrista do Lamb of God foi além e produziu um álbum muito bom e repleto de participações de outros grandes nomes. O disco é calcado em uma sonoridade moderna, é pesado e, ao mesmo tempo, melódico. A diversidade dos vocalistas ajuda muito na construção de “Anesthetic”. São 11 no total, todos com timbres bem distintos, o que, de certa forma, favorece à audição. Algumas músicas mostram como Mark Morton é um compositor que vai muito além do metal extremamente pesado praticado por sua banda, como é o caso, por exemplo, de “Axis”, que traz a voz rouca de Mark Lanegan numa faixa com uma introdução focada nos violões e uma pegada quase stoner. Outros destaques são “The Never”, com participação de Chuck Billy (Testament) — uma das maiores vozes do thrash metal de todos os tempos —, a visceral “Back From The Dead”, cantada pelo vocalista do Buckcherry Josh Todd, e “The Truth is Dead”, que finaliza o disco e traz o parceiro de Mark na banda Lamb of God, o vocalista Randy Blythe, e Alissa White-Gluz — é incrível a quantidade de participações especiais que a vocalista do Arch Enemy tem feito nos últimos anos. Enquanto o LoG faz uma pausa por período indeterminado, o público tem a chance de conferir um baita disco lançado por Mark Morton.

Nota: 8

“Well of Souls”, Ashes of Ares (Rock of Angels Records)
Cinco anos após seu bom autointitulado álbum de estreia, eis que a Ashes of Ares, banda capitaneada pelos ex-Iced Earth Matt Barlow e Freddie Vidales, dá as caras novamente com seu mais recente disco de estúdio, “Well of Souls” (2018). E trata-se de mais um ótimo trabalho que mostra que a banda já apresenta uma identidade estabelecida. Enquanto Barlow assume, sempre com muita competência, os vocais, Vidales é o responsável pelas guitarras e linhas de baixo. A bateria ficou a cargo de Van Williams, ex-Nevermore. Tão pesado quanto seu antecessor, “Well of Souls” traz um metal coeso, riffs muito bem construídos e os potentes vocais de Matt Barlow, agora muito mais diversificados que outrora. Algumas características das antigas bandas dos integrantes — principalmente do Iced Earth, claro — estão presentes, mas a banda não fica apenas à sombra do grupo liderado pelo guitarrista Jon Schaffer. Temos alguns toques a mais de metal progressivo por aqui, o que já pode ser comprovado logo na excelente faixa de abertura, “Consuming de Mana”, na qual Barlow coloca toda sua versatilidade de timbres a favor da canção. Outras faixas que enriquecem “Well of Souls” são “The Alien”, “Transcending”, “Spirit of Man” e a faixa que encerra o disco, “You Know My Name”. No geral, “Well of Souls” está longe de ser inovador, mas é um discaralhaço de heavy metal. Pode ouvir sem medo.

Nota: 8.5

“The Wings of War”, Overkill (Nuclear Blast/Shinigami Records)
Com uma discografia invejável, excelentes discos lançados nos últimos anos e sem tirar o pé do freio — são 19 álbuns de estúdio em quase 40 anos de carreira —, o Overkill, uma das mais respeitadas bandas do thrash metal, lança “The Wings of War” (2019), mais uma obra obrigatória para fãs do estilo. Essa é a estreia do baterista Jason Bittner (Shadows Fall, ex-Flotsam & Jetsam). E que estreia! O cara arregaça em seu kit e já mostra um entrosamento absurdo com o baixista D.D. Verni – confira, por exemplo, as faixas “Believe in the Fight”, “Distortion” e “A Mother’s Prayer”. O trabalho de D.D. Verni é sempre um destaque nos discos da banda norte-americana. Suas linhas de baixo são cativantes. O vocalista Bobby “‘Blitz” Ellszworth continua a todo vapor e não demonstra sinais de cansaço. Os guitarristas Dave Linsk e Derek Tailer criaram riffs interessantíssimos e solos muito bem executados, sem exageros. Os toques de metal tradicional, que sempre se mostram presentes nos discos do Overkill, podem ser conferidos em “Where Few Dare to Walk”, em que os guitarristas brilham. O lado mais punk, também presente na sonoridade dos caras, está explícito na veloz “Welcome to the Garden State”. É incrível como a banda soa com a mesma urgência e com o “sangue nos olhos” de início de carreira, mas com muito mais qualidade e com a experiência a seu favor. “The Wings of War” é um dos grandes lançamentos da música pesada nesse início de 2019. Os headbangers agradecem!

Nota: 9

– Paulo Pontes é colaborador do Whiplash, assina a Kontratak Kultural e escreve de rock, hard rock e metal no Scream & Yell. É autor do livro “A Arte de Narrar Vidas: histórias além dos biografados“.

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