Entrevista: Tony Babalu

por Marcelo Costa

Lendário guitarrista brasileiro que acompanhou os irmãos Vecchione durante décadas no Made in Brazil, tendo gravado com a banda os seminais álbuns “Made in Brazil” (1974), “Jack O Estripador” (1976), “Massacre” (1977) e “Paulicéia Desvairada” (1978), entre outros, Tony Babalu chega ao seu terceiro trabalho solo, “Live Sessions II” (2017), um álbum gravado ao vivo no formato quarteto no mítico estúdio Mosh, no bairro da Pompeia, em São Paulo.

“O Mosh é o estúdio ideal para esse tipo de trabalho por, entre outros fatores, conservar os equipamentos analógicos originais (muitos deles da década de 60) em perfeito estado”, conta Tony em entrevista ao Scream & Yell. De “Live Sessions at Mosh”, o primeiro volume lançado em 2014, apenas uma mudança: o baterista Franklin Paolillo passou as baquetas para Percio Sapia, que “se adaptou rapidamente com o Adriano Augusto (teclados) e o Leandro Gusman (baixo)”.

Em seis faixas inéditas tendendo ao blues, mas que também namoram o funk e a latinidade, “Live Sessions II” exibe um quarteto entrosado que valoriza o timbre metálico da Fender Strato 73 de Tony, comprada “do saudoso Wander Taffo”, conta o guitarrista, que compara o envelhecimento do instrumento ao uísque ou vinho: “Guitarras antigas não são meramente relíquias, o diferencial delas está na sonoridade singular de cada uma”, explica. No bate papo abaixo ele fala mais sobre o álbum, Fender Strato e Made in Brazil. Confira.

Pelo jeito, o “Live Sessions at Mosh” (2014) deixou você bastante satisfeito, certo, Tony? Afinal já está rendendo um volume II. Esses seis temas são todos novos?
Verdade, o projeto de gravar analogicamente e ao vivo acabou dando tão certo que naturalmente surgiu o consenso de todos da banda em ampliar o repertório, mantendo o mesmo conceito no “volume II”, o que acabou unificando as duas obras. Os temas foram compostos ao longo de 2016, elaborados durante os ensaios, e em alguns casos finalizados na própria gravação, por conta dos improvisos.

Novamente você gravou no Mosh. Por que esse estúdio em especial?
O Mosh é o estúdio ideal para esse tipo de trabalho por, entre outros fatores, conservar os equipamentos analógicos originais (muitos deles da década de 60) em perfeito estado, como compressores, mesas e sistema de captação em fitas de rolo, além de técnicos familiarizados e identificados com a proposta. Fundado no final da década de 70 no bairro da Pompeia, o Mosh é um dos raros estúdios que oferece a oportunidade de recriar os sons das décadas de 60 e 70 sem necessidade de recorrer a simuladores eletrônicos e outros “truques de estúdio”.

Gostaria que você falasse sobre sua paixão pela Fender Strato. Sempre foi ela?
Sempre foi ela, especialmente em gravações. A história dessa guitarra remonta a 1976 (!), quando a comprei do saudoso Wander Taffo, um dos maiores guitarristas que o Brasil já teve, e desde então o timbre metálico dela me conquistou para sempre. Tenho também muita facilidade em tocá-la, e para esse tipo de instrumento feito com madeira, a passagem do tempo conta a favor, funciona meio que como whisky ou vinho… Guitarras antigas (no caso dessa o ano de fabricação é 1973) não são meramente relíquias, o diferencial delas está na sonoridade singular de cada uma. Já tive e tenho outras guitarras, mas na hora de registrar algo ou mesmo tocar ao vivo a escolha final é sempre a mesma.

Uma das minhas faixas favoritas no disco é “Veia Latina”. Como ela surgiu?
Surgiu mais como uma “curtição coletiva”, uma daquelas “jams” de ensaio que acabam entrando no repertório despretensiosamente, e muitas vezes roubam a cena… A partir de um riff ou uma “levada” básica que pode ser interpretada como mambo, bolero, salsa ou mesmo rumba, “Veia Latina” favorece os improvisos, e a cada execução o resultado difere do anterior, tanto nos solos quanto no tempo final da música. É o momento do show e do disco em que a banda toca livre e todos têm o seu espaço, com poucas regras e convenções, uma festa para os músicos.

O “Live Sessions II” teve um pré-lançamento no Instrumental Sesc Brasil (que o leitor pode assistir logo abaixo). Você está levando para o palco a mesma banda que gravou o disco? Como foi esse show e como está o entrosamento (no Live Sessions I era o Franklin Paolillo na bateria, certo?) do trio que te acompanha?
Sim, no primeiro disco o batera foi o Franklin, meu amigo de infância e referência no instrumento, mas houve problemas de agenda e para o “Live Sessions II” entrou o Percio Sapia, outro grande músico e que se adaptou rapidamente com o Adriano Augusto (teclados) e o Leandro Gusman (baixo), sendo essa a formação atual da banda, tanto na gravação do “Live Sessions II” quanto em shows. O entrosamento foi instantâneo, muito pelo fato dos três serem exímios instrumentistas e terem as mesmas influências na formação musical, além da experiência profissional em outros trabalhos.

Você tem uma história enorme com o Made in Brazil. Há algo deles que você consegue identificar neste seu novo trabalho? O quão o Made é importante na sua vida?
Bom, Marcelo, o Made para mim (e para muitos outros músicos) funciona como uma escola permanente, pela autenticidade e fidelidade obsessiva dos irmãos Vecchione (Oswaldo e Celso) ao rock e ao blues de raiz, pela persistência e garra necessárias para manter uma banda de rock em um país como o nosso por 50 anos ininterruptamente, e por muitas coisas além disso, sendo essas duas as principais. Tenho a história dessa banda em meu DNA e me orgulho disso, no primeiro “Live Sessions” a música “Vecchione Brothers” é dedicada aos dois, e nesse segundo disco a que mais remete ao som do Made acredito que seja a faixa de abertura, “Locomotiva”.

– Marcelo Costa (@screamyell) edita o Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne

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