Três CDs: Blink 182, RHCP, Garbage

por Bruno Leonel

“California”, Blink 182 (BMG)
Superando o boom do pop punk na MTV no começo dos 2000, um incidente de quase morte sofrido pelo batera Travis Barker em 2008 e conflitos internos que resultaram na saída do vocalista Tom Delonge, eis que o Blink 182 chega ao sétimo disco da carreira com status de sobreviventes. Após um período de marés ruins, o grupo apresenta ao mundo este ensolarado e irregular “California”, cuja temática das letras, em grande parte, remete a memórias e anedotas do estilo de vida na Costa Oeste dos EUA. Há uma grande nostalgia, mas ela marca presença aqui da forma mais caricata imaginável. Com adição do novo vocalista Matt Skiba (Alkakine Trio) e produção assinada por John Feldmann (Goldfinger), o trio exibe um apanhado de faixas com grande apelo pop (mais até do que deveria) com uma produção que pesa a mão nos excessos, nos backing vocals e ‘nananas’. Há boas faixas como “Los Angeles” e o primeiro single, “Bored to Death”, no entanto, para uma banda que ‘amadureceu’ (como costumam dizer) e até experimentou nos últimos dois discos, tudo aqui soa acomodado e até insosso, como uma tentativa falha de recuperar a moral com o público adolescente que tanto os prestigiou no passado. O grupo ainda soa pop punk, embora as distorções tenham quase sido limadas na mix final. Há até lapsos (ruins) do clássico humor pueril do trio e das piadas de ‘quinta série’, como na insossa “Build This Pool” (que dura menos de 20 segundos) e a “incomentável” faixa final, “Brohemian Rhapsody”. No geral, “California” apresenta mais pontos positivos do que negativos – e convenhamos: podia ter sido pior – embora tudo soe mais como uma revisitação ao passado do que um passo à frente para a banda. O tempo dirá…

Nota: 6

“The Getaway”, Red Hot Chili Peppers (Warner)
Primeiro trabalho do grupo em 27 anos sem a produção de Rick Rubin, que cedeu o banquinho para Danger Mouse, e o segundo registro de estúdio com o guitarrista Josh Klinghoffer (Ataxia, Warpaint), que teve a árdua missão de substituir o excelente John Frusciante, “The Getaway” é um trabalho fraco que pode significar a entrada do RHCP numa fase pantanosa da carreira. Se no disco anterior, “I’m With You” (2011), o RHCP contrariou as mais negativas expectativas apresentando ao público um álbum com grandes canções e um interessante swing de percussão, isso deveria significar que, em um trabalho seguinte, a banda estaria ainda mais entrosada e teria tudo para entregar um disco ainda melhor, certo? Não! Se a teoria indicava bons ventos para o quarteto californiano, a prática apareceu para colocar os ‘pimentinhas’ de volta ao mundo real. A banda soa melódica como nunca, com vários teclados e pianos comandando boa parte das faixas deixando a guitarra praticamente como coadjuvante o tempo todo e muito mais mansa do que em qualquer outro trabalho da carreira do Red Hot, e isso não é elogio. O apanhado de 13 músicas abre com a faixa-titulo, “The Getaway”, que assume o posto de abertura mais fraca já vista em um disco da banda. O funk fica de lado (salvo “Go Robot”, um dos pontos altos do disco junto com a envolvente “The Hunter”) e o pop dos anos 70 parece ser a grande referência, seja nas entonações vocais (“Dark Necessities”, “The Longest Wave”) e até nas colaborações (sir. Elton John tocou piano em “Sick Love”). Com um disco fraco, e uma vez que as faixas novas comecem a tomar o lugar de composições antigas nos shows, valeria refletir se vale a pena continuar prolongando a discografia sem efetivamente apresentar material que ao menos queira ser ouvido em shows. Do jeito que está, tá difícil…

Nota 6,5

Leia também:
– “I’m With You” cumpre a expectativa do RHCP em surpreender (aqui)
– “By The Way” alcança a façanha de ser tão bom quanto “BloodSugar” (aqui)

“Strange Little Birds”, Garbage (Stunvolume)
O tempo parece apenas ter feito bem para o Garbage. Com 23 anos de carreira e um hiato fora dos palcos no meio do caminho, o quarteto segue hoje em sua melhor forma, como defende este belo e envolvente “Strange Little Birds”, produzido pela própria banda, sexto trabalho de estúdio do quarteto e segundo registro após o retorno em 2012. O Garbage tem uma trajetória respeitável! Formado por três produtores de responsa (Butch Vig incluso) e uma vocalista carismática (Shirley Manson), o grupo sempre soube unir nuances eletrônicas com o lado rock e uma sensibilidade pop bastante original que sempre os colocou nas paradas. Mesmo após tantos anos, os músicos ainda esbanjam criatividade e consegue entregar um repertório de canções à altura de seus melhores trabalhos, isso se este mesmo não for de fato “um dos” melhores trabalhos da banda. A primeira referência é “Version 2.0” (1998) e a segunda, o lado mais dark de discos como ‘Bleed Like Me” (2005). Tudo está no seu devido lugar, mas com uma carga lírica mais obscura, possivelmente resultado da passagem do tempo e do envelhecimento que consigo traz divagações sobre a vida, amor e perda. Descrito como “romântico” pela própria vocalista, que ainda definiu “Strange Little Birds” como “o disco que mais tem a ver com o nosso álbum de estreia”, o novo álbum junta faixas envolventes como “Empty” (que figuraria perfeitamente ao lado dos hits da banda nos anos 90) e “If I Lost You”, ecos de The Cure (“Blackout”), além da mais pura geleia real da eletrônica (“Night Drive Loneliness”, “Magnetized”) e doces candidatos à hit (“We Never Tell” e “We Can Stay Alive”). Envelhecer no mundo da música as vezes é perigoso, mas não no caso do Garbage, cujos anos de história servem apenas como aprendizado e até bagagem para abastecer ideias. Existe sim vida após hiatos e brigas, e muitas vezes estas são necessárias para que boa música possa continuar surgindo. Ainda bem! Agora é torcer para que a turnê passe aqui novamente. No palco você sabe que eles se garantem.

Nota 8,5

Leia também:
– Integrantes do Garbage estrelam a “banda dos mais bem vestidos” (aqui)
– Entrevista: Duke Erikson, Garbage (2012): “Estamos só no divertindo” (aqui)

– Bruno Leonel (https://www.facebook.com/silva.leonel.900) edita o site RubroSom

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4 thoughts on “Três CDs: Blink 182, RHCP, Garbage

  1. Rapaz, sei lá, achei esse LP do Chili Peppers bacana…nos discos anteriores o som dos caras embranqueceram…engraçado, senti um fio de esperança com esse som que fizeram…

  2. Impressionante a diferença de opinião entre vocês e a Revista Rolling Stones. Muito louco a diferença de percepção. Completamente opostas.
    Já escutei o álbum completo diversas vezes e realmente senti uma empolgação que não tinha a tempos com o RHCP.

  3. Mais um aqui para a lista de pessoas que curtiu; e achou esse álbum do RHCP bem agradável, ao contrários dos últimos que foram bem chatos e esquecíveis.
    Achei bem contraditório: cd do Blink ser irregular com mais pontos positivos do que negativos ganhou nota 6, já o fraco cd do RHCP ganhou 6,5.

  4. Não vi o texto da RS sobre o disco, mas é sempre positivo ter olhares diferentes do mesmo (Tenho amigos que gostaram muito aliás). A nota pode ter sido meio controversa, mas teve lá algo de pessoal também; Enquanto o do RHCP (Pelo menos pra mim) tem faixas muuuito melhores, individualmente, do que o disco do Blink, não é um disco que se sustenta como coleção ‘coesa’ de faixas… Tem muita música ali que não faria diferença. Poderiam por exemplo ter limado várias faixas e ter soltado um EP mais interessante – Mas realmente, é questão de opinião também.

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