O (eterno) retorno do Violent Femmes

por Marcelo Costa

O Violent Femmes é um trio de folk punk criado nos anos oitenta, que debutou com um álbum clássico (“Violent Femmes”, de 1983, que traz o hit de pistas indies “Blister in the Sun”) e seguiu, dai em diante, uma carreira errática, separando-se logo após o segundo álbum para retornar para um terceiro disco um ano depois, e seguir esse “casa e separa” pelos vinte e tantos anos seguintes. “We Can Do Anything”, novo registro do trio, é o primeiro álbum cheio do Violent Femmes em 16 anos, e merecia ser recebido com fogos de artifício.

O caminho para o novo disco começou a ser delineado quando o guitarrista e vocalista Gordon Gano e o baixista e vocalista Brian Ritchie voltaram a tocar juntos em 2013. O baterista original, Victor DeLorenzo, deixou o banquinho após duas longas temporadas conduzindo as pancadas da banda (1980/1992 – 2002/2009). Quem entrou no seu lugar foi Brian Viglione, que gravou tanto o novo disco quanto o EP “Happy New Year”, que sedimentou a volta da banda aos estúdios, mas já não integra o trio: John Sparrow é o baterista atual (sabe lá até quando).

Ou seja, já deu pra perceber que dividir a companhia com Gordon Gano e Brian Ritchie não é nada fácil (os dois, inclusive, trocaram elogios nada carinhosos durante o tempo em que a banda esteve inativa), mas o som que estes malditos cravam em “We Can Do Anything” é de colocar sorriso de orelha a orelha em fãs de rock caipira. Se juntarmos as quatro canções do EP “Happy New Year”, lançado no Record Store Day de 2015, o Violent Femmes colocou 14 músicas na praça em 11 meses, e esperamos que muitas outras canções venham.

A dançante “Memoir” (que já ganhou clipe oficial) abre o disco com guitarras fortes e Gordon Gano enfileirando “I don’t remember…” (o som da sua voz, seu livro favorito, qualquer coisa que você disse) e a festa segue com a festeira “I Could Be Anything” (é impossível não querer cantar o refrão junto), com vocais em coro, acordeom e Gano dizendo que adora lutar com enormes dragões, principalmente quando está entediado. “Issues”, uma das raras canções do disco que não é assinada apenas por Gano, é conduzida por uma linha matadora de baixo e cheira a cerveja.

Seguem-se a “católica” “Holy Ghost”, a baladinha calma “What You Really Mean”, as ótimas “Foothills” (“I know why I go to work / And I know sometimes I’m a jerk / But I can’t tell you why / I’m in love”, diz a letra) e “Traveling Solves Everything” (será mesmo?). Em “Big Car”, Gordon Gano capricha no sotaque caipira enquanto o ritmo volta a dar uma sossegada no folk “Untrue Love”. Para terminar o disco, o trio acelera o country com “I’m Not Done”, e a vontade imediata é começar tudo de novo.

No site oficial, Brian Ritchie e Gordon Gano ponderam que a banda voltou porque tinha algo a dizer. E observam: “Muitas bandas antigas voltam e tentam soar como as bandas novas. Não sentimos essa obrigação de atualizar o nosso som porque nunca fizemos um som atual”. Com o disco lançado, a banda emenda uma turnê que mostra a sede de palco do trio: em maio eles vão tocar em 15 cidades durante 21 dias. A turnê segue por junho e julho e será sonhar alto demais esperar o Violent Femmes no Brasil? Tomara que não, tomara.

– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne

Leia também:
– “We Can Do Anything” é comparável ao clássico disco homônimo de estreia (aqui)
– Gordon Gano reúne um time luxuoso em seu álbum de estreia solo (aqui)

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