Boteco: Cinco brasileiras de MG, RJ, SC, PR e RS

por Marcelo Costa

Lançada em junho de 2014, a Pezão Session Cacau é uma Session IPA dos mineiros da Wäls feita com exclusividade para a delikatessen Hipper Frios, localizada no bairro Cidade Nova, na capital mineira. Na receita, cacau especial e dry-hopping de lúpulos norte-americanos. Na taça, uma cerveja de coloração acastanhada com creme bege claro de boa formação e permanência exibe um aroma que equilibra agradavelmente notas cítricas suaves com a sugestão de cacau. Há, ainda, suave herbal e caramelo. Na boca, a textura é cremosa. No primeiro toque, doçura maltada. O amargor é baixo (o rótulo avisa 30 de IBU, mas não chega a 20) e o conjunto que se abre na sequencia mantém o equilíbrio com notas cítricas e herbais agradáveis derivadas da lupulagem dividindo espaço com caramelo e cacau, bastante presentes. O final é maltado, com presença de cacau. No retrogosto, mais caramelo e mais cacau, suaves. Muito boa.

Também lançada em junho de 2014, e também especial para um estabelecimento (no caso, o Bistrô Estação R&R, de Nova Brasília, no Conjunto de Favelas do Alemão, no Rio de Janeiro), a Complexo do Alemão é uma Premium American Lager produzida pela cervejaria Allegra, do bairro de Copacabana. A ideia, avisa o rótulo, é levar “a cultura cervejeira para a comunidade”. De coloração dourada com creme branco de boa formação e média permanência, a Complexo do Alemão apresenta um aroma que junta doçura maltada (caramelo) com off-flavour de DMS (milho cozido). Na boca, a textura é suave. O primeiro toque reforça a sugestão de doçura caramelada seguida de amargor baixo. Dai pra frente, uma simplesinha e tradicional Premium American Lager, com malte, caramelo e DMS. O final é maltadinho enquanto o retrogosto traz, além de doçura caramelada, leve DMS e algo de biscoito. Fraquinha, bem fraquinha.

Lançada em maio de 2015, a vencedora do 3º Concurso Cervejeiro Caseiro Bierland é fruto de uma receita caseira dos cervejeiros Carlos Henrique M. Silva e Alessandro Lins, de Vitória (ES): Bierland Manobier Strong Scotch Ale, uma Wee Heavy de coloração acastanhada, meio rubi, com creme bege claro de ótima formação e longa retenção. No nariz, doçura de malte tostado que sugere caramelo, leve frutas escuras (ameixas, uva passa) e distante percepção defumada. Na boca, textura cremosa. O primeiro toque traz rápida doçura caramelada seguida de forte sugestão de frutas escuras e nenhuma percepção dos 8.5% de álcool. O amargor praticamente não existe numa cerveja que segue oferecendo caramelo, ameixa e uva passa ao bebedor, escondendo muito bem o álcool. O final é maltado com um leve traço de vinho do Porto. No retrogosto, mais caramelo, mais frutas escuras, um pouco de vinho e nada de álcool. Ótima!

Lançada no começo de 2014, a curitibana Bier Hoff Jerimoon é mais uma integrante nacional do estilo Pumpkin Ale, para figurar ao lado da Sauber Pumpkin, de Mogi Mirim, e, esperamos, uma nova panelada da excelente Wäls Abroba. Na receita cinco maltes, polpa de abobora e especiarias. De coloração âmbar alaranjada com creme branco levemente alaranjado de boa formação e média alta permanência, a Bier Hoff Jerimoon apresenta um aroma com nítida presença de abóbora, em primeiro plano, e de especiarias (canela, noz moscada, gengibre e cravo) na retaguarda mais leve doçura de malte. Na boca, a textura é suave. O primeiro toque confirma a sugestão de doce de abóbora (nítida) com leve picância (especiarias). O amargor é baixo e o conjunto mantém tudo que o aroma anuncia, mas de forma delicada, suave. O final é maltadinho e dá-lhe abóbora. No retrogosto, mais abóbora e leve condimentação. Gostei.

Fechando o quinteto, a cervejaria cigana Perro Libre, de Porto Alegre, marca presença com a 803 Black Rye IPA, lançada no Dia Internacional da Mulher (8/03) para questionar: “até quando a discussão sobre uma cerveja específica para um gênero específico faz sentido e não carrega preconceito”? Direto ao ponto: mulher só pode/deve gostar de cerveja “leve” e “docinha”? Para provocar, os gaúchos prepararam uma Black IPA com alta lupulagem e presença marcante de torra. De coloração marrom com creme bege espesso de ótima formação e longa retenção, a 803 Black Rye IPA apresenta um aroma marcado pelo dry-hopping de lúpulos Citra e Amarillo, que colocam as notas cítricas em pé de igualdade com a percepção de torra derivada dos maltes (café, chocolate, ameixa). Na boca, a textura é cremosa e picante. O primeiro toque traz cítrico marcante seguido de café e amargor potente (78 de IBU), mas não exagerado, que segue em frente em meio a laranja, maracujá, café, chocolate e ameixa. O final é amargo e cítrico. No retrogosto, mais amargor cítrico. E café. Excelente.

Balanço
Abrindo essa sequencia de cervejas brasileiras com uma receita especial da premiadíssima Wäls para a delikatessen belo-horizontina Hipper Frios, a Pezão Session Cacau. A rigor, há uma leve contradição: Session IPA são cervejas de sessão, de baixo teor alcoólico, que buscam dar ao bebedor a oportunidade de permanecer mais tempo bebendo sem ficar alterado. Ou seja, é uma cerveja para se passar a tarde inteira bebendo. Porém, o drinkabilty da Pezão Session Cacau é comprometido pelo cacau, que aumenta a doçura da cerveja, o que pode enjoar. No meu caso, bebendo uma só, desceu maravilhosamente bem, ainda que soe fora do estilo. A Complexo do Alemão é absolutamente dispensável, uma Premium American Lager que tenta faturar na onda das “cervejas artesanais”, mas não consegue nem se livrar do DMS. Com o preço de uma dela (R$ 16 na época do lançamento) você compra duas Itapaiva litrão. Nesse caso, vá no custo beneficio. A Bier Hoff Jerimoon é mais uma boa opção de Pumpkin Ale nacional, e representa muito bem o estilo. Fechaando o quinteto, a melhor dessa sessão: Perro Libre 803 Black Rye IPA, uma Black IPA que combina muito bem as notas lupuladas cítricas com a tradiconal sugestão de café. Um capricho.

Wäls Pezão Session Cacau
– Produto: Session IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 3,9%
– Nota: 3,40/5

Complexo do Alemão
– Produto: Premium American Lager
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 2,07/5

Bierland Manobier Strong Scotch Ale
– Produto: Wee heavy
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 8,5%
– Nota: 3,40/5

Bierhoff Jerimoon
– Produto: Pumpkin Ale
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5,5%
– Nota: 3,32/5

Perro Libre 803 Black Rye IPA
– Produto: Black IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 7,4%
– Nota: 3,89/5

Leia também
– Top 1001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
– Leia sobre outras cervejas (aqui)
– Sobre todas as cervejas da Wäls (aqui), Bierland (aqui), Bierhoff (aqui), Perro Libre (aqui)

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