por Marcelo Costa
Texto publicado no fanzine Scream & Yell 5 de agosto/setembro de 1999
O melhor álbum de 1999 ou a formula perfeita para misturar Neil Young e Beatles, melodia e folk ou ainda, como falar de amor sem parecer piegas, em 15 aulas:
1) I Can’t Stand It – O álbum começa cadenciado, entre guitarras leves e teclados setentistas. A letra é antagônica pois se por um lado diz que “nenhum amor acontece por acaso”, também diz que “nossas orações não serão ouvidas novamente”. Talvez sejam a mesma coisa.
2) She’s a Jar – Baladaça de romantismo dilacerado e contagiante, impregnada de metáforas e com uma harmônica de partir o coração em duas partes. Jeff Tweedy, o líder da banda, assume que “quando eu esqueço como falar, eu canto”. E ele canta bem.
3) Shot In The Arm – Pianos e teclados conduzem essa linda canção em que Jeff diz que “talvez tudo que eu precise seja de um tiro em minhas mãos, algo em minhas veias”. Cortante, afinal, ela mudou e não é a mesma pessoa que era antes, quando ele a conheceu. Já aconteceu com vocês, caros amigos?
4) We’re Just friends – Emulando Paul McCartney, Jeff sofre com a separação, diz que vai voltar por não se imaginar sem ela, mas promete: “Nós seremos apenas amigos”. Tem jeito?
5) I’m Always In Love – O efeito dos teclados causam um delicioso estranhamento nessa faixa que abre com duas excelentes frases: “Porque me espanto com meu coração cheio de buracos e o sentimento esvaindo se meu cabelo continua crescendo?” Uau!!!
6) Nothing’s Ever Gonna Stand In Our Way Again – Outra canção contagiante. “Você tem razão e eu acredito, um beijo é tudo que precisamos”. A levada do violão folk, o arranjo dos teclados, uma pérola.
7) Piedholden Suite – Uma pequena suite mesmo. Antológica. Jeff se assume assustado, preocupado com os sonhos perdidos, afinal foi infiel. Mas a ama. Os teclados passeiam pela alma, rastreando lembranças, buscando memórias. Cruel.
8) How to Fight Loneliness – De timbres escuros, essa canção tenta nos ensinar a lutar contra a solidão: “sorria todo o tempo”, ela diz. E adianta?
9) Via Chicago – Na mais country canção do cd, Jeff começa dizendo “eu sonhei que matava você novamente esta noite, e me senti bem”. Todos os artistas ‘sertanejos’ deveriam ouvir isso e terem vergonha de si mesmos.
10) Every Little Thing – Se aqui e ali você sentiu um q de Beatles no ar, está canção alegre entrega de bandeja a influência. Deliciosa. Mesmo assim é duro lembrar que “toda pequena coisa que você faz parece melhor do que eu pudesse fazer”. É duro lembrar…
11) My Darling – Outro country arrebatador. Algo como “você dorme que eu espanto os sonhos ruins”. Durma.
12) When You Wake Up Feeling Old – A alquimia de violões e teclados rende mais uma canção inspirada. Essa é para aqueles dias em que a gente acorda achando que o tempo passou. Passou ?
13) Summer Teeth – A faixa título, assim como quase todas as outras canções, é um show de metáforas. E é a mais beatle. Nela o personagem vive dentro de um sonho que parece não significar grande coisa. Mas mesmo assim ele passa pelo verão, pelo suicídio, pelo outono, enquanto pássaros cantam…
14) In a Future Age – A canção que “encerra” o álbum tenta ser profética mas só consegue soar melancólica, triste mesmo.
15) Candy Floss – Não transcrita no encarte, essa canção acaba sendo a mais “pra cima” do álbum. Lembra demais Creedance Clearwater Revival e é uma ode a família.
16) Shot In The Arm – Uma segunda versão, mais densa, da canção que diz que ela mudou e que até o cinzeiro percebeu isso. E é o fim.