por João Pedro Ramos
Todo mundo acha que sabe cantar. Afinal, o chuveiro está aí para democratizar a cantoria, e lá todo mundo acha que é o novo Frank Sinatra ou a nova Etta James. Só que existe um porém: algumas pessoas são celebridades e possuem duas coisas que são receita para o desastre: dinheiro sobrando e puxa-sacos que vão dizer que tudo que elas fazem é lindo.
A combinação destes fatores é a principal responsável pelos famigerados discos de celebridades. Alguns são aturáveis, outros são puro chorume musical, algo que faz você querer enfiar uma agulha de tricô em cada ouvido para fugir de tal tortura. Infelizmente, os desastres musicais são mais frequentes que os acertos. Vamos a uma pequena lista de celebridades que lançaram discos. Prepare seus saquinhos de vômito: alguns momentos são nauseantes e não devem ser ouvidos por pessoas sensíveis.
Jackie Chan – Um dos mais famosos astros dos filmes de kung-fu do mundo, Chan começou a cantar nas músicas dos créditos de seus filmes em 1980, no filme “O Jovem Mestre do Kung Fu” (“The Young Master”). Desde então, Jackie lançou mais de 20 discos e 100 músicas, tendo cantado em cinco línguas diferentes. Se você curte música oriental, o som não é de todo mal, sendo até bem simpático. Ouça “Love Me”, que tem uma cara de Alpha FM:
Ana Maria Braga – Sim, Ana Maria Braga tem um disco! Sim, é tão ruim quanto você imagina. Claro, tem a participação do Louro José (R.I.P.) em uma música, como manda o figurino. Lançado em 2003, o álbum também conta com participações de Fábio Jr., Zezé di Camargo e Luciano, Leonardo e Xandy. Ouça por sua conta e risco:
Celso Portiolli – O apresentador do Domingo Legal pós-Gugu lançou “É Tempo de Alegria” em 1998, com músicas proféticas como “Que Bom Que o Domingo Chegou” (previu sua vida de sucessor de Gugu Liberato?) e o clássico “Amizades Virtuais”, que virou meme contando sobre a vida de um ~internauta~ lá no fim dos anos 90, “eu já conheço gente de todo lugar / já fui na França, no Japão, Madagascar / é só ligar na rede para viajar”.
Bruce Willis – O disco “The Return of Bruno” (e a gente nem sabia que o tal Bruno tinha ido pra algum lugar) saiu em 1987 pela Motown (SIM, você leu direito) e traz o eterno John McClane cantando R&B e blues junto com artistas do cacife de Booker T. Jones, Ruth Pointer e The Temptations. Com companhia como essas, é lógico que o som não é de todo mal, até que dá pra ouvir sem reclamar. A versão oitentona pra “Secret Agent Man” é impagável:
Joe Pesci – Tá, tecnicamente o disco não é exatamente de Joe Pesci, mas a voz é dele. É o que conta, certo? O álbum é assinado como Vincent LaGuardia Gambini, seu personagem em “Meu Primo Vinny” (“My Cousin Vinny”, de 1992) filme que rendeu um Oscar à Marisa Tomei. Bom, “Vincent LaGuardia Gambini Sings Just For You” é um disco com standards cheios de palavrões com a peculiar voz de Pesci. Aliás, antes de ser ator, Pesci era cantor. Sério!
Marília Gabriela – Marília Gabriela tem três discos lançados: dois autointitulados (de 1982 e 1984, respectivamente) e “Perdida de Amor”, lançado em 2002. E pra falar a verdade, é bem bacaninha. Ela sabe como controlar a voz pra não fugir da sua zona de conforto e aposta em músicas mais calmas que sustentam sua voz rouca. Até que rola, especialmente quando aposta na bossa nova.
Roberto Justus – Algum amigo inconsequente de Roberto Justus o chamou para cantar como convidado em seu show. Aí, segundo o release, “a brincadeira virou coisa séria” e Justus fez o CD “Just Between Us”, em tiragem limitada, que virou o disco “Só Entre Nós” em 2007, sendo vendido em grande escala. Justus quer pagar de crooner em versões de músicas como “Perhaps Love” e uma versão de “Something” que com certeza fez George Harrison se revirar em piruetas sem fim dentro de seu caixão.
Dado Dolabella – Este foi o disco que fez a grande treta encarniçada entre Dado Dolabella e João Gordo acontecer na MTV, “Dado Pra Você” (que Gordo chamou de “Dando Pra Você”). “O repertório do disco apresenta algumas letras com boas doses de romantismo”, diz a Wikipedia. O maior sucesso é “Vem Ni Mim”, que entrou na trilha da novela “Senhora do Destino”. O disco? Bom, o que você espera?
Robert Downey Jr. – “The Futurist” saiu em 2004, alguns anos antes de Downey Jr. ficar mais conhecido como Tony Stark. O disco conta com músicas autorais e dois covers: “Smile”, de Charles Chaplin (que Downey interpretou no cinema, aliás) e “Your Move / Give Peace A Chance Medley”, com a primeira parte de “I’ve Seen All Good People” do Yes. Não é ruim não, pra falar a verdade. O cara sabe cantar e manda bem, sem ficar inventando firulas. Usa bem sua voz, especialmente nas músicas que escreveu.
Amy Jo Johnson – Sim, a eterna Power Ranger cor de rosa e paixão platônica de muitos adolescentes da década de 90 lançou seu disquinho. Aliás, três disquinhos: “The Trans-American Treatment” (2001), “Imperfect” (2005) e “Never Broken” (2013). O som da moça é algo entre o rock e o folk de loja de conveniência. É bem OK no que se propõe a entregar.
Gilberto Barros – O Leão que surgiu na TV aberta para substituir Ratinho na Record tem vários discos, todos igualmente… bizarros. A capa de “Me Faz Um Carinho” é constrangedora. O rugir do líder do Sabadaço não é menos esdrúxulo. Uma das músicas que mais ficou famosa na ~internet~ é “Acorrentado Em Você”, que mostra bem o que o fã de Kasino faz em sua carreira musical.
David Hasselhoff – Além de correr por anos ao lado de mulheres de maiô vermelho em Baywatch (ou S.O.S. Malibu, se você assistia na Globo) e andar na Super Máquina, David Hasselhoff também canta. Bom, pelo menos ele tenta: o Hoff tem 17 discos lançados com músicas que chegaram a atingir o topo das paradas na Áustria, Alemanha e Suíça. É mole ou quer mais?
William Shatner – O eterno Capitão Kirk de Star Trek tem uma carreira musical nada menos do que bizarra. Seus discos são algo entre o spoken word e a poesia, e mesmo as covers de músicas conhecidas são transformadas em atuação vocal por Shatner. Ele tem cinco discos de estúdio e dois ao vivo, além de uma compilação de sucessos junto com Leonard Nimoy, o eterno Spock (que também lançou discos).
Paris Hilton – A patricinha mais conhecida do mundo também enveredou pelo caminho da música e vou ter que confessar um guilty pleasure aqui: eu gosto muito de “Stars Are Blind”, música de seu disco “Paris”, de 2006. Acho um reggaezinho pop muito simpático, divertido e bem produzido. Não tô nem aí. Gosto mesmo.
Muhammad Ali – Existem dois discos de Muhammad Ali: um como Cassius Clay. “I Am The Greatest”, lançado em 1963, é um spoken word, com a curiosidade de que em vez de as faixas aparecerem como “tracks” no disco, aparecem como “rounds”. E aí entramos no terreno bizarro do segundo disco, já como Ali: em 1976 saía “The Adventures Of Ali And His Gang Vs. Mr. Tooth Decay”, um disco que é quase uma ópera-rock sobre… escovar os dentes e o combate às cáries. É sério.
Sílvio Santos – Segundo o site oficial, são 33 discos, entre compactos e discos completos do patrão do SBT, contendo as famosas marchinhas que todo mundo conhece, sempre exaltando a alegria e o duplo sentido como em “Tem pipoca branca / Tem pipoca colorida / Pipoca bem pequena / E pipoca bem comprida / Vem cá meu bem / Que coisa louca / É colocar pipoca / Na sua boca!”) e “A pipa do vovô não sobe mais”, mas as marchinhas continuam de pé.
Sérgio Mallandro – RÁ! Esse aqui você conhece bem. Pois é, Serginho Mallandro gravou discos para crianças e adultos. Sua música “Vem Fazer Glu Glu” é uma pérola da música trash (eu, por exemplo, sei a letra inteirinha) e sua versão para “Farofa-fa” também é incrível. Foram por volta de 10 discos, sendo que Mallandro também gravou (PASMEM!) músicas sérias. Como… “Devolva-me”, com Aracy de Almeida. Tô falando sério:
Jennifer Love Hewitt – Talvez você não saiba que Jennifer cantou bastante em verões passados e tem quatro discos lançados: “Love Songs”, em 1992, “Let’s Go Bang”, em 1995, “Jennifer Love Hewitt”, em 1996 e “Barenaked”, em 2002. O som é aquele pop padrão bem produzido com voz feminina. Nada genial, mas nada vergonhoso, também.
Steven Seagal – Além de ser ator e mestre do aikido, Steven Seagal também toca guitarra. Ele mostra suas habilidades nos discos “Songs From the Crystal Cave” (com participações de Tony Rebel, Lt. Stichie, Lady Saw e Stevie Wonder) e “Mojo Priest”, de 2006. Tire suas próprias conclusões sobre o som, mas não deixe de conferir a breguice da capa dos discos.
Jeff Daniels – Você deve lembrar dele como o Harry de “Débi & Lóide”, fazendo uma dupla inesquecível com Jim Carrey, ou talvez pelo papel principal que lhe rendeu diversos prêmios em “The Newsroom”. Bom, Jeff lançou seis discos em sua carreira, e surpreendentemente, não são nada a ruins. Me parece que ele lança de maneira bem despretensiosa e as músicas refletem isso.
Eddie Murphy – Eddie Murphy conseguiu inclusive um certo sucesso com seus discos, sendo que rolou até uma parceria com Michael Jackson em “Whatzupwitu”, de 1993, com um clipe horrendo em chroma key. Lógico que existem momentos humorísticos, entre eles seu duvidoso primeiro single com famigerado nome “Boogie On Your Butt”.
Clint Eastwood – Ele atua. Ele dirige. Ele ganha Oscars. E, aparentemente, ele também canta. Em 1962, Eastwood lançou “Clint Eastwood Sings Cowboy’s Favorites”, disco em que dá um tostão de sua voz à clássicos das trilhas sonoras de westerns.
Maguila – Se Muhammad Ali pode fazer um disco inteiro sobre o combate às cáries, porque Maguila não pode lançar um de sambão? Tá certo que dicção não é um dos melhores atributos do boxeador, mas e daí? “Vida de Campeão” saiu em 2009 e contém covers de sambas de raiz e a música que dá título ao disco, baseada na vida do boxeador brasileiro.
Susana Vieira – Não vou falar sobre esse pois não tenho paciência para quem está começando no mundo da música.
Azulão – Vai dizer que você não lembra do Azulão? O ex-ajudante de palco do programa Ratinho Livre, da Record, tinha um hit trash chamado “Solta o Azulão”. Até aí, tudo bem, era uma brincadeira do programa, sem problemas. Mas aí lançaram um disco do senhor, com nada menos que DUAS versões da musiquinha. Haja saco.
João Pedro Ramos é jornalista, redator, social media, colecionador de vinis, CDs e música em geral. E é um dos responsáveis pelo podcast Troca Fitas! Ouça aqui.
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Caraca! Maldição, agora vou ter que ouvir algumas aí… ai, a felicidade da ignorância….
“obrigado”, scream!
A Piauí publicou na época do lançamento um review galhofa desse disco do Justus, e é uma preciosidade de texto. Dá pra procurar no Google
Baita dica!
Realmente, não conhecia, e o texto é sensacional! Valeu pela dica. Aqui o link: https://piaui.folha.uol.com.br/materia/nasce-um-classico/
Da lista só conhecia os discos da Marília Gabriela e do Willian Shatner, do Silvio Santos sei que existem mas nunca ouvi, os demais são novidades para mim. Mas, apenas os do Cassius Clay/Muhammad Ali que tenho interesse, os demais não tenho o desejo de ouvi-los. Mas, sempre é bom saber da existência deles.